Inflação oficial acelera para 0,25% em fevereiro, mas tem menor taxa para o mês em 20 anos

Leia em 6min 30s

Pressionado pelos reajustes das mensalidades escolares e de cursos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, ficou em 0,25% em fevereiro, depois de ter registrado uma taxa de 0,21% em janeiro, segundo divulgou nesta quarta-feira (11) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Apesar da aceleração, trata-se da menor taxa para meses de fevereiro desde 2000, quando o índice foi de 0,13%.


Em 12 meses, a taxa acumulada atingiu 4,01%, abaixo dos 4,19% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores, ficando bem próxima do centro da meta do governo para o ano, que é de 4%.

Nos dois primeiros meses do ano, o IPCA acumula alta de 0,46%, menor inflação para o período já registrada em toda a série histórica do IBGE, iniciada em 1980. Até então, a taxa mais baixa para janeiro e fevereiro tinha sido registrada em 2018 (0,61%).


A inflação comportada neste começo de ano abre caminho para uma maior aposta do mercado sobre a possibilidade de novos cortes na taxa básica de juros em meio ao temor de uma recessão global e de desaceleração da economia brasileira.


Educação foi o que mais pesou na inflação do mês
Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, 5 apresentaram alta em fevereiro, com destaque para os custos de educação (3,70%), cujo grupo apresentou a maior variação mensal e o maior impacto (0,23 ponto percentual) no IPCA do mês.


A alta do grupo Educação foi influenciada principalmente pelos reajustes habitualmente praticados no começo do ano letivo, especialmente aqueles dos cursos regulares (4,42%), item responsável pela maior contribuição individual (0,20 p.p.) na taxa de inflação de fevereiro.


O gerente da pesquisa, Pedro Kislanov Costa, destacou que se trata de um movimento sazonal do setor educacional. "Fevereiro vai ser sempre um mês que vai se ter uma alta assim proeminente", afirmou.


Veja a inflação de fevereiro por grupos e o impacto de cada um no índice geral:


· Alimentação e bebidas: 0,11% (0,02 ponto percentual)

· Habitação: -0,39% (-0,06 p.p.)

· Artigos de residência: -0,08% (0 p.p.)

· Vestuário: -0,73% (-0,03 p.p.)

· Transportes: -0,23% (-0,05 p.p.)

· Saúde e cuidados pessoais: 0,73% (0,10 p.p.)

· Despesas pessoais: 0,31% (0,03 p.p.)

· Educação: 3,70% (0,23 p.p.)

· Comunicação: 0,21% (0,01 p.p.)



Preço da carne ajuda a segurar inflação

O grupo Alimentação e bebidas desacelerou para 0,11%, com a queda sustentada novamente pelo recuo nos preços das carnes (-3,53%), que haviam recuado 4,03% em janeiro. A alimentação fora do domicilio desacelerou para 0,22%, ante alta de 0,82% em janeiro. Entre as altas, destaque para cenoura (19,83%), tomate (18,86%) e manga (7,56%).


Segundo o IBGE, a carne foi o item que mais ajudou a conter a alta da inflação. De acordo com o gerente da pesquisa, o preço caiu em todas as regiões, mas a queda mais intensa foi observada no Rio de Janeiro, única capital a registrar deflação.

"A queda nos preços da carne no Rio foi mais intensa que no resto do país. Nos dois primeiros meses do ano, a carne caiu 16,16% no Rio, enquanto no Brasil a queda foi de 7,42%", observou.


Em 2019, os preços das carnes acumularam alta de 32,4%, avanço que ainda foi devolvido apenas parcialmente. Isso, segundo o gerente da pesquisa, pode explicar porque o consumidor ainda não esteja sentindo no bolso a queda nos preços.


O grupo transportes teve deflação (-0,23%) em fevereiro, após registrar alta de 0,32% em janeiro. Os preços da gasolina (-0,72%) e passagens aéreas (-6,85%) recuaram, representado as principais influências no mês.

No grupo habitação (-0,39%), a queda foi puxada principalmente pelo item energia elétrica (-1,71%), em razão da mudança da bandeira tarifária, que passou de amarela para verde, em que não há cobrança adicional.


E o impacto da alta do dólar?


As altas sucessivas do dólar ante o real, atingindo máximas recordes, podem exercer alguma pressão sobre a inflação no ano.

O gerente da pesquisa afirmou que a alta do dólar não teve reflexos no IPCA de fevereiro. "Não é uma transmissão automática ou instantânea, demora um tempo a aparecer. Então, temos que esperar mais um pouco para saber se vai haver esse impacto", avaliou.


