Em meio a incertezas externas, Conselho Monetário não mexe na taxa
-BRASÍLIA E RIO- Mesmo com a perspectiva de preços controlados no ano que vem, o governo decidiu não mexer na meta de inflação. Ontem, o Conselho Monetário Nacional (CMN) determinou que o objetivo a ser perseguido pelo Banco Central em 2018 será de 4,5%, com uma margem de tolerância em 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, conforme antecipou O GLOBO na edição da última terça-feira.
Segundo o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Carlos Hamilton, os ministros do conselho (Fazenda, Planejamento e Banco Central) nem chegaram a discutir uma meta menor. O momento de incertezas em relação ao futuro da economia mundial impediu reflexões sobre adotar um objetivo menor para o BC perseguir.
— Os membros do conselho avaliaram a conjuntura doméstica e externa. Há muita incerteza no ambiente econômico atualmente e chegaram à conclusão de que era oportuno manter a meta com 1,5 (ponto percentual) de margem de segurança. Veem um ambiente com incerteza e nesse momento é importante convergir a inflação para a meta, que é um trabalho que está sendo conduzido pelo Banco Central — explicou Hamilton. TJLP MANTIDA EM 7,5% AO ANO Entre as incertezas que estão no radar da equipe econômica, está o real impacto da saída do Reino Unido da União Europeia. Por isso, a decisão foi tomada por unanimidade. Na reunião de ontem, os ministros decidiram, ainda, ratificar a meta para o ano que vem também no mesmo patamar.
Neste ano, ainda há uma margem de tolerância maior, de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo. Assim, o teto da meta é de 6,5%. Segundo a pesquisa semanal feita pelo Banco Central, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve encerrar o ano em 7,29%. Se isso ocorrer, o BC terá de escrever pelo segundo ano seguido uma carta para justificar o fracasso em sua missão. Neste ano, a autoridade precisou mandar a correspondência oficial para o ministro da Fazenda, porque a inflação chegou a 10,67% em 2015.
Na última terça-feira, o BC revisou suas projeções para a inflação neste ano, que subiu de 6,6% para 6,9%.
Para José Julio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV e ex-diretor do BC, a decisão de não mudar a meta foi correta.
— É uma decisão que merece ser aplaudida, porque os dados mais recentes têm mostrado que existe uma possibilidade concreta de a inflação poder convergir (para 4,5%). Um número menor significaria manter os juros por um tempo indefinido — afirmou Senna, que espera corte de juros a partir do fim deste ano.
Para Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, a decisão do CMN veio sem surpresas:
—Não teria qualquer espaço para reduzir meta. Você reduz metas quando tem expectativas ancoradas. Hoje, a gente está com inflação acima do teto da meta. Não existe espaço para reduzir. É coisa para o próximo governo.
Ontem, o CMN decidiu ainda manter a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) em 7,5% ao ano.
Veículo: Jornal O Globo