Previsões do relatório Focus apontaram aumento mais elevado dos preços medidos pelos índices IGP-DI e IGP-M neste ano; a estimativa para o IPCA também subiu
São Paulo - A estimativa do mercado para a inflação voltou a crescer. Divulgado ontem, o relatório Focus, do Banco Central (BC) apontou que o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) e o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) devem ter altas significativas.
Para o IGP-M, a previsão dos analistas alcançou 8,34% ao final de 2016, ante 7,95% no levantamento da semana passada. Já para o IGP-DI foi calculada alta de 8,27%, frente a 7,97% no último relatório. Os dois índices são medidos pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
As mudanças nas perspectivas acompanham o aquecimento dos últimos índices, que superaram as expectativas do mercado. O IGP-M cresceu 1,33% no segundo decêndio de junho, ante 0,67% em igual período de maio. Enquanto isso, o IGP-DI teve alta de 1,13%, no mês passado, frente ao resultado de 0,36% em abril.
O motivo da alteração nas projeções foi a impressão de que devem acontecer novos repasses de custos para os preços, afirmou Eric Brasil, professor de economia da Faculdade Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP).
Segundo ele, esse movimento deve ser registrado, nos próximos meses, no setor de alimentos. "O efeito do clima frio, por exemplo, deve chegar ao varejo e já é esperado pelo mercado", disse.
Brasil ponderou que não é possível medir a intensidade desses reajustes. "Nem sempre todos os custos são repassados para o consumidor final. Na fase atual da economia, com a fraqueza da demanda, esse movimento pode não ser tão intenso."
Os resultados mais recentes já mostravam o impacto de grupos relacionados à alimentação nos preços. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), componente do IGP-DI, teve a alta de 0,31% para os alimentos processados entre os principais vetores para o avanço de 1,49% em maio.
Já o ramo de matérias-primas brutas, parte do IGP-M, sofreu impacto de aumentos nos preços da soja (13,04%) e das carnes bovina (0,09%) e suína (12,08%) no segundo decêndio de junho.
Estimativas
No top 5 do relatório Focus, que tem os consultados com maior índice de acerto nas previsões, os rascunhos para os preços são menos otimistas.
Os analistas mais bem cotados indicaram alta de 9,03% para o IGP-DI neste ano, ante previsão anterior de 7,75%. O desenho feito para o IGP-M foi o mesmo da semana passada: avanço de 9,20% em 2016.
Para o ano que vem, entretanto, as perspectivas do mercado melhoraram. A aposta dos consultados para o IGP-DI recuou de 5,60% para 5,59%. Para o IGP-M, houve baixa de 5,67% para 5,60%.
Já o top 5 diminuiu as estimativas para o IGP-DI de 2017, de 5,50% para 5,10%. A projeção para o IGP-M foi mantida: alta de 5,90% no ano que vem.
IPCA em alta
A perspectiva para a inflação oficial, em 2016, também avançou no último relatório. Os analistas indicaram que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve crescer 7,25% em 2016, frente à previsão anterior de 7,19%.
Assim como aconteceu com os IGPs, o desenho para o IPCA mudou após resultados mais elevados nos últimos meses. O índice avançou 0,78%, em maio, depois de registrar aumento de 0,61% em abril.
"O mercado estava otimista com a ideia de que a recessão traria a inflação para perto da meta [4,5%], mas a fraqueza econômica não está sendo o suficiente para fazer isso", disse João Ricardo Costa Filho, professor de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).
Segundo o entrevistado pelo DCI, os últimos comunicados do BC também influenciaram as expectativas do mercado. Divulgada na última quinta-feira, a ata mais recente do Comitê de Política Monetária (Copom) defendeu a manutenção da taxa Selic para frear o avanço dos preços.
O professor disse acreditar que o IPCA vai acumular alta de 7,50% neste ano. "Acho que a previsão do mercado ainda segue um pouco otimista", explicou. Para ele, seria necessário fortalecer o ajuste fiscal, promovendo uma redução maior dos gastos do governo, para segurar o avanço dos índices de preços.
A estimativa de Filho foi a mesma (7,50%) dos analistas top 5 consultados pelo Focus. A projeção de ontem destes consultados superou a aposta para a inflação oficial feita na semana passada (7,34%).
Veículo: DCI