Pelos cálculos preliminares do economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas (FGV), entre 2014 e 2018, a nova classe média perdeu quase 6 milhões de pessoas, passando do pico de 56,8% da população brasileira para 53,9% nesse período. Esses números têm como base as informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad C) divulgada na quarta-feira (16/10).
A nova classe C se consolidou durante os governos de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva, sobretudo, em função do controle da inflação e do aumento real do salário mínimo. Com o crescimento da economia, o desemprego chegou a cair a 4,9% em 2014, o menor patamar da história. Mas, as estripulias feitas por Dilma Rousseff na área econômica, porém, começaram a minar o bem-estar dessa nova classe média. A alta da inflação foi corroendo o poder de compra dos trabalhadores e, aos poucos, o fantasma da pobreza voltou a assustar muitas delas.
Os dados do IBGE confirmaram o aumento da desigualdade e da concentração de renda, inclusive, uma queda no volume de beneficiários do programa Bolsa Família, que passou de 15,9%, em 2012, para 13,7%, no ano passado. O órgão ainda apontou que as pessoas que vivem na pobreza, com renda mensal média de R$ 233, representam 12,2% da população do país. São 25,3 milhões de brasileiros. Em 2014, eles eram 9,8% da população, o menor índice da série.
A história mostra que não há outro caminho para a redução da pobreza que não seja o crescimento econômico sustentado. Sim, as políticas sociais, como o Bolsa Família, são importantes, mas é o emprego de qualidade que permite a ascensão social. Os brasileiros mais pobres precisam de atenção especial, com uma boa educação. Infelizmente, não é o que se está vendo hoje. O governo está perdido sem apontar uma solução para este problema. Pelos cálculos de Neri, da FGV, mesmo que o Brasil cresça, em média, 2,5% ao ano, só voltaremos a ostentar índices de pobreza semelhantes a 2014 em 2030. É tempo demais para um país tão desigual e injusto.
Saudades
Enquanto a economia patina, o eletricista Joel Moreira, 47 anos, está procurando emprego desde o início do ano e tem saudades do período pré-crise. “Até 2014, era tudo maravilhoso. Mas essa corrupção fez a nossa vida piorar. Há três governos, era muito melhor, tinha emprego pra todo mundo”, avaliou. Ele é um dos milhões de brasileiros que perderam o poder aquisitivo nos últimos anos e admite viver um “retrocesso” na condição financeira. “O salário reduziu muito, tive que cortar muitas despesas. Antes, eu havia conseguido chegar ao nível de viajar, mas agora não posso mais. Tive que me mudar para uma casa com aluguel mais barato. Cortei totalmente o lazer, mas comida é a única coisa que eu não posso cortar. Ela é essencial e eu não abro mão”, afirmou.
A estudante Vitória Campos, 19, reconheceu que está conseguindo fechar as contas de casa de forma bem apertada. “Há algum tempo, a situação era muito melhor, a gente podia ter lazer. A vida era muito mais tranquila, recuamos nisso”, lamentou. Por conta da dificuldade de pagar as contas, ela contou que, às vezes, tem a impressão de que as coisas estão ficando cada vez mais caras.
O aumento da desigualdade apontado pelo IBGE e o fato de a economia andar de lado, faz com que pessoas como a catadora de lixo Maria Neusa da Silva, 53, tenha poucas perspectivas na vida. Moradora da Cidade Estrutural, ela chegou ao Distrito Federal, em 1991. Natural do Maranhão, tem dois filhos deficientes. Um tem problema de visão e o outro é epiléptico. Devido à piora na situação financeira nos últimos anos, ela conta que mal tem luz em casa. Ela reclama que há muita discriminação com quem vive do lixo “O salário não é muito, mas o que eu posso fazer?”, questiona Maria Neusa, que acorda todo dia às 5h da manhã para trabalhar.
* Estagiários sob supervisão de Rozane Oliveira
Fonte: Correio Braziliense