Compras externas de bens de consumo cresceram 8% de janeiro a maio, enquanto importações totais caíram 27%
A queda do dólar e a manutenção do poder de compra do consumidor estão estimulando o aumento das importações de calçados, roupas, bebidas e remédios em plena crise global. As compras externas de bens de consumo não-duráveis cresceram 8% de janeiro a maio, um ritmo inferior ao de 2008, mas na contramão das importações totais, que caíram 27%.
Se a moeda americana ficar abaixo de R$ 2, os varejistas avaliam que a presença de importados vai aumentar nas lojas e nas prateleiras dos supermercados no segundo semestre. O fenômeno pode atingir os eletrodomésticos, caso a oferta de crédito siga se recuperando.
De janeiro a maio, as importações de vestuário cresceram 42% ante o mesmo período de 2008, para US$ 418,5 milhões, conforme a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Nos calçados, a alta foi 21%, para US$ 148 milhões, segundo a Associação Brasileira da Indústria Calçadista (Abicalçados). As importações de bebida e tabaco subiram 23,5%, diz a Secretaria de Comércio Exterior.
Os produtos importados estão mais presentes no dia a dia, mas o impacto para a balança comercial é reduzido, pois os bens de consumo não-duráveis representam apenas 8% das importações. Mas a entrada desses produtos no País é problemática para alguns setores que empregam muito. Nos têxteis, por exemplo, foram fechadas 10.378 vagas de janeiro a abril.
Sandro Benelli, diretor de compras globais do grupo Pão de Açúcar, afirma que vai vender mais importados, como alimentos e vinho, mas não revelou o porcentual. As negociações com fornecedores no exterior para os produtos de fim de ano devem ser finalizadas em julho. Mesmo com o dólar a R$ 2,4 no início da crise, as vendas do Pão de Açúcar de objetos de decoração e utensílios domésticos importados cresceram 30% no Dia das Mães. Na Páscoa, foram vendidos 10% mais importados. "Fui pessoalmente até a Noruega renegociar o preço do bacalhau depois que o câmbio estourou", conta Benelli.
Segundo Sylvio Mandel, presidente da Associação Brasileira da Empresas do Varejo Têxtil (Abeim), que reúne redes como C&A, Riachuelo e Lojas Renner, a cotação atual do dólar favorece a importação. "Quando a coleção de inverno chegou, o dólar estava a R$ 2,4, agora baixou para R$ 1,95, o que é bom, mas ninguém vai comprar só para aproveitar preço, porque estamos com o pé no chão", disse. Segundo ele, as vendas de junho têm sido "excelentes" por causa do frio, com alta de 30% a 35% ante o mesmo mês de 2008.
Fernando Ribeiro, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), explica que as importações de bens de consumo não-duráveis seguem o desempenho do varejo, porque dependem da renda, que foi preservada pelo aumento do salário mínimo e pela inflação controlada. Para Fernando Sampaio, economista da LCA Consultores, o dólar barato vai favorecer a importação de bens de consumo, porque reduz preços num momento que a demanda volta a crescer. O esforço exportador da China também vai incentivar as importações do Brasil, um dos poucos mercados do mundo que cresce em meio à crise.
Veículo: O Estado de S.Paulo