Resultados preliminares de um indicador da Fundação Getulio Vargas (FGV) sinalizam que a incerteza em relação à economia brasileira se consolidou em patamar elevado em junho e deverá seguir em alta até o fim do ano. Na prática, o atual patamar de incerteza seria o "novo normal", nas palavras da economista da FGV Anna Carolina Gouvea.
Gouvea fez a observação ao comentar a queda de 3,1 pontos na prévia do Indicador de Incerteza da Economia (IIE-BR) de junho, para 187,2 pontos, anunciada nesta segunda-feira pela fundação. Longe de indicar arrefecimento da incerteza em relação à economia brasileira, a queda na prévia do índice em junho mostra média de 188,8 pontos desde a eclosão da pandemia de Covid-19, em meados de março, pontuou a técnica.
Antes da crise, o indicador se posicionava na faixa entre 115 pontos e 120 pontos. "O indicador já operava em patamar elevado e vinha se colocando nessa faixa [de 115 pontos a 120 pontos] desde 2015", completou Gouvea.
"Antes da crise, a média do índice era de 119 pontos, o que já era alto", disse ela, lembrando que quadrante favorável para o indicador seria pontuação abaixo de 100 pontos. "O que temos agora é uma média de 188,8 pontos, o que pode ser considerado um novo normal para pandemia", concluiu.
A técnica alertou ainda que o desempenho preliminar do índice de junho pode até sinalizar um pequeno recuo para o mês.
Ela comentou que, de abril a maio, a queda foi de 20,2 pontos. Isso porque o indicador subiu tanto logo após o início da pandemia que houve uma "calibragem" no mês passado - que não eliminou, porém, o avanço dos meses de março e abril, bimestre em que o índice subiu 95,4 pontos, devido à atual crise. Agora, de maio para junho, a queda foi menos intensa, de 3,1 pontos.
"O ritmo da queda está diminuindo", alertou Gouvea, o que favorece manutenção do indicador em patamar elevado.
A especialista comentou que as notícias, até o momento, não favorecem uma queda rápida do indicador nos próximos meses. Os dados de especialistas mostram índice de contaminação por Covid-19 ainda elevado. E, mesmo com a flexibilização de reabertura iniciada por algumas cidades, isso, na prática, não sinaliza retorno robusto do consumo, notou.
"Tem um vai e vem muito grande nas medidas de reabertura do comércio e isso ajuda a elevar mais ainda incerteza", comentou, acrescentando que não há, no momento, um plano grande, consistente e coerente para lidar com a crise sanitária.
Pelo lado da economia, Gouvea disse que o país vai para o terceiro mês de auxílio emergencial, mas que muitas pessoas não conseguiram o benefício. "Pequenos empresários estão em busca de crédito, mas também não estão conseguindo. Temos também indicadores de mercado de trabalho se deteriorando", citou.
Para especialista, o mais provável, no momento, é que o indicador fique na faixa dos 180 pontos, no curto prazo, com possibilidade de oscilar entre 160 a 170 no fim do ano.
Fonte: G1