Cadastrados no MEI em Minas registram alta de 18% em janeiro
Há cerca de oito anos, Luciana Azevedo, de 34 anos, começou a fazer massas no quartinho dos fundos de seu apartamento, em Belo Horizonte. Ela havia se formado cozinheira pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), fez especialização na Itália e, de volta ao Brasil, começou a trabalhar como chef. Mas o trabalho não era o que ela queria. “Comecei a fazer a massa em casa. Para vender, batia de porta em porta no meu prédio”, relembra.
Hoje, a produção de Luciana continua artesanal, mas não é mais caseira. Na contramão da crise, o negócio de Luciana cresceu no último ano, exatamente quando a economia do País retrocedia. Hoje, ela está à frente da butique de massas Il Canto, instalada em uma casa onde funcionam fábrica e loja, no bairro Santo Antônio, região Centro-Sul de Belo Horizonte. Ela começou como microempreendedora individual (MEI) e já passou a ser microempresária.
Assim como Luciana, muitos brasileiros batalharam para empreender mesmo no cenário de crise e desemprego. Pelo menos é o que indica balanço do programa Microempreendedor Individual (MEI). Em Minas, o aumento de cadastros no MEI foi de 18% no comparativo de janeiro com o mesmo mês do ano passado, com cerca de novas 109 mil pessoas à frente de microempreendimentos. O número saltou de 613.378 para 722.573.
Já em todo o País, em igual período, o aumento chegou a quase 1 milhão de novos cadastros, aumento de 17%, passando de 5.650.723 para 6.610.419.
“Nessa época de crise, muita gente deixou de ir a restaurantes, mas continuou querendo comer algo diferente, mesmo em casa. Ofereço massas diferenciadas para as pessoas levarem para casa. Também vendo molhos e vinhos. Assim, minha freguesia cresceu”, diz Luciana Azevedo. Segundo ela, 500 gramas de massa recheada e o molho custam cerca de R$ 50 (R$ 35, a massa e R$ 15, o molho). O prato serve até três pessoas.
Delivery - Gabriela Lemos dos Santos, de 23 anos, também é exemplo de gente que arregaçou as mangas e vem enfrentando a crise de frente. Em julho de 2015, ela e o pai, Marco Antônio dos Santos, abriram o Ponto do Spaghetti, um delivery de massas que atualmente atende a 68 bairros de Belo Horizonte.
“Não contávamos que a crise fosse piorar. Para superar, tivemos que aumentar o preço. E, para não perder fregueses, apostamos em promoções e divulgação nas redes sociais. Também vendemos com aplicativos”, disse. Gabriela ainda não se sente à vontade para revelar o volume de vendas. O preço da massa é R$ 14,90, havendo variação quando é pedido algum acréscimo.
Gabriela se formou em fisioterapia e, mesmo tendo ofertas de emprego, optou por empreender junto com o pai, que é aposentado e sempre gostou de cozinhar.
O administrador de empresas Heront Moreira, de 31 anos, deu início a seu empreendimento – uma loja de material de construção – justamente no cenário de crise. Ele conclui o curso de administração, no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), no fim de 2015. No início de 2016, abriu uma loja em Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
Para driblar a crise, passou apertos e abusou da criatividade. “Durante 90 dias eu trabalhei sozinho, sem ajuda de qualquer funcionário. Mas fiquei atento à demanda dos fregueses. Percebi que estavam carentes de novidades e comecei a apostar em produtos diferentes, alguns importados. Comecei a montar showroom e percebi que havia fregueses que queriam levar tudo, da ducha do banheiro até o vasinho de enfeite”, disse. Ele agora pretende ampliar os negócios e passar a vender eletrodomésticos também.
Heront sempre trabalhou no comércio e já havia tentado abrir outros negócios. Para ele, o curso superior foi primordial na sua nova empreitada. “Foi o que me deu segurança para negociar com fornecedores e clientes, calcular capacidade e demanda. Não dá para tomar decisões erradas”, avalia.
Ana Amélia Hamdan
Fonte: Diário do Comércio de Minas