Preços da mandioca quase triplicam por baixa oferta e seca no Nordeste

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Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe e Piauí tiveram quebras de até 50% na produção de 2016. Cenário deve se manter pelo menos até a entrada da próxima colheita, entre março e abril

 



São Paulo - O desestímulo do agricultor em anos anteriores culminou em uma redução na oferta nacional de mandioca. Em 2016, a seca no Nordeste cortou pela metade a produção de alguns estados e pulverizou a demanda da região. O resultado agora é uma disparada nos preços.

 

Produtor no Paraná - segundo maior estado para a cultura no País - e presidente da Câmara Setorial de Mandioca e Derivados, Osvaldo Zanqueta, observa que tem comercializado a raiz por até R$ 660 a tonelada, enquanto o valor normal giraria em torno de R$ 250. "No Nordeste há farinheiro que encontre o produto a R$ 900", quase o triplo do preço praticado em outras regiões do País. A média calculada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) para a última semana, indica um salto de 151% na variação anual do valor a prazo da mandioca posta nas fecularias, a R$ 539,23 por tonelada (balizada a R$ 0,9377 cada grama de amido).


Por conta da estiagem, Pernambuco teve quebra de 54% na produção do ano passado. Os vizinhos, Rio Grande do Norte e Sergipe, marcaram baixas respectivas de 35% e 26%. Piauí também recuou, em 23,8%, de acordo com a análise mais recente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgada em dezembro e apoiada a informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Quando acontece isso a indústria nordestina se abastece com a matéria-prima de Estados como Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo", explica o vice-presidente da Associação Brasileira de Produtores de Amido de Mandioca (Abam), José Eduardo Pasquini.


O consumo excedente vem das processadoras de farinha, que não têm alternativas de matéria-prima. O produto é utilizado, principalmente, para a fabricação de massas e biscoitos, segmento que unificado responde por 26% do mercado da mandioca no Brasil, segundo a associação. Zanqueta, da Câmara Setorial, acrescenta que o pão de queijo industrializado e a tapioca (cujo consumo foi popularizado recentemente) também não possuem alternativas de amido para a confecção. Diferente dos frigoríficos e químicos, que podem ser atendidos pelo subproduto do milho.


"Estou colhendo [atualmente] 800 toneladas e os farinheiros praticamente leiloam nossa produção ainda no campo. Param os caminhões, e muitas vezes leva quem oferece o melhor preço", comenta o agricultor que é dono de 300 hectares, cuja produtividade atinge 35 toneladas por hectare. No Paraná, em geral, a média da colheita é de 28,11 toneladas por hectare, já representando um crescimento de 3,88% no ano passado, em relação a 2015, conforme a Conab. Em área plantada, houve retração de 16,5% no intervalo avaliado.

 


Cotações
A manutenção dos preços em patamares extremamente elevados deve se estender, pelo menos, até a entrada da próxima colheita, entre março e abril. No entanto, o pesquisador do Cepea especializado no setor, Fábio Isaias Felipe, enfatiza que não se sabe até quando o consumidor final pode aguentar os reajustes repassados ao longo da cadeia. "O mercado se encontra em um período de formação e reposição de estoques, fatores que colaboram para o aquecimento na demanda", pondera.


Em meados de 2012, as cotações transitavam na casa dos R$ 200 por tonelada, valor que desestimulou muitos agricultores quanto ao plantio. No ano seguinte, houve uma redução de 11% nas áreas semeadas no Brasil. Nos anos que se seguiram, as plantações avançaram, mas a produtividade foi sendo comprometida. Em 2016, houve alguma retomada e o otimismo se mantém, mas o presidente da Câmara Setorial alerta que as expansões precisam acontecer com prudência, sem comprometer o preço futuro do produto.


Nayara Figueiredo


Fonte: DCI - São Paulo

 

 

 


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