Melhora das projeções depende de maior rapidez para solução política

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São Paulo - A rapidez para encontrar uma solução da crise política determina a melhora das expectativas do mercado, necessárias para retomar os investimentos privados. Do contrário, será preciso uma política monetária mais agressiva, apontam especialistas.

 

Contudo, o Relatório Focus, divulgado ontem pelo Banco Central (BC), revela que os economistas do mercado financeiro estão apostando mais que a turbulência o qual a atual gestão de Michel Temer enfrenta não terá um fim rápido e que as reformas, como a Previdenciária, também não estão em um horizonte visível.

 

"Há um problema com os índices de confiança, tanto dos empresários, quanto dos consumidores. Eles não estão mostrando a velocidade de retomada que se imaginava [para esta fase do ano]. Fica uma agonia de não só quem será nosso presidente, mas como será a condução da nossa equipe econômica", explica o professor de finanças do Ibmec/DF, José Kobori.

 

"A retomada dos investimentos está relacionada com as expectativas [do mercado]. Uma solução rápida, como até uma eventual renúncia do presidente Michel Temer, somado a aprovação das reformas, seria positivo [para essa melhora das perspectivas]", avalia Pedro Raffy Vartanian, professor de economia do Mackenzie.

 

Neste cenário apontado por Vartanian, conjugado com uma taxa básica de juros (Selic) a 8,25% ou até 8,5% ao ano, permitiria que a economia brasileira avançasse até mais do que 3% em 2018.

 

Estimativas

 

No entanto, no atual contexto de incerteza que os brasileiros enfrentam, o Focus desta semana mostrou que a mediana das projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) reduziu, não somente de uma semana para outra, como também desde que o dono da JBS, Joesly Batista, denunciou Temer em 17 de maio deste ano.

 

No documento do BC de 19 de maio, o mercado projetava crescimento de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2017, e de 2,50% para 2018.

 

No boletim divulgado ontem, essas perspectivas dos analistas estavam em alta de 0,34% e 2%, respectivamente, sendo que na semana passada, com relação a este ano, a previsão era de +0,39%.

 

De acordo com os especialistas consultados pelo DCI, como não há confiança em uma retomada mais rápida da economia, os empresários reduzem os preços, diminuindo desta forma, a inflação.

 

Na última sexta-feira (dia 7), o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) informou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho registrou a primeira deflação (-0,23%) desde igual período de 2006 e a menor também para o mês desde o início do Plano Real. Além de ser a taxa mais baixa desde agosto de 1998.

 

Apesar dos economistas não acreditarem que ocorrerão patamares tão negativos do índice que mede a inflação oficial nos próximos meses, IPCA ainda baixo e economia fraca abrem espaço e até pressionam por um corte maior da taxa de juros - hoje, em 10,25%.

 

Tanto que a previsão dos analistas do mercado financeiro para a Selic no fechamento do ano passou de 8,50% verificado há um mês (nível que foi mantido por 12 semanas seguidas), para 8,25% no Focus de ontem. Para 2018, também foi revista do mesmo patamar de 8,5% ao ano, registrado há quatro semanas, para 8%, na mesma base de comparação.

 

A perspectiva para o IPCA de 2017 é de terminar em 3,38% - contra 3,71% há um mês, e 3,46% há uma semana. E em 2018, é de 4,24% - ante 4,37% e 4,25%, respectivamente.

 

"Em algum momento, a economia vai ter que se recuperar, independentemente do que vai ocorrer [impactos do processo político]. Mas também precisamos do andamento do cenário externo, também está incerto", lembra Vartanian.

 

Desconfianças

 

Estudo International Business Report (IBR), realizado pela auditoria e consultoria Grant Thornton, também colaboram para a desconfiança no cenário brasileiro. O levantamento mostra que o otimismo do empresário brasileiro em relação aos negócios para os próximos 12 meses atingiu 32%, queda de 18 pontos percentuais contra trimestre anterior.

 

Porém, alguns indicadores apresentaram significativas expectativas de crescimento como rentabilidade (68%, +33 pontos percentuais); investimentos em pesquisas (47%, +26 pontos); empregabilidade (48%, +23 pontos; exportação (24%, +17 pontos) e receita (72%, +11 pontos percentuais).

 

"Os indicadores positivos mostram que os empresários começam a se movimentar para a retomada do crescimento após a recessão dos últimos anos. Por outro lado, os mesmos empresários ainda demonstram cautela", destaca Daniel Maranhão, sócio líder da área de consultoria e auditoria da Grant Thornton.

 

 

Fonte: DCI São Paulo


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