São Paulo - O Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou, ontem, um corte de 1 ponto percentual na taxa básica de juros. Com isso, a Selic recuou para 9,25% ao ano, o menor patamar desde outubro de 2013, quando a taxa estava em 9% ao ano.
Em nota divulgada no final da tarde, os diretores do Banco Central (BC) justificaram a decisão unânime, que veio em linha com as expectativas do mercado, e minimizaram o impacto do atual quadro de instabilidade no País.
Depois de admitir um aumento da incerteza sobre a implementação das reformas, o Copom disse que foi visto impacto "limitado" nos índices de confiança dos agentes econômicos".
Já para os índices de preços, os efeitos dessas incertezas "não se mostram inflacionários nem desinflacionários", avaliaram os executivos do BC.
Eles voltaram a destacar o cenário externo - "tem se mostrado favorável" - e o comportamento da inflação - "permanece favorável com desinflação difundida".
Sobre a próxima reunião, os membros do Copom indicaram que o ritmo de flexibilização da Selic "continuará dependendo da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação".
Segundo analista consultado pelo DCI, o corte deve ser menor no próximo encontro do comitê. "Isso porque a inflação deve acelerar, nos próximos meses, por causa do aumento recente no PIS/Cofins sobre os combustíveis", explicou Miguel de Oliveira, diretor executivo na Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
O especialista também falou sobre a mudança de abordagem do Copom, que, em comunicado divulgado após seu encontro anterior, sinalizou para um corte inferior ao realizado naquela situação, de 1 ponto percentual. "Eles foram surpreendidos pela deflação de junho. Os efeitos da recessão voltam a ser maiores do que eles imaginavam e dão força ao corte nos juros."
É a primeira vez que a Selic chega ao patamar de um dígito desde novembro de 2013, quando estava em 9,5%.
Sem surpresas
Alguns analistas viam espaço para um corte maior na taxa básica de juros, mas já esperavam a decisão de ontem. "Ficaria surpreso com uma escolha diferente dessa. Se fosse decidir por um caminho distinto daquele que é esperado pelo mercado, o Copom provavelmente faria alguma sinalização antes, o que não aconteceu", disse José Pena, economista-chefe da Porto Seguro Investimentos.
Após afirmar que os recuos da inflação e do câmbio possibilitaram o corte de ontem, o entrevistado alertou que a situação das contas públicas pode influenciar no tamanho do ciclo de redução da Selic. "Se não houver melhora da questão fiscal ou um avanço das reformas, os cortes podem acabar mais cedo do que o previsto." No primeiro semestre, o governo central teve déficit de R$ 56,092 bilhões, o pior resultado desde o início da série histórica, em 1997, de acordo com dados apresentados ontem pelo Tesouro Nacional.
A Porto Seguro acredita que a taxa Selic chegará a 8% ao ano no final de 2017. Para isso, a instituição espera um corte de 0,75 ponto percentual no próximo encontro do Copom, marcado para setembro, e de 0,5 ponto percentual na reunião seguinte.
Gestora de renda fixa da Mongeral Aegon Investimentos, Patrícia Pereira considerou adequada a escolha do Copom. "Desde a última reunião do comitê, que ocorreu na época da divulgação da conversa do [Michel] Temer com o Joesley [Batista], os índices de confiança pioraram, o que aumentou a necessidade de um corte maior na Selic para incentivar o investimento." Na visão dela, a taxa básica de juros pode chegar a 7,75% ao ano até o final de 2017.
Repercussão
Diversas instituições divulgaram comunicados após a decisão do Copom. Para parte delas, o corte na taxa Selic poderia ser maior.
"Não há dúvida de que o Banco Central está reduzindo a Selic muito mais devagar do que poderia", indicou Paulo Skaff, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que ressaltou a desaceleração dos índices de preços neste ano.
À frente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Alencar Burti disse que a decisão foi acertada, mas o colegiado poderia ter feito "um corte mais ousado" dos juros.
Já o Itaú Unibanco acompanhou a decisão do BC e anunciou que vai "repassar integralmente" a redução dos juros a seus clientes. Na terça-feira, o Santander também divulgou a redução de linhas de crédito a pessoa física.
Fonte: DCI São Paulo