Inflexibilidade dos aeroportos dificulta operação do varejo

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Vale a pena? Com custos até quatro vezes maiores que nos shoppings, terminais se apoiam no alto fluxo de passageiros e se mantêm rígidos na hora de renegociar aluguéis com os lojistas

 

São Paulo - Sonho para muitos empreendedores do comércio, operar um negócio dentro de um aeroporto no Brasil não é tarefa simples e pode até gerar conflitos. Além de o aluguel ser até quatro vezes mais caro em comparação a um shopping, os contratos são inegociáveis na maioria dos casos, tornando a operação, muitas vezes, inviável para muitos.
 
Para quem administra esses espaços, o maior fluxo de pessoas é o principal motivo para que ele seja mais valorizado e, por consequência, mais caro. Por isso, para quem pensa em abrir um negócio no aeroporto é importante ter a dimensão de que as vendas terão de ser maiores e a rentabilidade mais baixa.
 
Mesmo durante a crise econômica, concessionárias como a Gru Airport - Aeroporto Internacional de Guarulhos - e Infraero se mostraram pouco sensíveis às demandas dos lojistas. O resultado foi um número considerável de fechamentos e alta em taxas de vacância.
 
"Nós temos conhecimento de lojas que chegam a pagar de aluguel algo em torno de R$ 60 mil no aeroporto de Guarulhos. Em um shopping da capital paulista, por exemplo, esse custo chegaria a no máximo R$ 20 mil. Com a crise, esse problema se tornou algo ainda mais grave, já que as concessionárias não costumam ser sensíveis a negociações", explica o especialista em varejo e consultor da BA|Stockler, Guilherme Siriani.
 
Além de lidar com o alto custo do aluguel, varejistas do aeroporto citado por Siriani ainda têm de enfrentar outro problema: a queda no fluxo de passageiros, que entre 2014 - ano em que o Brasil sediou a Copa do Mundo - e 2015 caiu quase 1,5%, passando de 39,5 milhões de passageiros ao ano para 39 milhões de passageiros ao ano.
 
Esta foi a primeira queda no fluxo de transeuntes dos três terminais do aeroporto de Guarulhos dos últimos dez anos.
 
Procurada pela reportagem, a concessionária Gru Airport, que administra o local, não quis se pronunciar sobre o assunto.
 
Muito trabalho
 
Para quem já opera nesse tipo de local, a percepção é a mesma. "Nós ainda temos uma sinergia muito forte com o viajante e por isso nossa operação em aeroportos é viável. Mas, nas poucas vezes que precisamos dos administradores, foram pouco sensíveis às demandas", conta o fundador da rede de travesseiros e almofadas FOM, Sidney Rabinovitch.
 
Renegociar aluguéis ou fazer pedidos às administradoras costuma ser bastante burocrático e demorado, segundo o empreendedor. No caso da unidade da marca no terminal três do aeroporto de Guarulhos, a rentabilidade é se dá através de vendas maiores, na comparação com outros locais, e maior tempo de operação, já que uma das vantagens dos terminais aeroportuários é a possibilidade de manter a loja aberta por mais tempo.
 
De acordo com Siriani, da Stockler, em média, a varejista opera por 14 horas nesses terminais, enquanto em shopping e na rua o tempo médio é de aproximadamente 10 horas.
 
"As folhas salariais são maiores, a burocracia é maior, os turnos de trabalho são maiores. Só assim para que as vendas façam sentido frente aos custos de operação. No nosso caso em particular, tem dado certo", afirma Rabinovitch, da FOM.
 
Questionado pelo DCI se os preços dos produtos nas lojas aeroportuárias da rede eram maiores, o fundador garantiu que não. "Trabalhamos com o mesmo preço em todas as unidades. A rentabilidade se torna viável com as vendas maiores."
 
Além de três unidades no aeroporto de Guarulhos, a FOM possui lojas nos parques aeroviários do Rio de Janeiro (Santos Dumont) e de Fortaleza. Em breve, a rede deve abrir mais uma unidade no aeroporto do Galeão, também no Rio.
 
Pensando no fluxo maior de pessoas, a varejista de presentes Imaginarium prepara sua estreia no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, que acontece hoje (20). A rede também possui operações em Guarulhos e deve reinaugurar, em breve, o seu quiosque em Congonhas, que por motivos contratuais havia sido fechado.
 
"Apesar dos custos mais elevados, o fluxo maior de pessoas pelo local faz com que a conta feche. Também não precisamos e nem pretendemos alterar preços por este motivo. Os produtos têm o mesmo valor em todas as nossas lojas", argumenta o gerente de expansão da Imaginarium, Uggo Angioletti.
 
Atualmente a rede mantém mais de 200 unidades, entre quiosques e lojas, por todo o território nacional. A presença nos terminais aeroportuários, para Angioletti, é uma estratégia importante para a marca.
 
"Estamos observando oportunidades em outros aeroportos e aplicando os primeiros modelos de loja em outros locais. Fizemos uma análise bastante cuidadosa para efetivar esse plano em 2017, inclusive mapeando terminais, tanto administrados pela Infraero como os de concessionárias", relata.
 
Vacância cresce na crise
 

No terminal 3 do aeroporto de Guarulhos, ao menos seis empresas encerraram suas operações com problemas de receita em queda e custos de manutenção em alta. No terminal 2, a drogaria e perfumaria Globo, que operava há 30 anos no local, também se viu obrigada a fechar as portas.
 
No aeroporto internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais (PR), região metropolitana de Curitiba (PR), a taxa de ocupação dos espaços atual é de 81,1%, considerada baixa segundo especialistas.
 
Para a Infraero, no entanto, o índice está adequado, já que o principal terminal do aeroporto passou por uma recente obra de ampliação, que aumentou de 47 mil metros quadrados para 112 mil metros quadrados o espaço útil. A área bruta locável subiu para 7,1 mil metros quadrados.
 
"A Infraero vem participando de feiras, como ABF Franchising Expo, com o intuito de captar novos lojistas para operar no aeroporto", comentou a estatal, em nota. Só neste ano, 11 varejistas encerraram suas operações no local.
 
A expectativa da administradora é de que em 2017 os problemas sejam solucionados com o aquecimento da economia no País. "Automaticamente a publicação de editais para a concessão de espaços comerciais no aeroporto aumentará".
 
No Rio de Janeiro, a realização da Olimpíada segue atraindo lojas e marcas a abrir operações no aeroporto Tom Jobim.
 
Um desses casos é a rede Divino Fogão, que abriu um restaurante no local há poucos dias. A rede conta com o fluxo de passageiros no terminal para o sucesso da operação. Diariamente, 70 mil pessoas transitam pelo aeroporto.
 
Fonte: DCI


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