O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo há muito tempo, e a situação piorou em 2018. É possível que os dados estejam subestimados.
Entre 2001 e 2015 houve uma pequena queda na desigualdade. A proporção desse recuo inclusive é contestada por especialistas. O fato é que o problema persiste. A renda é muito concentrada e reverter isso é complicado.
A crise econômica produz mais desigualdade. Os ricos têm mais meios para se proteger das recessões que os pobres. O desemprego, por exemplo, atinge de maneira desigual as diferentes parcelas da sociedade. A questão se agrava ao se considerar a cor da pele e o gênero. O desemprego entre mulheres e negros é maior. Mas a crise explica só uma parte da piora.
O Brasil nunca tomou decisões que focassem na renda dos mais ricos. A tributação continua sendo concentrada no consumo. Os pobres destinam uma parte maior da renda para a compra de produtos básicos. Uma política voltada para o tema foi a redução de impostos sobre determinados alimentos. Mas a redução tributária beneficia todos que consomem aquele produto, inclusive os ricos.
A carga tributária no Brasil incide pouco sobre propriedades. O ITR, o imposto territorial rural, é baixo; o tributo sobre o consumo de alimentos é alto. O ICMS, sobre produtos e serviços, é elevado demais. Na campanha eleitoral, a maioria dos candidatos prometeu taxar dividendos. A empresa paga impostos, mas o lucro que é distribuído através de dividendos é isento. A proposta começou com a esquerda e foi sendo adotada por candidatos de outras orientações políticas. Mas durante os 13 anos em que ficou no poder a esquerda não mudou essa situação.
O Bolsa Família melhorou ligeiramente o quadro. Mas programas de transferência de renda para os mais pobres não reduzem a desigualdade, eles melhoram o acesso à renda.
O estudo do IBGE está ficando mais completo. O levantamento media apenas a renda do trabalho. Era um modelo mais parcial. Agora, além do salário, a pesquisa considera a aposentadoria e pensão, o aluguel e o arrendamento, a doação, a mesada e a pensão alimentícia. Ainda assim, não entram os ganhos financeiros, onde os mais ricos também investem.
A desigualdade é grande e ainda é mal medida no Brasil. Economistas, como o Sergei Soares e o Pedro Ferreira de Souza, têm estudado isso mais profundamente. O método segue o modelo de Thomas Piketty e usou o cadastro do imposto de renda. Marcelo Medeiros é outro especialista interessado no assunto. Eles entendem que a renda dos mais ricos no Brasil é subestimada, principalmente nessa pesquisa. O questionário da Pnad pergunta sobre a renda da casa, e o entrevistado pode contar apenas o salário. Um grande empresário pode não revelar tudo o que fatura. O lucro no mercado financeiro por mês é difícil de estimar. Mas o pobre sabe exatamente quanto ganha.
Fonte: O Globo