O aumento de preços penalizou mais os brasileiros pobres do que os da alta renda nos últimos meses, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A tendência, porém, é de queda da inflação para as classes de renda mais baixa a partir deste mês.
Segundo a técnica de planejamento e pesquisa do Ipea, Maria Andreia Parente Lameiras, a expectativa para os próximos meses é de desaceleração da inflação, possibilitada pelo recuo dos preços dos alimentos e pela desaceleração dos custos da energia elétrica.
“A inflação registrada em outubro foi definida, principalmente, pelo comportamento dos alimentos, que pesam muito mais na cesta de consumo das famílias mais pobres do que das mais ricas”, explica ao DCI.
“Tanto em novembro quanto em dezembro, esperamos um comportamento melhor do preço dos alimentos. No atacado, já vemos até mesmo uma desaceleração, que deve chegar logo ao varejo”, comenta Maria.
Na avaliação da especialista, o cenário também é melhor em relação à energia elétrica. “Já registramos bandeira amarela em novembro, e a expectativa é de bandeira verde em dezembro, diminuindo os preços das tarifas. Esperamos desaceleração da inflação para todas as classes de renda nos próximos meses, mas, em especial, para os mais pobres.”
Assim como os preços dos alimentos, da energia elétrica e dos combustíveis devem ser decisivos para minimizar o impacto dos próximos resultados da inflação, os mesmos produtos foram os principais responsáveis pelo avanço da taxa no último mês.
Em outubro, apesar da aceleração da inflação em todos os segmentos pesquisados pelo Ipea, o maior incremento ocorreu nas classes mais baixas. Para esse grupo, a variação no mês foi de 0,49%. No mesmo período, o aumento foi de 0,42% para as famílias de maior renda.
A alta de 0,9% da alimentação no domicílio e de 0,12% na energia pressionou mais fortemente a inflação das famílias de menor poder aquisitivo.
“O comportamento dos alimentos é crucial para a definição da inflação das classes de renda mais baixa. 2017 foi um ano muito bom para os preços de alimentos, tivemos uma super safra e alguns meses registraram até mesmo deflação, o que beneficiou muito a inflação dos mais pobres. Nos últimos meses, entretanto, esse cenário começou a se reverter, influenciado por uma safra não tão boa e por uma taxa de câmbio mais alta, o que levou a uma inflação maior nos últimos meses, especialmente em outubro”, explica Maria.
Além disso, segundo ela, a alta registrada nas tarifas de energia elétrica, causada tanto pelo reajuste nas concessionárias quanto pela queda do volume de água nos reservatórios – ocasionando a definição da bandeira vermelha – impactou intensamente os mais pobres.
Já o aumento de 2,2% no preço da gasolina gerou maior contribuição para a inflação das classes mais ricas. Com isso, no acumulado do ano, a inflação das famílias mais pobres chegou a 3,5%, nível abaixo da registrada pelas faixas de renda mais alta, de 4,06%.
IPCA
De modo geral, o relatório Focus, divulgado na última segunda-feira pelo Banco Central (BC), mostrou que a estimativa de analistas para a inflação este ano caiu pela quarta vez. Conforme o documento, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve ficar em 4,13%, enquanto que, na semana passada, a projeção era de 4,23%.
Segundo o professor dos MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mauro Rochlin, a queda da previsão é justificada, principalmente, pelo comportamento do câmbio. “A expectativa do mercado era de que o dólar se mantivesse na casa dos R$ 4 até o final do ano. Com o recuo da [cotação da] moeda, a pressão de custos se torna menor”, explica.
“Além disso, com a provável adesão da bandeira verde a partir do mês que vem e a expectativa de queda no preço da energia elétrica, não há focos de pressão que possam causar algum impacto”, diz. A meta de inflação é de 4,5%.
Para 2019, a projeção da inflação foi ajustada de 4,21% para 4,20%. Não houve alteração na estimativa para 2020, que se manteve em 4%. Para 2021, a previsão passou de 3,95% para 3,90%.
Fonte: DCI