O dólar acumulou alta de 4,57% no mês de fevereiro, terminando o mês cotada a R$ 4,48. Neste mês de março, a moeda dos EUA saltou para patamares ao redor de R$ 4,70, passando a acumular alta de mais de 16% no ano. Nesta quarta-feira, o dólar é negociado em alta, a R$ 4,65.


Atividade econômica fraca

Costa destacou que o resultado de fevereiro do IPCA reflete também a baixa atividade econômica do país.

O cenário de fraqueza da economia e de maior incerteza vem reprimindo a demanda e o consumo no Brasil. Em 2019, o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu apenas 1,1%, após expansão de 1,3% registrada tanto em 2018 quando em 2017.


Perspectivas para 2020
Para 2020, os economistas das instituições financeiras projetam uma inflação de 3,20%, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central. Neste ano, o centro da meta é de 4%, um pouco menor que em 2019. A meta terá sido cumprida se o índice oscilar de 2,5% a 5,5%.


A meta de inflação é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros, atualmente em 4,25% ao ano.

As expectativas agora giram em torno da reunião de política monetária do Banco Central na semana que vem.


Nota emitida no começo do mês pelo Banco Central sinalizou que o Comitê de Política Monetária (Copom) pode reduzir novamente a taxa de juros a fim de evitar uma desaceleração ainda maior da economia brasileira provocada pelo novo coronavírus.


Inflação por região


Quanto aos índices regionais, apenas a região metropolitana do Rio de Janeiro (-0,02%) teve deflação em fevereiro. A maior taxa ficou com a região metropolitana de Fortaleza (0,80%), seguida por Aracaju (0,66%). Em São Paulo, houve alta de 0,23%.

Veja todos os índices regionais:

· Fortaleza: 0,8%

· Aracaju: 0,66%

· Belo Horizonte: 0,5%

· Rio Branco: 0,49%

· Campo Grande: 0,42%

· Recife: 0,38%

· Brasília: 0,35%

· Vitória: 0,33%

· São Paulo: 0,23%

· Belém: 0,21%

· São Luís: 0,18%

· Goiânia: 0,18%

· Salvador: 0,16%

· Porto Alegre: 0,16%

· Curitiba: 0,08%

· Rio de Janeiro: -0,02%


INPC varia 0,17% em fevereiro


O IBGE também divulgou nesta quarta o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), referente às famílias com rendimento de um a cinco salários mínimos.


O INPC teve alta de 0,17% em fevereiro, enquanto havia registrado 0,19% em janeiro. O resultado também é o menor para o mês de fevereiro desde 2000, quando o índice ficou em 0,05%. O acumulado do ano foi o de 0,36% e nos últimos 12 meses, o índice apresentou alta de 3,92%, abaixo dos 4,30% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores.


Fonte: G1

 

 

 


Veja também

Em apenas dois meses, coronavírus deixou a economia mundial de joelhos

Em apenas dois meses, desde o surgimento de um novo coronavírus na China até a segunda-feira que provocou ...

Veja mais
Governo reduz de 2,4% para 2,1% previsão de alta do PIB em 2020

O Ministério da Economia informou que sua estimativa oficial para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em...

Veja mais
FGTS: 36,6 milhões não fizeram o saque imediato; prazo está acabando

O número de trabalhadores que ainda não fizeram o saque imediato do Fundo de Garantia do Tempo de Servi&cc...

Veja mais
Vendas no Carnaval crescem para metade do setor na Capital

As vendas no Carnaval deste ano em Belo Horizonte foram melhores do que as de 2019, de acordo com 47% dos empresá...

Veja mais
IPCA caiu abaixo de 4% em fevereiro e recuará mais em março, diz especialista

A inflação perde força rapidamente neste começo de ano, após o choque das carnes no f...

Veja mais
Economistas cortam projeção de crescimento do PIB para menos de 2%

O mercado passou a ver crescimento econômico abaixo de 2% este ano enquanto o grupo que mais acerta as previs&otil...

Veja mais
Crise pressiona pela aceleração das reformas

O Brasil com Jair Bolsonaro no Planalto enfrenta uma turbulência financeira mundial com todas as caracterís...

Veja mais
Sem previsão de acordo, Supremo faz nova reunião sobre tabela de frete

Ainda sem previsão de acordo entre caminhoneiros e o setor produtivo, o Supremo Tribunal Federal (STF) promover&a...

Veja mais
Governo quer antecipar até três anos de saque do FGTS para concessão de crédito

Diante do baixo crescimento da economia brasileira, o governo avalia novas medidas para liberar mais recursos do FGTS e,...

Veja mais