Representantes de Canadá, França e Reino Unido falaram sobre uma retomada do crescimento no País; eles também abordaram acordos comerciais e o crescimento da desigualdade social
São Paulo - Os cônsules do Reino Unido e da França e o embaixador do Canadá demonstraram otimismo com a economia brasileira em evento ontem . Segundo projeções do Bradesco, o PIB do País deve voltar a crescer no quarto trimestre.
"Acreditamos em uma retomada, talvez mais forte do que a que é esperada", disse Damien Loras, cônsul da França no Brasil, ao falar sobre as expectativas para o crescimento doméstico nos próximos anos. Após comentar que "o cenário permanece ruim", ele destacou uma "mudança de humor" em relação ao País, apontando uma melhora da confiança interna e externa sobre o futuro da economia brasileira.
A evolução das expectativas, seguiu Loras, está associada a "promessas críveis" de que reformas macroeconômicas, como o teto para os gastos públicos, avançarão nos próximos meses. O cônsul também elogiou a equipe econômica liderada por Henrique Meirelles e indicou um "desfecho anunciado" para a crise política, referindo-se à manutenção de Michel Temer na presidência.
Já Joanna Crellin, cônsul-geral britânica em São Paulo, ressaltou as projeções do Bradesco para o PIB do País nos próximos anos. "Um crescimento de 3% em 2018 é algo bom. E acontece mesmo sem mudanças importantes de competitividade, como melhoras em educação, infraestrutura e inovação."
Em linha com as análises de seus pares, Riccardo Savone, embaixador do Canadá no Brasil, destacou o fluxo de investimento entre as duas nações. Depois de falar sobre o "grande estoque" de aportes brasileiros recebidos pelos canadenses, ele apontou áreas promissoras para investidores dos dois países: "especialmente agricultura, mineração e ramos de inovação".
Acordos comerciais
Joanna falou sobre o impacto da saída do Reino Unido da União Europeia para a relação econômica entre o país europeu e o Brasil. De acordo com ela, os britânicos devem buscar novos acordos comerciais, o que pode beneficiar os brasileiros. "Em teoria, sim, [o Brexit] cria uma oportunidade para, no futuro, os laços entre os dois países se estreitarem", afirmou a cônsul.
Por outro lado, Loras não demonstrou muito entusiasmo em relação ao acordo entre Mercosul e União Europeia. "O apetite para esse tipo de acordo está diminuindo. Não sei se, daqui a dois anos, vai haver vontade política e apoio popular para tanto", disse.
Desigualdade
Em evento sobre competitividade no Brasil, realizado ontem no Centro Brasileiro Britânico, também foi abordado o avanço da desigualdade social no mundo e os impactos deste fenômeno. Além das autoridades citadas, Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, participou do debate.
"É cientificamente provado: a desigualdade está aumentando em velocidade significativa em todo o planeta", disse o especialista. Ainda que, nos últimos anos, o problema tenha recuado no Brasil, Barros defendeu os gastos públicos com programas sociais.
"Continuamos sendo um País com desigualdade alta. Sou totalmente contra a ideia de que precisamos desmontar o projeto de um estado de bem-estar social", afirmou. "O que precisamos é melhorar a eficiência dos gastos. Também é possível abrir a economia e manter políticas sociais competentes", acrescentou.
Sobre o Bolsa Família, Barros afirmou que o gasto público com o programa social "é ridículo, muito pequeno, quase nada". "Só o subsídio do BNDES para grandes empresas é duas ou três vezes maior que as despesas federais com o Bolsa Família", comparou.
Joanna também falou sobre desigualdade e relacionou o crescimento do problema social com o Brexit. Segundo ela, muitos britânicos foram prejudicados pela maior abertura econômica do Reino Unido nas últimas décadas.
"A globalização deixa algumas pessoas para trás", disse. Para a cônsul, o desafio global é aliar abertura econômica e criação de oportunidades. "Temos que reconhecer o impacto social [da globalização] e trabalhar para combatê-lo. Caso contrário, teremos uma rejeição a essa forma de desenvolvimento", apontou.
Savonne seguiu com a análise. "Hoje, não é o bastante apenas ampliar a economia, é necessário ampliar a economia para todos. Se isso não é feito, se há desigualdade, cresce o espaço para o avanço do populismo", disse.
Além do Brexit, os palestrantes mencionaram o fortalecimento de outros símbolos do populismo pelo mundo. Entre eles, o avanço da extrema direita na Europa e a ascensão de Donald Trump, candidato à Presidência dos EUA.
Veículo: DCI