A receita de vendas do varejo fechou 2017 praticamente estável, já descontados os efeitos da inflação, após dois anos consecutivos de retração. O dado, divulgado ontem pela Cielo, sinaliza para uma tendência de recuperação mais consistente do setor este ano.
Elaborado através das vendas de 1,6 milhão de pontos de venda credenciados à empresa de adquirência, o indicador mostra que o comércio brasileiro registrou variação negativa de 0,3% na receita real do ano passado, na comparação com 2016. Para a Cielo, o resultado deflacionado indica uma recuperação do comércio, já que no ano anterior o índice caiu 4,8%.
Ainda segundo a companhia, a melhora do resultado, em termos reais, se deveu, em grande parte, ao menor patamar da inflação no ano passado, que fechou em 2,95%, frente 6,29% em 2016. Em termos nominais, o crescimento do ano foi de 1,7%, abaixo do resultado do ano anterior e de 2015 – quando o indicador subiu 3,6% e 5,5%.
“A inflação desacelerou bastante em 2017, contribuindo na trajetória de recuperação do varejo na medição deflacionada, mas não diretamente em termos nominais”, explica o diretor de inteligência de mercado da empresa, Gabriel Mariotto.
O sócio-diretor da consultoria b.Retail, Sandro Benelli, ressalta que houve uma forte queda dos preços de alimentos em 2017, o que impactou a receita nominal. “O consumo aumentou em volume de vendas, mas isso não se refletiu em dinheiro. Em valor houve uma redução”, afirma.
O executivo ressalta, no entanto, que o resultado da Cielo é um recorte de uma camada do varejo, e que o dado da receita do setor medido na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, tende a apresentar um resultado melhor do que o visto no indicador da empresa do mercado de cartões. Diretor vogal do Instituto Brasileiro de Executivos do Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), Nuno Fouto, tem visão semelhante. Segundo ele, a perspectiva é que o dado da PMC de 2017, que será divulgada no início do mês que vem, mostre crescimento perto de 1% da receita real do varejo ampliado. Até novembro, a receita nominal do ramo já acumulava um avanço de 3,4%.
E neste ano?
Para 2018, os dois especialistas acreditam que tanto a receita nominal quanto real do setor devam apresentar um crescimento mais robusto. Para Benelli, o avanço deve ser de entre 5% a 10%, em termos nominais. “Vai ter uma reposição desses valores que caíram em 2017 e devemos ter um avanço maior em valor”, diz.
Em termos reais, Fouto, do Ibevar, arrisca prever um crescimento próximo de 2% da receita no conceito ampliado – que considera veículos e materiais de construção –, caso a inflação se mantenha em patamar baixo, assim como ocorreu ao longo do ano passado.
Ambos destacam perspectivas melhores para 2018, em termos de cenário econômico. A expectativa de um início de recuperação mais forte do mercado de trabalho, e fatores pontuais como a Copa do Mundo e as eleições gerais podem contribuir ao resultado.
“A Copa do Mundo deve impactar nas vendas de linha marrom e as eleições devem injetar mais dinheiro na praça”, afirma o sócio-diretor b.Retail. Fouto explica que o maior “derramemento” de recursos em ano eleitoral é natural e pode ajudar a acelerar o crescimento do setor varejista.
“Vai ter um dinheiro excepcional que está atrelado a anos de eleição, já que o governo, em geral, injetam dinheiro em obras, emendas, para ajudar nas campanhas. Até novembro vai ser um ano bom para a economia, mas depois da eleição, dependendo do resultado, pode mudar o rumo”, complementa Benelli.
Dezembro
O estudo da Cielo apresentou ainda dados sobre o desempenho da receita de vendas em dezembro. Segundo a empresa, a receita real do comércio cresceu 1,7% no último mês do ano passado, na comparação com o mesmo período de 2016, já com ajustes sazonais. O resultado mostrou uma desaceleração, frente ao dado de novembro, quando a alta foi de 2,6%.
Fonte: DCI São Paulo