Rio de Janeiro/São Paulo - O Brasil voltou a registrar deflação pela primeira vez em pouco mais de ano diante da queda de preços em alimentos e transportes em agosto, resultado mais fraco que esperado em meio à lentidão da atividade econômica, ajudando o Banco Central a continuar sem pressa para subir os juros básicos.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou 0,09 por cento em agosto, depois de subir 0,33 por cento no mês anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira .
Esse foi o resultado mais fraco para o índice desde a queda de 0,23 por cento vista em junho de 2017 e ficou abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters com analistas de estabilidade no mês. Também é a menor taxa para agosto desde 1998, quando a queda foi de 0,51 por cento. [nL2N1VP0GG]
Com isso, o acumulado em 12 meses enfraqueceu ainda mais, indo a 4,19 por cento até agosto, sobre 4,48 por cento em julho e projeção de 4,30 por cento. Ao chegar ao patamar mais baixo desde maio (2,86 por cento), o IPCA voltou a se afastar do centro da meta de inflação, de 4,50 por cento, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
“Há um problema de demanda no mercado interno e as famílias ainda estão endividadas, o desemprego se mantém alto, há um grande número de desalentados. Então, há receio e cautela em gastar”, explicou o gerente da pesquisa do IBGE, Fernando Gonçalves.
Os dados do IBGE mostraram que o principal impacto no mês veio da queda de 1,22 por cento do grupo Transportes, pressionado principalmente pelo recuo de 26,12 por cento nos preços das passagens aéreas. Os combustíveis também caíram, 1,86 por cento, com destaque para o etanol (-4,69 por cento) e a gasolina (-1,45 por cento).
Os preços de Alimentação recuaram 0,34 por cento, sendo que os alimentos para consumo no domicílio ampliaram a deflação para 0,72 por cento em agosto, de 0,59 por cento em julho.
A alta nos preços das tarifas elétricas perdeu bastante força no mês passado, a 0,96 por cento, contra avanço de 5,33 por cento em julho, depois que a ausência de chuvas levou reguladores a manter elevada a tarifa de energia elétrica. Mesmo assim, segundo o IBGE, a energia elétrica foi o maior impacto individual positivo no IPCA (0,04 ponto percentual).
Com isso a alta do grupo Habitação diminuiu a 0,44 por cento em agosto, de 1,54 por cento no mês anterior.
Diante das expectativas sob controle, o BC vem sugerindo que não deve elevar a taxa básica de juros por enquanto, em um momento de atividade econômica fraca e desemprego alto.
A Selic está na mínima histórica de 6,50 por cento, e a expectativa é de que termine o ano neste patamar mesmo diante da recente valorização do dólar para acima de 4 reais.
Veja detalhes na variação mensal (%):
Grupo Julho Agosto
Índice Geral +0,33 -0,09
Alimentação e Bebidas -0,12 -0,34
Habitação +1,54 +0,44
Artigos de Residência +0,47 +0,56
Vestuário -0,60 +0,19
Transportes +0,49 -1,22
Saúde e Cuidados Pessoais +0,07 +0,53
Despesas Pessoais +0,31 +0,36
Educação -0,08 +0,25
Comunicação +0,08 +0,03
Edição de Patrícia Duarte
Fonte: Reuters