"Se o frango não está bom, transformo em milho." A frase, do presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas, resume com propriedade o posicionamento estratégico das cooperativas brasileiras para enfrentar os mais de dois anos de crise econômica. Com a aposta na diversificação nos segmentos de atuação, ou "alternativas para aumentar as vendas", nas palavras de Freitas, em investimentos constantes nas redes de distribuição e na ampliação da base de cooperados, as cooperativas de segmentos tão diversos como agricultura e crédito, saúde e transportes, deverão encerrar o ano com uma movimentação financeira de R$ 330 bilhões.
A projeção da OCB, se concretizada, representará um avanço de 10% ante os R$ 300 bilhões de 2016. "É um belo de um barulho econômico", diz. A força do cooperativismo também é demonstrada nas estatísticas de emprego. Com exceção de uma queda em 2013, o número de empregados diretos das cooperativas cresceu em 2014 (360.995) e em 2015 (376.795), o último dado oficial fornecido pela OCB, em um momento em que as taxas de desemprego no Brasil subiam.
No agronegócio, 50 cooperativas figuravam no ranking Valor 1000 , que elenca as mil maiores empresas brasileiras em receita líquida (2016). Entre elas está a Coopercitrus, fundada em 1976 em Bebedouro (SP) e que subiu 68 posições na comparação com o levantamento do ano anterior.
Maior cooperativa do Estado de São Paulo na comercialização de insumos, máquinas e implementos agrícolas, a Coopercitrus viu seu faturamento subir de R$ 700 milhões, em 2009, para R$ 2,2 bilhões (2015), chegando a R$ 3 bilhões em 2016 - uma variação de 36% no biênio. A estratégia compreendeu a ampliação das áreas de atuação, "abraçando" praticamente todo o Estado e chegando ao Triângulo Mineiro e ao sul de Minas Gerais. "Investimos na expansão geográfica para ter diversificação de culturas e segmentos e para nos blindarmos contra multinacionais que poderiam se instalar em nossa área", diz o diretor-presidente, José Vicente da Silva.
Uma das razões para o crescimento acelerado são parcerias feitas com sete cooperativas de Minas Gerais e de São Paulo e a diversificação da atuação para outras culturas (cana, café, soja, milho e pecuária). Além disso, aumentou o número de cooperados - de 17,7 mil, em 2009, para os atuais 30 mil. Em 2017, as parceiras começaram a ser absorvidas. Três incorporações já ocorreram. "Devemos incorporar outras três até o fim do ano. A maioria das cooperativas era de Minas Gerais, o que nos abriu espaço para soja, milho, café e hortifrúti." A expectativa é o que faturamento bruto atinja R$ 3,3 bilhões em 2017.
Na mesma linha, a Cooperativa dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Copercana), fundada em 1963 em Sertãozinho (SP), viu o número de cooperados crescer 9,40% nos últimos seis anos, totalizando 6.369 ao final de 2016. Para o presidente da cooperativa, Antonio Eduardo Tonielo, a diversificação dos negócios nos últimos anos explica o aumento nas adesões - e nas receitas. "Passamos a comprar soja, milho e amendoim, este último voltado ao mercado externo. Com a diversificação nos negócios, a crise nunca atinge todos os setores", diz.
Em 2016, a Copercana teve um faturamento bruto de R$ 1,2 bilhão. Para 2017, a estimativa é crescer 10%. Entre os pontos de comercialização estão três depósitos gerais, quatro unidades de grãos, cinco supermercados e 23 lojas que vendem de ferragens a defensivos agrícolas. "Também abrimos cinco postos de combustíveis nos últimos cinco anos e inauguraremos mais dois ainda em 2017. Isso reforça as receitas", diz Tonielo.
No ramo varejista, a Coop, de Santo André (SP), considerada a maior cooperativa de consumo na América Latina, adotou um plano de reestruturação e revisão do modelo de negócios a partir de 2013, que garantiu o crescimento em meio à crise. A estratégia envolveu redução de custos operacionais, ampliação dos investimentos em sua rede de distribuição e em um retrofit e modernização nos supermercados.
Apenas em consumo de energia a redução de custos foi de 25%. "O investimento médio em modernizações e em novas lojas, que era de R$ 24 milhões anuais até 2014, chegou a R$ 90 milhões nos últimos três anos", diz Marcio Valle, diretor-presidente da Coop.
Com 5,9 mil colaboradores e 30 supermercados em operação em dez cidades do ABC e do interior paulista, a cooperativa ocupou a 14ª posição no ranking nacional de supermercados em faturamento em 2016, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). A 31ª unidade será inaugurada no fim de novembro, em São Bernardo do Campo (SP). A Coop também apostou na diversificação para ampliar as receitas. Atualmente, possui três postos de combustível e uma rede com 43 drogarias - dessas, 13 são lojas de rua. O plano estratégico prevê que, até 2021, serão 80 farmácias de rua. A Coop encerrou 2016 com um faturamento bruto de R$ 2,12 bilhões e a expectativa é avançar 5% em 2017, para R$ 2,2 bilhões, na comparação "mesmas lojas".
O número de pessoas físicas e jurídicas associadas a cooperativas de crédito também é crescente, segundo o "Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo", do Banco Central. Nos últimos três anos, a base de cooperados cresceu mais de 10% ao ano, para 8,9 milhões de pessoas em 2016.
O Sicoob é o maior sistema de cooperativas financeiras do país, com 475 cooperativas singulares e 16 centrais, e 3,8 milhões de associados. "O crescimento da base é de 10% ao ano", diz Henrique Castilhano Vilares, presidente do Sicoob Confederação. Em setembro de 2017 o saldo de operações de crédito do Sicoob somou R$ 43 bilhões, alta de 8,5% ante igual mês do ano passado. No sistema financeiro tradicional (recursos livres) o saldo recuou 2% em doze meses até setembro, segundo o BC.
Fonte: Valor Econômico