PREOCUPAÇÃO. Lojistas reportam que início de vendas de fim de ano estão aquém do esperado e torcem para que injeção do 13º salário traga o consumidor de volta às lojas, como o setor previa
São Paulo - "No ano passado, gastei R$ 2 mil em presentes. Em 2016, não vou passar de R$ 500", disse a dona de casa Venilda Nascimento que visitava região da rua 25 de março na última semana. A frase da consumidora revela a maior preocupação dos lojistas do comércio popular, que temem pelas vendas natalinas deste ano.
O setor, que esperava uma recuperação, já se contenta em pelo menos empatar com o movimento do ano passado. Segundo o gerente-geral da loja de calçados Global Shoes, que ocupa um dos maiores espaços na região da 25, Giovane Moreira, a visão da consumidora é compartilhada pelos milhares de visitantes que vão ao local em busca de preços baixos. "O cliente está cortando os gastos em função da crise. Estamos sentindo isso ao observar que o movimento nas nossas lojas até agora está 10% abaixo do normal para a época. Talvez o depósito do décimo terceiro ajude a animá-lo", torce Moreira.
Para atrair o cliente, que está menos otimista este ano, ele afirma que a rede prepara uma série de promoções que começou durante a Black Friday, na última sexta-feira (25). O objetivo é, ao menos, buscar igualar as vendas obtidas em 2015 e fechar o ano no azul. "Dezembro é sempre melhor. É quando o tíquete médio, que hoje está em R$ 350, aumenta um pouco. Isso ajuda bastante", explica. Outra loja que sente o menor número de consumidores nas ruas da região é a CB Acessórios, especializada em celulares.
Com quatro unidades no bairro, a meta da rede é ultrapassar em 10% as vendas natalinas deste ano. No entanto, o fluxo menor de visitantes nas lojas tem deixado o gerente-geral, Cléber Cabral, preocupado. "Temos menos gente na loja, mas os que entram estão comprando. A conversão está maior", ressalta. Antes do início do período de vendas de fim de ano, os vendedores das quatro unidades que a rede possui passaram por treinamento para melhorar o atendimento. "O resultado foi essa alta na conversão", lembra Cabral.
Um alento ao otimismo da rede é que o tíquete médio gasto por cliente subiu em relação a 2015. Se no ano passado o consumidor gastava cerca de R$ 45 por compra, este ano está desembolsando entre R$ 50 e R$ 70. Assim como a Global Shoes, a companhia decidiu participar da Black Friday para esquentar as vendas e limpar estoques. Os descontos chegaram a 30% em diversos itens da loja, como capinhas para celular, baterias externas e fones de ouvido.
"Pretendo aproveitar os descontos. Podiam prosseguir com as ofertas até o Natal", revelou o estudante Flávio Pimentel, que avaliava os produtos na vitrine de uma das lojas da empresa. Até mesmo camelôs têm demonstrado preocupação com a queda no fluxo de clientes na 25 de março. Um deles, vendedor de bolsas na região há seis anos, diz que o movimento é o menor das últimas temporadas.
"Já era para estar melhor à esta altura. Estamos no final de novembro, vamos entrar em dezembro. Geralmente você vê essa rua lotada e olha como está", afirmou o comerciante Moacir Nunes, apontando para rua que estava livre até para os carros. Diante do cenário, ele crê que as vendas sejam até 25% menores neste Natal, frente ao mesmo período do ano passado. Prevendo o insucesso, no entanto, o vendedor admitiu que estocou 20% menos produtos neste ano, a fim de evitar perdas maiores.
Mesmo lado, outra visão
Esperando um movimento maior nas ruas com a aproximação das festas, a União dos Lojistas da rua 25 de Março (Univinco) prevê melhoras nas vendas. No último feriado de 15 de novembro, a entidade se surpreendeu com o número de visitantes nas lojas da região, quando mais de um milhão de pessoas passaram pelo local. Já a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) demonstra cautela.
"A previsão é de que as vendas no comércio geral se igualem às do ano passado neste período. Isso seria positivo, visto que nos últimos anos o setor passou por dois finais de ano de quedas consecutivas nas vendas", analisa o assessor econômico da FecomercioSP, Fábio Pina. Apesar do varejo ter registrado queda nos índices de confiança do consumidor e do empresário do comércio em novembro, ambos calculados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Pina crê que em um cenário um pouco mais otimista, principalmente após o setor registrar o primeiro saldo positivo de empregos em outubro. Naquele mês, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram criadas 12,9 mil novas vagas, distribuídas entre varejo e atacado. Este foi o primeiro mês de outubro com saldo positivo no setor desde 2013.
"Esse já são sinais de que o setor não está mais caindo, mas melhorando lentamente. Acredito que o décimo terceiro, apesar de estar muito vinculado ao pagamento de dívidas neste ano, deva animar um pouco o comércio popular também. As pessoas não deixam de comprar, mesmo cortando gastos", comenta Pina.
Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, o Polo Saara, principal reduto do varejo popular na capital carioca, deverá concentrar grande parte dos consumidores que buscam economizar com os presentes. Para o líder dos lojistas da região, Toni Haddad, a estimativa é de um acréscimo de 15% nas vendas sobre o mesmo período de 2015. O número, no entanto, já foi de 20%, tendo sido revisto pelos lojistas por conta do fraco início de período natalino.
Assim como em São Paulo, a movimentação de consumidores no quarteirão do comércio popular fluminense ainda está aquém do que os comerciantes esperavam. A esperança de Haddad é de que os clientes estejam postergando as compras, mas que não deixem de fazê-las. "Ao que parece, elas [compras] acontecerão mesmo nas datas mais próximas ao Natal, quando o cliente já terá pesquisado e escolhido suas compras. Estamos torcendo para que essa reação aconteça o mais rápido possível", admite Haddad.
Fonte: DCI