Os reajustes reais (acima da inflação) de salário em 2018 foram mais altos no primeiro semestre do que no segundo, devido à disparada de preços a partir de julho, mostram dados do Salariômetro da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Já em 2019, ocorrerá o movimento inverso. Nos primeiros seis meses do ano, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) terá variação maior afetando o ganho real.
Segundo projeções da Fipe, o índice deve rodar, em 12 meses, em um intervalo de 3,4% e 4,1% até junho, enquanto nos meses seguintes, as altas ficarão entre 2,9% e 3,9%, facilitando o pleito por aumentos salariais acima da inflação, explica o economista e coordenador do Salariômetro, Hélio Zylberstajn.
O cálculo da mediana dos reajustes salariais das negociações e convenções coletivas mostra que os rendimentos reais subiram 0,70% acima do INPC em 2018, quando o índice registrou alta acumulada de 3,43%.
Para a professora de economia da Fecap, Juliana Inhasz, este foi um aumento real razoável, em linha com a expectativa de crescimento de 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB). “Não faz sentido os salários subirem muito quando a expansão da economia está muito baixa. Isso provocaria um problema inflacionário”, destaca Inhasz.
“Os ganhos precisam aumentar em consonância com aquilo que a economia consegue produzir”, acrescenta. Para 2019, a expectativa da professora da Fecap é que os aumentos reais sejam maiores do que em 2018, mas que, na mediana, não ultrapassem a variação do PIB que, em sua avaliação, deve registrar crescimento próximo a 2%.
“A economia precisa ter um fôlego maior para, dessa forma, gerar mais empregos e, assim, aumentar o nível da renda das pessoas. Quando o patamar de empregabilidade cresce, os trabalhadores conseguem exigir salários maiores. No atual momento, a concorrência por vaga de trabalho é muito alta e isso acaba enfraquecendo as negociações”, comenta Inhasz.
Convenções e acordos
Os aumentos reais de salários aumentaram na passagem de 2017 para 2018. Enquanto no primeiro ano, 78,8% das negociações resultaram em correção salarial acima da inflação, em 2018, essa porcentagem subiu a 80,1%.
Já a proporção dos reajustes iguais ao INPC caiu de 11,7% para 11,2%, enquanto a parcela de correções abaixo do índice recuou de 9,5% para 8,7%, mostra a Fipe.
Contudo, o total de convenções e acordos caíram 21,9% entre 2017 e 2018. Estes passaram de 37.565 para 29.346 no período. Zylberstajn explica que isso ocorreu muito por contas das discussões que envolvem pontos da reforma trabalhista, especialmente no que diz respeito à contribuição sindical, cuja obrigatoriedade foi extinta pela nova legislação.
Segundo o especialista da Fipe, muitos processos de convenções estão se arrastando por conta disso. A discussão tem sido tão presente que metade (49,8%) dos acordos e convenções de 2018 resultaram na inclusão de uma cláusula de obrigatoriedade da contribuição aos sindicatos.
Os resultados que mais foram alcançados nas negociações foram reajuste (56,3%), piso salarial (52,35) e contribuição sindical (49,8%). Em menor proporção, estão as conquistas relacionadas à alimentação (38,5%), adicional de hora extra (38,3%), adicional noturno (31,6%), auxílio funeral (29,7%), auxílio transporte (25,6%), banco de horas (24,1%) e Participação nos Lucros e resultados (PLR) (21,7%), mostra a Fipe.
Por categoria, os maiores aumentos ocorreram nas atividades de eventos (2,94%), indústria de joalheria (1,80%), bancos (1,31%) e setor público (1,26%). As atividades de lavanderia, por sua vez, tiveram um reajuste 0,19% abaixo da inflação, enquanto o agronegócio de cana e reparação de eletroeletrônicos ficaram em linha com o INPC.
Fonte: DCI