Retração nos embarques de milho e minério de ferro prejudicou resultado em janeiro e fevereiro, mas petróleo, soja e outras commodities devem reverter esse quadro e gerar crescimento em 2017
São Paulo - O volume das exportações teve leve recuo, de 0,7%, no primeiro bimestre deste ano, mas especialistas apontam que o peso dos embarques deve avançar em 2017. Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), a maior parte dos 97,516 bilhões de quilos vendidos em janeiro e fevereiro foi representada por commodities (79,846 bilhões de quilos).
E foi uma queda de 2% no volume dos embarques de produtos básicos, na comparação com o primeiro bimestre de 2016, que puxou a baixa no peso total das vendas. "Foi registrado um recuo na exportação do milho no começo deste ano, porque existe um excesso de oferta [do grão] no mundo. Mas as outras commodities vão compensar essa queda nos próximos meses", avalia José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Nos dois primeiros meses deste ano, houve diminuição de 80,2% no peso dos embarques de milho, que recuou para 1,938 bilhão de quilos. Também foi vista baixa, de 0,6%, para o minério de ferro (54,647 bilhões de quilos). Entretanto, outros produtos básicos com destaque nas vendas brasileiras tiveram aumentos expressivos no começo de 2017. Foi o caso da soja (+81,8%, para 4,421 bilhões de quilos) e do petróleo em bruto (+65,4%, para 11,792 bilhões de quilos).
São esses dois produtos, inclusive, que devem puxar o crescimento do volume neste ano, indica André Mitidieri, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). "Outras commodities agrícolas, como o próprio milho, devem ter uma melhora no volume exportado nos próximos meses", acrescenta ele. Sobre a projeção para este ano, os especialistas apostam em um aumento do volume semelhante àquele registrado no confronto entre os 12 meses do ano passado e igual período de 2015. Entre janeiro e dezembro de 2016, foram exportados 645,3 bilhões de quilos, uma expansão de 1,2% sobre o ano anterior.
Industrializados
O cenário oposto foi projetado para a venda de manufaturados neste ano. Ainda que o volume exportado desses produtos tenha crescido no primeiro bimestre, os entrevistados não acreditam em um avanço no acumulado de 2017. "O viés é de baixa para este ano, principalmente porque foram vendidas plataformas de petróleo em 2016. Como elas têm peso elevado, dificultam essa comparação com o ano anterior", explica Castro.
Entre janeiro e fevereiro, foi registrado aumento de 7,3% no volume das exportações de manufaturados, que chegou a 8,146 bilhões de quilos. Dois dos itens do setor que geram maiores receitas tiveram avanços no período: automóveis para passageiros (+30,6%, para 91,8 milhões de quilos) e veículos de carga (+56,6, para 43 milhões de quilos). O aumento das negociações automotivas com a Argentina puxou o crescimento desses produtos, de acordo com Castro. Ele acredita que a trajetória positiva pode continuar, nos próximos meses, se a economia do país vizinho não enfrentar problemas maiores.
Os embarques de aviões, outro item relevante entre os industrializados, recuaram. Com a baixa de 24,3%, o peso caiu para 274 mil quilos. Entre as mercadorias semimanutafuradas foi vista alta de 5,6% e o volume exportado chegou a 8,649 bilhões de quilos no primeiro bimestre deste ano. Destaque para a venda de celulose (+ 4,2%, para 2,424 bilhões de quilos).
Receita em alta
Enquanto que o volume exportado por alguns setores perdeu força neste ano, o rendimento das vendas de quase todos os ramos econômicos aumentou.Entre os produtos básicos, por exemplo, houve alta de 41,6% na receita, que chegou a US$ 79,846 bilhões. O rendimento das três principais commodities - petróleo, minério de ferro e soja - subiu no período. Já a expansão para manufaturados foi de 8%, o que levou os ganhos a US$ 8,146 bilhões. As mercadorias mais importantes, como automóveis para passageiros, hidróxidos de alumínio e aviões, avançaram no primeiro bimestre. Assim, a receita total das exportações subiu 23,6% na comparação com os dois primeiros meses do ano passado, para US$ 30,381 bilhões.
Renato Ghelfi
Fonte: DCI