São Paulo - Apesar de a produção de alimentos não ser um problema no Brasil, o País sofre com elevadas perdas pós-colheita e no escoamento da safra e ainda com o desperdício significativo no final da cadeia e no consumo. É o que mostra o levantamento "Tese de Impacto Social em Alimentação", que tem como objetivo identificar oportunidades para empreendedores que possam contribuir de forma positiva com soluções.
Apresentado hoje, no Dia Mundial da Alimentação, o estudo foi realizado pela aceleradora de negócios de impacto social Artemisia e pela Fundação Cargill.
Produção próxima ao consumidor; acesso a refeições saudáveis; armazenamento de alimentos e educação nutricional são algumas das áreas com oportunidades que o mapeamento identificou para empreendedores que desejam promover impacto social no setor.
O estudo cita um dado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o cenário de segurança alimentar no País. Cerca de 52 milhões de brasileiros não têm acesso diário a comida de qualidade e na quantidade satisfatória, enquanto 41 mil toneladas de alimentos são desperdiçadas diariamente no País.
Esse é um problema global, já que, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês), 28% de todo alimento produzido é desperdiçado. O órgão diz que 54% do desperdício no mundo ocorre na fase inicial de produção, na manipulação pós-colheita e na armazenagem; os demais 46% ocorrem nas etapas de processamento, distribuição e consumo.
Além das oportunidades observadas no armazenamento e na logística dos alimentos, que dependem mais dos produtores e distribuidores, outro quesito a ser trabalhado é o consumidor e seus hábitos. O mapeamento aponta que as famílias de menor renda destacam-se por comprar mais do que o necessário, ou seja, fazem compras por impulso. Preparar mais comida do que o necessário é outro fator determinante para o desperdício, ocasionado pela hospitalidade - as pessoas sempre querem ter comida para receber convidados e acabam desperdiçando.
A publicação mostra também a carência das regiões Norte e Nordeste em relação às soluções apresentadas pelos startups que atuam no campo, as agrotechs. Segundo a Tese de Impacto, a maioria das soluções encontradas é destinada a produtores já conectados a mercados e com acesso a tecnologias. Essas duas regiões, que demandam soluções mais simples para melhor utilização da terra para produzir e desafios de irrigação, não são atendidas.
Além das tecnologias para melhorar a eficiência no momento da produção, há demanda também por serviços que reduzam o custo no período pós-colheita, como os que sejam capazes de diminuir a exposição de hortaliças ao sol, evitando perdas.
Para o consumidor final também devem ser trabalhadas soluções como a aproximação com as áreas de produção de alimentos. Empreendedores podem atuar para fazer chegar produtos como verduras e legumes a locais que não têm acesso a esses itens, para que sejam incorporados à rotina alimentar das famílias
Raphael Ferreira
Fonte: DCI São Paulo