São Paulo - A ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem pelo Banco Central (BC), deu força à aposta de que a taxa Selic vai encerrar 2017 abaixo dos 8% ao ano.
Referente à reunião da semana passada, quando o Copom decidiu por uma redução de 1 ponto percentual na taxa básica de juros, o documento manteve a sinalização de que um corte da mesma magnitude pode acontecer no encontro de setembro. Com isso, a Selic chegaria a 8,25% ao ano já no mês que vem, e poderia cair mais nas reuniões marcadas para outubro e dezembro.
Pouco depois da divulgação da ata, o Itaú Unibanco apresentou nota com a previsão de que a taxa básica de juros chegará a 7,25% ao ano ainda em 2017, com um corte de 1 ponto percentual em setembro e dois cortes de 0,5 ponto percentual nas reuniões seguintes.
Especialistas consultados pelo DCI fizeram projeções semelhantes. "A inflação vai continuar muito baixa, mesmo com o impacto do aumento da energia elétrica e do combustível, o que abre espaço para uma Selic entre 7% ao ano e 7,25% ao ano", afirmou Eduardo Mekitarian, professor de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).
Sobre o futuro do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o colegiado do BC indicou que os aumentos do PIS/Cofins sobre os combustíveis e da conta de luz "não têm implicação relevante para a condução da política monetária".
O quadro econômico também favorece uma queda maior da economia, segundo Juliana Inhasz, professora de economia do Insper. "Os sinais de melhora na atividade seguem tímidos e o BC deve manter os cortes mais elevados na Selic enquanto a economia não reagir", indicou ela.
Assessor econômico da FecomercioSP, Fábio Pina ponderou que o IPCA acumulado em 12 meses deve cair nas medições de julho e agosto, o que favorece o corte de 1 ponto percentual na reunião de setembro, mas pode acelerar nos meses seguintes, o que pode afetar os encontros de outubro e dezembro do Copom.
Nos 12 meses encerrados em junho, o índice acumulou alta de 3%. Para o período terminado em julho, cujos dados serão apresentados na semana que vem, o mercado espera avanço de apenas 2,59%.
Na ata referente à última reunião, o Copom destacou diversas vezes a desaceleração dos preços e minimizou o impacto da incerteza - política e econômica - sobre o IPCA.
Riscos
Para a reunião de setembro, o BC sinalizou "uma possível flexibilização de mesma magnitude da adotada nesta reunião [de julho], mas que dependerá da permanência das condições descritas no cenário básico do Copom e de estimativas da extensão do ciclo".
De acordo com os especialistas, a trajetória da taxa básica de juros estará condicionada ao quadro político brasileiro, o que inclui a situação das reformas no Legislativo, e ao cenário internacional, que parece mais estável.
"O principal risco está relacionado ao avanço das reformas", afirmou Fábio. Segundo ele, o afastamento do presidente Michel Temer também poderia afetar a trajetória dos juros. "Um processo conturbado traria maior insegurança para o País", explicou.
Sobre a situação internacional, Juliana destacou que o presidente dos EUA, Donald Trump, poderia prejudicar a estabilidade global. "Isso se ele decidir cumprir as promessas mais polêmicas que fez durante a campanha."
Mais investimento
A redução da taxa de juros deve estimular os aportes financeiros mais favoráveis ao crescimento econômico, afirmaram os entrevistados. "Com uma maior estabilidade política e o recuo da Selic, os investidores devem deixar os títulos mais conservadores, atrelados aos juros, e buscar outras alternativas, como as ações", disse Fábio.
Para Eduardo, uma melhora dos aportes deve ficar para o ano que vem. "Em um cenário de juros baixos e maior estabilidade, o que poderia ocorrer no começo de 2018, os investimentos voltariam a acontecer, principalmente pelo setor privado, que segue em compasso de espera", disse ele.
Fonte: DCI São Paulo