Rio - O varejo espera o pagamento da segunda parcela do décimo terceiro, que deve ser feito até o dia 20, para elevar o faturamento neste fim de ano. A meta é de um aumento nas vendas entre 4% e 8%. No último fim de semana antes da data, os principais shoppings tiveram alta de até 10% no movimento, ainda abaixo das expectativas dos lojistas.
Segundo o economista Antônio Cesar Carvalho, professor de MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV), as vendas até agora seguem modestas, já que o consumidor ainda está bastante endividado. Ele ressaltou que os bancos não repassaram integralmente a queda na taxa básica de Juros, a Selic, para a ponta, tornando os empréstimos elevados.
— A crise foi longa, desde 2014. Isso prejudicou muito o consumidor. Ele sabe que não tem como rolar a dívida para janeiro, pois não vai conseguir arcar com o juros do cartão. Como o consumidor está indeciso, os lojistas estão investindo em preços e parcelamento estendido já em suas vitrines como forma de chamar a atenção - disse Carvalho.
No sábado à tarde, na Saara, maior polo de comércio popular do Rio, as ruas estavam cheias, mas vendedores se queixavam de lojas vazias. A expectativa oficial do Polo Centro Rio, que representa os empresários do local, é de crescimento de 6% nas vendas.
— Já saiu muita coisa, mas acredito que semana que vem vai melhorar. No ano passado, foi melhor. Tem muita gente que pesquisa e não leva. A gente estava praticamente sem mercadoria. As que estão aqui chegaram ontem, porque não tinha dinheiro para comprar — conta a vendedora Maria da Paz, há 12 anos na Big Festas, que vende brinquedos e enfeites.
'Andar muito para encontrar preço'
Na Saara, o diretor de comunicação do Polo Centro Rio, Leonardo Zonenschein, diz que aumentou o investimento em publicidade e cupons de desconto para impulsionar as vendas.
— Comparado ao ano passado, já tem um crescimento de fluxo de pessoas e de média geral de vendas das lojas. É um resultado que a gente considera bom dentro do atual momento da economia. O movimento não deve ser dos períodos anteriores que o Saara estava acostumada quando a economia estava em franco crescimento — pondera.
As irmãs Tânia de Paula, de 56 anos, e Carla de Paula, de 52, calculavam já ter gasto aproximadamente R$ 200 para garantir as lembrancinhas para a família. Pretendem, juntas, pretendem gastar R$ 300 no total.
— Tem que andar muito para encontrar preço — conta Carla.
A poucos metros dali, o vigilante Antônio Marcos Nunes, de 39 anos, e a manipuladora de farmácia Cristiana Gonçalves, de 40 anos, casados e com uma filha de 3 anos, ainda pesquisavam.
— A gente tem que comprar de acordo com o que a gente pode gastar. Em primeiro lugar, as contas. Mas o consumo diminuiu, porque o dinheiro está pouco. Brinquedo, hoje em dia, tem que ser uma coisa mínima. A gente compra o básico, de acordo com o orçamento — conta Cristiana.
Nos shoppings, que estão com horário estendido de funcionamento, os lojistas relatam estar em uma espécie de compasso de espera pela reta final da temporada de compras, que deve ser impulsionada pela liberação da segunda parcela do décimo terceiro. É o caso de lojistas no NorteShopping.
No BarraShopping, que recebeu 320 mil pessoas no fim de semana, a expectativa é de vendas 4% maiores com base no aumento do tíquete médio de compras deste ano ante o ano passado. É a mesma previsão de outros empreendimentos, como o São Gonçalo Shopping, da Aliansce. No RioSul, a meta é superar a alta de 5% nos negócios registrada na Black Friday até o fim do Natal.
No caso do Via Parque a meta de alta é de 8% nas vendas. No Shopping da Gávea, a expectativa supera a média do setor e chega a 12%.
— Na última semana, tivemos um aumento de 10% de circulação de pessoas fazendo as compras de Natal — disse Renata Alves, gerente de Marketing do Shopping da Gávea.
O Shopping Leblon registrou aumento de 4% na circulação de pessoas em relação ao ano passado, no fim de semana que antecede o Natal. No Shopping Metropolitano, na Barra da Tijuca, o fluxo de pessoas foi 9% maior do que no mesmo período do ano passado. Segundo um lojista que não quis se identificar, a procura deveria estar maior, já que as vendas estão na reta final.
— Normalmente, na semana anterior ao Natal, as vendas já estavam maiores, com os corredores lotados. Mas esse ano ainda há um certo desânimo. Agora, é esperar o próximo fim de semana — disse esse lojista.
Compra controlada
No NorteShopping, a autônoma Suellen Marina, de 28 anos, comprou um calçado para a sobrinha, por R$ 140:
— No shopping já gastei uns R$ 600. Esse ano comprei menos (no shopping), porque optei por preços mais baixos.
Já a técnica em enfermagem Regina Lopes, de 58 anos, sente na pele os efeitos da crise do Estado do Rio.
— Não estou planejando nada porque estou sem receber há quase três meses, sou funcionária do estado. A gente está pesquisando calçado, uma roupa, mas presente, por enquanto, nada — diz a servidora, que fazia compras com o marido e sobrinhos no shopping.
Fonte: O Globo