Menos de duas semanas depois das transações feitas com cartão de crédito e débito passarem a ser liquidadas pela Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), a União Nacional das Entidades de Comércio e Serviços (Unecs) enviou ao Banco Central uma reclamação. Segundo a entidade, desde o dia 13 de novembro, os associados reportam que os pagamentos das vendas com cartão não estavam disponíveis em suas contas.
"Ao procurar os bancos, os varejistas perceberam que os recursos que eram para estar disponíveis, não estavam. Isso mostrou-se uma grande dor. Imagina, no final do ano, o seu dinheiro para pagar folha, fornecedor e compromissos de impostos ficar preso?", afirmou Honório Pinheiro, presidente da Unecs.
A interrupção nos pagamentos, segundo a entidade e alguns dos participantes desse mercado, é decorrente justamente da mudança promovida pelo Banco Central. A informação foi divulgada inicialmente pelo "Brazil Journal". O novo arranjo foi criado para eliminar algumas vantagens competitivas que certas empresas tinham por operarem, ao mesmo tempo, como prestadores de serviço de compensação e liquidação (PSCL) e credenciadoras e, por isso, conseguiam obter recursos para adiantar recebíveis aos lojistas com custo inferior aos das demais.
"Houve problemas pontuais de falhas nos processos de alguns bancos e rejeições de pagamento por mudança na forma de consistência dos dados bancários, o que já vem sendo tratado por estes bancos", afirma Henrique Capdeville, executivo da First Data no Brasil, dona da credenciadora Bin.
Ele afirma que a mudança foi grande, já que envolve todos os bancos e credenciadoras e, assim, um volume de transferências muito grande. Mas, mesmo assim, Capdeville acredita que ela foi positiva. "Considerando que a quantidade de bancos com problemas foi pequena, e que o volume não pago foi ainda menor, acreditamos que a mudança tenha sido positiva, embora algumas semanas ainda sejam necessárias para a definitiva estabilização do processo", diz.
Em nota, a Cielo, líder do segmento de credenciadoras no país, concorda que a mudança foi grande e afirma que, para dar suporte durante o processo de migração e minimizar os impactos para os clientes, a empresa conta com profissionais de plantão 24 horas em todos os dias da semana. Também em nota, a Rede, vice-líder do setor, afirmou estar seguindo a circular do Banco Central e destacou que se coloca "ao lado de seus clientes, atendendo aqueles que tiveram algum problema no recebimento".
Procurada, a CIP divulgou um comunicado em que afirma que a grade centralizada de arranjos de pagamento foi implementada "com sucesso", mas reitera que alguns bancos têm "apresentado problemas pontuais, em virtude da nova sistemática". A CIP, contudo, diz estar em contato com os participantes para resolver as questões.
O Banco do Brasil confirmou que houve uma instabilidade em seus sistemas após a implementação da nova regra, o que impediu o processamento de créditos a alguns estabelecimentos. O banco afirmou, contudo, que as medidas para a regularização já foram adotadas e os créditos já estão sendo efetuados, com previsão de conclusão até segunda-feira, 27. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) disse, em nota, que a maior parte dos problemas já foi resolvida e que tudo estará solucionado até o fim da semana.
Fonte: Valor Econômico