Após tombo recorde em abril, as vendas do comércio varejista cresceram 13,9% em maio, na comparação com o mês anterior, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a maior alta da série histórica da pesquisa, iniciada em janeiro de 2000.
Apesar do forte avanço, o resultado de maio foi insuficiente para o setor se recuperar da perda de 19,1% no acumulado em março (-2,8%) e abril (-16,3%), diante dos impactos da pandemia de coronavírus e das medidas de isolamento social. Na comparação com maio de 2019, o varejo brasileiro teve queda de 7,2%, terceira taxa negativa consecutiva, evidenciando o nível ainda bem baixo da atividade do setor.
O IBGE revisou o resultado de abril. A queda foi de 16,3%, e não de 16,8% como divulgado anteriormente. Já o recuo de março foi atualizado para uma queda de 2,8%, acima da leitura inicial de recuo de 2,5%. O resultado veio acima do esperado pelo mercado. A expectativa em pesquisa da Reuters era de alta de 6% na comparação mensal e de queda de 12,1% sobre um ano antes.
"Foi um crescimento grande percentualmente, mas temos que ver que a base de comparação foi muito baixa. Se observamos apenas o indicador mensal, temos um cenário de crescimento, mas ao olhar para os outros indicadores, como a comparação com o mesmo mês do ano anterior, vemos que o cenário é de queda", afirma o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
No acumulado do ano, o varejo registra queda de 3,9%. Já em 12 meses, o setor mostrou perda ainda maior de ritmo, ao passar de uma alta de 0,6% em abril para variação zero em maio. Com o resultado de maio, o patamar atual de vendas está 12,3% abaixo do recorde alcançado em outubro 2014. Já a receita nominal do varejo brasileiro cresceu 9,9% em maio, em relação a abril, mas caiu 5,2% ante maio de 2019.
Alta em todas as atividades e em todas as regiões
Todas as oito atividades observadas no comércio varejista registraram taxas positivas na passagem de abril para maio, com destaque para tecidos, vestuário e calçados (100,6%). Apesar do salto, essa atividade segue muito distante do patamar pré-pandemia e continua entre as mais afetadas pelas medidas de isolamento e menor consumo das famílias. Em fevereiro, o índice de base fixa para a categoria era de 89,3%. Em março, caiu para 51,6%, chegando a 16% em abril. Em maio, subiu para 32,1%.
Outras altas expressivas em maio foram registradas nas vendas de móveis e eletrodomésticos (47,5%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (45,2%), categoria que inclui as lojas de departamentos, óticas, joalherias, artigos esportivos e brinquedos. Já o setor de supermercados, que tinha recuado em abril, cresceu 7,1% em maio.
O comércio varejista ampliado, que inclui também as atividades de veículos, motos, partes e peças e de material e construção, cresceu 19,6% em relação a abril e caiu 14,9% na comparação interanual. No acumulado no ano, a queda é de 8,6% e, em 12 meses, o recuo é de 1%.
Veja o desempenho de cada atividade do varejo em maio:
Combustíveis e lubrificantes: 5,9%
Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo: 7,1%
Tecidos, vestuário e calçados: 100,6%
Móveis e eletrodomésticos: 47,5%
Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria: -10,3%
Livros, jornais, revistas e papelaria: 18,5%
Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação: 16,6%
Outros artigos de uso pessoal e doméstico: 45,2%
Veículos, motos, partes e peças: 51,7% (varejo ampliado)
Material de construção: 22,2% (varejo ampliado)
A pesquisa mostra também que houve crescimento das vendas nas 27 unidades da federação. Entre os maiores destaques estão Rondônia (36,8%), Paraná (20,0%) e Goiás (19,4%). O varejo de São Paulo mostrou crescimento de 9,2%, enquanto no Rio de Janeiro a alta foi de 8,5%. Apenas três estados, porém, alcançaram níveis de venda do varejo superiores ao de fevereiro, período da pré-pandemia no país: Santa Catarina, Mato Grosso e Paraná.
'Pior já passou'
O resultado reforça a leitura de que o pior da crise pode já ter ficado para trás. Na semana passada, o IBGE mostrou que a produção industrial cresceu 7% em maio, após 2 meses de queda e de um tombo recorde em abril (-18,8%). "O mês de abril foi o mais difícil para as empresas. Olhando até maio, o pior já passou", avaliou o gerente da pesquisa.
De acordo com o pesquisador, em março, 43,4% das empresas do varejo que tiveram queda na receita justificaram que o impacto negativo partiu do isolamento social. Em abril, esse percentual subiu para 63,1%, uma alta de 19,7 pontos percentuais. Já em maio, caiu para 44,5% - uma redução de 18,6 p.p.
"Todas as grandes categorias do setor varejista (bens de consumo duráveis, semi-duráveis e não duráveis) apresentaram expansão na comparação mensal de maio, mas o que mais chamou a atenção foram as vendas de supermercados (7,1%) e veículos, motos e peças (51,7%), que juntos respondem por cerca de 54,7% da pesquisa", avaliou a equipe da XP Investimentos.
Impactos da pandemia e perspectivas
Apesar os sinais de reação da economia, economistas destacam que a recuperação das perdas com a pandemia de coronavírus deverá se dar de maneira muito gradual em meio a um cenário ainda repleto de incertezas, elevado desemprego e risco de novas quarentenas.
O Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), da Fundação Getulio Vargas (FGV), avalia que o Brasil entrou em recessão já no 1º trimestre, sem ter recuperado todas as perdas da recessão de 2014-2016.
A pesquisa Focus mais recente do Banco Central mostra que a expectativa do mercado é de retração de 6,50% para a economia brasileira este ano, indo a um crescimento de 3,50% em 2021.
Em 2019, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB cresceu 1,1%. Foi o desempenho mais fraco em três anos. Nos três primeiros meses de 2020, foi registrada uma retração de 1,5% na economia brasileira.
Fonte: G1