São Paulo - O Indicador de Incerteza da Economia (IEE-Br), da Fundação Getulio Vargas (FGV), apresentou sua terceira queda consecutiva e chegou aos 119,3 pontos em setembro, baixa de 10,8 pontos em comparação com os 130,1 pontos relativos ao mês anterior.
O índice chegou ao seu menor nível desde abril deste ano, quando sinalizava 118,8 pontos. Após o agravamento da crise política em maio último, o número teve crescimento considerável.
De acordo com Pedro Costa Ferreira, economista do Instituto Brasileiro de economia da FGV (Ibre-FGV), a menor incerteza pode ser motivo de comemoração porque os números já foram piores - o indicador já bateu os 140 pontos. "Voltamos ao nível do momento pré-divulgação dos áudios do Joesley Batista [que acusavam o presidente Michel Temer de corrupção e obstrução da Justiça]", aponta o especialista.
Contudo, segundo ele, o resultado de ontem não demonstra uma retomada real do sentimento de confiança. "O impacto negativo da incerteza é algo que ainda deve ser considerado [...] Se analisarmos os últimos três anos, quando registrava-se muita incerteza, estamos ainda no limite inferior deste período. [Ou seja] De acordo com os últimos três meses, é um resultado bom, mas analisando toda a série histórica, segue ruim", explica.
De fato, o indicador de incerteza relativo a setembro é ainda 1,3 ponto menor se comparado com o mesmo período de 2016, quando marcava 120,6 pontos.
A principal causa da queda aparenta ser o possível período de "calmaria" no cenário político e em sua influência na economia, sem a previsão de maiores escândalos - como na primeira metade do ano -, nos próximos meses e em 2018.
"[O índice] está caindo, principalmente, por conta das expectativas do mercado de que o cenário não terá nenhum solavanco pelo menos nos próximos 12 meses. Além disso, reflete na incerteza a visão pós-2018, sobre o próximo presidente e suas pretensões, mas é provável que o governo continue preocupado com meta fiscal, inflação, ou se vai entrar investimentos: o básico", continua Ferreira.
No entanto, a propensão de novos investimentos ainda não deve ser uma realidade no mercado. "Boa parte das grandes empresas, em seus respectivos setores, estão aumentando sua capacidade instalada, mas não têm se empenhado em investimentos reais. Os empresários utilizam alguns instrumentos que beneficiam a produção, mas não estão usando dinheiro novo nos investimentos, porque o mercado não reagiu devidamente. Ele só vai investir quando tiver sua capacidade atual preenchida e a economia der reais sinais de retomada", avalia José Nicolau Pompeo, professor de economia da PUC.
Crescimento do PIB
Por outro lado, a seção Visão Geral da Carta de Conjuntura, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgada ontem, apontou uma melhora da expectativa de crescimento: 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do País em 2017, e de 2,6% em 2018.
De acordo com o levantamento, o consumo das famílias, que teve incremento de 1,4%; as exportações, que subiram 9,6%; e a agropecuária, com alta de 11,1%, devem ser os principais indicadores para o crescimento do Brasil neste ano e no próximo.
"Tivemos um processo de baixa da taxa de juros expressivo, e isso vai impactar na economia neste ano e em 2018. Vários indicadores mostram uma recuperação, e o impacto dessa queda ainda não foi totalmente sentida, e dará mais efeito em 2018", diz o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, José Ronaldo de Souza Jr.
Embora a incerteza permaneça alta, o especialista vê bom espaço para crescimento. "O fato é que dependemos muito da percepção de risco do investidor. Há uma tranquilidade, ajudada pelo cenário internacional. Por causa disso, vemos um País cujos riscos estão controlados, e isso contribui positivamente", finaliza.
Fonte: DCI São Paulo