Clima pode dar trégua para lavouras no ano que vem, após série de quebras de safra ocasionadas pelo final do fenômeno El Niño e entrada da La Niña
Brasília - O ano de 2017 promete desaceleração na geração de riquezas do campo. Uma análise da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgada ontem aponta para um crescimento de 2% no Produto Interno Bruto (PIB) do setor no ano que vem, inferior aos resultados obtidos em 2016. A previsão do órgão oficial é de que o PIB do setor feche este ano entre 2,5% e 3%, resultado considerado expressivo diante da recessão econômica enfrentada desde 2015. A agroindústria encerra este ciclo representando 23% do PIB total brasileiro e a tendência é que ainda patine. Ao lado do setor de serviços e distribuição, ela sentirá os efeitos da crise econômica pelo menos até o final de 2017, comprometendo um crescimento mais robusto da cadeia, avaliou a entidade.
No quesito clima, a expectativa é que o Brasil sofrerá menos. A safra de 2015/2016 foi marcada pela saída do fenômeno El Niño, caracterizado por seca na região Centro-Oeste e excesso de chuvas no Sul, provocando quebra de 10% na produção de grãos. Na temporada de 2016/2017 a ideia é recompor as perdas e alcançar para 215 milhões de toneladas. "Para o País ter crescimento superior a 1% em 2017, o agronegócio deverá ter bom desempenho no segundo semestre. Aprovada a regra do teto de gastos, o governo precisa mudar a regra da previdência. Caso contrário, a economia fica ameaçada. Fico mais preocupado com a situação política do que com o cenário externo", avaliou o economista chefe da consultoria MB Associados, Sérgio Vale, durante a divulgação do estudo da CNA.
O economista destacou ainda que o País deve enfrentar muitas dificuldades caso o governo do presidente Michel Temer não aprove o corte de gastos e a reforma da previdência - o que se tornou uma preocupação por causa da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de afastar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Protecionismo
Segundo o economista, a política protecionista anunciada pelo novo presidente norte-americano, Donald Trump, e a crise na União Europeia - com a saída da Grã Bretanha e a crise de países como a Itália, que está em recessão - servem de alerta para que o Brasil aposte na abertura de novos mercados. "O dólar deve ficar estável entre R$ 3,50 a R$ 3,60, o que é bom para as exportações. A China ainda vai crescer", diz.
A estimativa da CNA é de continuidade no crescimento do volume de exportações, com abertura de novos destinos para os produtos agropecuários e industriais. Em 2016, os produtos agropecuários deverão garantir um saldo comercial de US$ 72,5 bilhões. De janeiro a novembro, os 15 principais produtos agropecuários representam 38% do total das vendas externas do País.
A participação do setor agropecuário no PIB nacional passou de 21,5% no ano passado para 23% este ano, chegando a uma participação de 48% nas exportações totais realizadas pelo Brasil. Para 2017, a superintendente de Assuntos Internacionais da CNA, Lígia Dutra, defendeu como principais desafios à promoção da imagem do setor produtivo rural, a redução de barreiras tarifárias sanitárias e as negociações para abertura de novos mercados.
"O Irã é um grande potencial de desenvolvimento de mercado para 2017. Neste cenário em que os países estão adotando posição cada vez mais protecionista, Coreia do Sul e países asiáticos importam cada vez mais", destacou Lígia Dutra.
Abnor Gondim
Fonte: DCI - São Paulo