A queda do Produto Interno Bruto (PIB) em Minas Gerais, no primeiro trimestre deste ano, pôde ser vista em todas as bases de comparação. De acordo com os dados da Fundação João Pinheiro (FJP), a retração foi de 2% nos três primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado.
Já quando avaliado o primeiro trimestre de 2020 com o último de 2019, o recuo foi de 1,8%. Por fim, houve queda de 0,9% nos 12 meses completados em março na comparação com os 12 meses anteriores (variação anualizada). As estimativas preliminares mostram um total de R$ 153,6 bilhões para o PIB do período no Estado a preços correntes.
Conforme destaca a entidade, os números mais baixos são também um reflexo da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). No entanto, de acordo com o pesquisador e coordenador de contas regionais da FJP, Raimundo Leal, as medidas de isolamento social, adotadas como forma de combate à doença, correspondem a 1/6 das 12 semanas do primeiro trimestre. As ações foram tomadas em meados do mês de março.
Indústria
Sendo assim, outros fatores também influenciaram a queda do PIB em Minas Gerais no período. O setor mais afetado no primeiro trimestre em comparação ao trimestre imediatamente anterior foi o da construção, com recuo de 4,1%. A indústria, de forma geral, retraiu 2,6% nessa mesma base de comparação, 6,6% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado e 4,3% na variação anualizada.
Embora não bata o martelo no que diz respeito aos motivos para o recuo na construção, Raimundo Leal pontua que uma hipótese é a de que “a recuperação do setor de 2018 a 2019 em Minas foi mais intensa do que no Brasil. As empresas locais, no fim do ano passado, se deram conta de que estavam se aproximando da saturação muito rapidamente”, diz ele. Sendo assim, os empreendimentos do segmento trataram de responder a esse cenário.
A FJP acrescenta que “além do ritmo mais lento em obras de infraestrutura que vigorava no período pré-pandemia, o mercado imobiliário foi prejudicado com o distanciamento social (sobretudo a partir de março)”.
De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Geraldo Linhares, a pandemia teve, sim, seus impactos no setor. Para ele, não fosse a crise na saúde que refletiu na economia, este ano seria de uma recuperação consciente e perene do segmento.
Todavia, afirma, a área, mesmo assim, no primeiro trimestre deste ano estava melhor do que no último trimestre do ano passado, pelo menos no que diz respeito às obras privadas. A queda nas obras públicas, conforme o presidente do Sinduscon-MG, ajudam a justificar a queda de 4,1% do segmento nos três primeiros meses de 2020.
De acordo com Linhares, quando se compara o primeiro trimestre deste ano com o mesmo período do ano passado, houve acréscimo de 100% no número de unidades lançadas e de 25% no Valor Geral de Vendas (VGV). “Em abril de 2020, ainda tivemos 8,5% menos demissões do que em abril de 2019”, afirma.
Seguida à construção civil, a maior queda verificada no primeiro trimestre deste ano em relação ao trimestre anterior foi em energia e saneamento, de 3,7%. Em comparação ao primeiro trimestre do ano passado, a retração foi de 1,1%.
A indústria extrativa mineral, por sua vez, recuou 2% no primeiro trimestre em relação ao anterior, 30,7% na comparação com o mesmo período de 2019 e 30,1% na variação anualizada. Segundo a FJP, a queda está relacionada ao adiamento do retorno das operações de diversas minas no Estado.
Serviços
O setor de serviços teve queda de 1,8% no primeiro trimestre deste ano em relação aos últimos três meses de 2019. Na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, a retração foi de 1%. Na variação anualizada, houve crescimento de 0,3%.
Dentro desse grupo, “outros serviços” apresentou a retração mais significativa, de 3,2%, em relação ao último trimestre de 2019. No entanto, a categoria avançou 0,2% na comparação com o mesmo período do ano passado e 1% na variação anualizada.
Conforme ressalta Raimundo Leal, houve uma retração muito grande nos setores em que a interação social é mais intensa por causa das medidas de distanciamento.
Os transportes registraram queda de 1,7% no primeiro trimestre deste ano em relação ao trimestre anterior. Na comparação entre o primeiro trimestre de 2020 e o mesmo período do ano passado, o recuo foi de 5% e de 3,1% na variação anualizada.
Segundo a FJP, em Minas, os três modais foram afetados. “O modal ferroviário teve seu ritmo diminuído em razão do seu encadeamento com o segmento de extração mineral. O aeroviário foi bastante afetado pelas medidas de isolamento social e redução no número de passageiros nos aeroportos (sobretudo em março) e, finalmente, o modal rodoviário também sentiu os efeitos da pandemia, corroborado pela redução nas vendas de combustíveis de petróleo e álcool na economia mineira”, diz a entidade.
O comércio, por sua vez, retraiu 1,5% no primeiro trimestre de 2020 na comparação com os últimos três meses de 2019. Porém, avançou 0,5% no primeiro trimestre em relação a igual período do ano passado e 2,2% na variação anualizada.
Agropecuária destoa e avança no período
Na contramão das quedas, a agropecuária, segundo a FJP, apresentou avanço em Minas no primeiro trimestre deste ano em relação ao último trimestre do ano passado, de 6,7%. O crescimento foi de 10% na comparação entre o primeiro trimestre de 2020 e igual período de 2019. Na variação anualizada, houve queda de 1,4%.
As quatro culturas de maior peso no Estado no trimestre (soja e primeira safra do milho, da batata e do feijão) registraram avanço na produção.
“Vale destacar também que a lavoura da soja foi decisiva para a variação positiva do índice de volume do VAB agropecuário de Minas Gerais, tanto pela elevada participação no VBP agrícola (16,8%) quanto pelo alto percentual colhido no primeiro trimestre e, principalmente, pela magnitude da variação projetada na comparação anual de 2020 com 2019 (10,6%)”, diz a FJP.
O que a economia reserva para Minas Gerais, conforme ressalta o pesquisador e coordenador de contas regionais da FJP, Raimundo Leal, ainda é difícil de saber. No entanto, ele afirma que a recuperação em V (quando há uma queda grande nos números e um crescimento rápido posteriormente) é a mais improvável no momento.
O pesquisador destaca que um dos motivos para que as perspectivas não sejam tão boas tem a ver com o fato de as medidas de isolamento social não terem sido feitas com a intensidade requerida.
Fonte: Díario do Comércio