São Paulo - O indicador da Fundação Getulio Vargas (FGV), que antecipa reversão de ciclos econômicos, está mais próximo do índice que mede as condições atuais, indicando adequação dos níveis de confiança ao real cenário da atividade.
"No ano passado, as expectativas [com relação à recuperação da economia] subiram muito, mas o indicador coincidente não reagiu na mesma direção e intensidade. Porém, isso mudou nos últimos meses", afirma o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV), Paulo Picchetti.
Desde fevereiro de 2017, as curvas do Indicador Antecedente Composto da Economia (IACE) e do Indicador Coincidente Composto da Economia (ICCE) se reaproximam, o que indica, para Picchetti, que, de um lado, a recuperação da economia está "finalmente" se concretizando" e, de outro, um retorno das expectativas para um "patamar de normalidade".
Pelo oitavo mês consecutivo, o ICCE e IACE registraram alta. O primeiro subiu 0,3% de agosto para setembro, para 100 pontos, e o segundo avançou 1,8%, a 110 pontos.
O Indicador de Antecedente foi puxado pela melhora nos índices de expectativas da indústria, serviços e dos consumidores calculados pelo Ibre, bem como por um avanço no Ibovespa, nas perspectivas para as taxas de juros futuras e nos indicadores de comércio exterior.
Por outro lado, Piccheti diz que houve contribuição negativa do índice de produção de bens consumo duráveis, na via da oferta, enquanto pelo viés da demanda, a contração dos gastos públicos e a dificuldade da retomada dos investimentos também são limitadores do impulso de retomada.
"Os aportes governamentais em infraestrutura estão restritos, enquanto o investimento do setor privado passa pelo problema da elevada capacidade ociosa que a recessão gerou", comenta Piccheti. "Mesmo que as incertezas na área fiscal sejam reduzidas, ainda há bastante espaço para as empresas produzirem sem precisarem expandir a sua capacidade produtiva".
Defasagem
O pesquisador do Ibre afirma que os investimentos, tradicionalmente, apresentam uma defasagem com relação aos ciclos econômicos, ou seja, eles se recuperam depois que a economia volta a reagir. "Esta última recessão foi inédita tanto em duração, como em profundidade, o que significa que os investimentos terão uma defasagem maior de recuperação", acrescenta Piccheti.
O professor de economia da PUC-SP, Antonio Carlos Alves dos Santos, lembra que, durante a crise internacional de 2008, os investimentos logo se recuperaram - eles caíram somente nos três primeiros trimestres de 2009 na comparação anual - pelo fato de o Brasil possuir, na época, estabilidade econômica, espaço fiscal para realizar políticas de incentivo e confiança das pessoas e das empresas na economia e na política, por mais que houvesse críticas.
Já hoje, a instabilidade política é a grande barreira para a retomada dos aportes, na avaliação de Santos. Ao mesmo tempo, o País não tem espaço fiscal para estimular a economia como em 2009, 2010. "É preciso pontuar, porém, que a política de austeridade de hoje é reflexo e necessidade da criatividade do primeiro governo Dilma [Rousseff]", afirma.
O economista do Serasa Experian, Luiz Rabi, acrescenta que a expansão de 0,5% dos investimentos no trimestre encerrado em agosto de 2017 (contra igual período de 2016), depois de cinco quedas seguidas, está mais relacionado com uma estabilidade. "Representa o fim de um ciclo de baixa, porque não há nenhum fator que justifique uma retomada mais firme dos investimentos. No acumulado de 2017, os aportes estão caindo 4,4%", diz Rabi, comentando o resultado do Indicador Serasa Experian de Atividade Econômica, divulgado ontem. O índice geral ficou estável em agosto ante julho, enquanto o consumo das famílias avançou 0,1%, e o do governo recuou 0,3%.
Fonte: DCI São Paulo