Poder competitivo da China tira mercado do Brasil na Argentina

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Com preços imbatíveis, os produtos chineses continuam tomando espaço do Brasil no mercado argentino, apesar da forte queda das importações do país, tanto do Brasil quanto da China. Dados compilados pela consultoria Abeceb.com, que acompanha de perto a evolução do comércio exterior argentino, mostram que as barreiras levantadas contra os produtos importados não foram suficientes para conter a entrada de produtos chineses nem o desvio de comércio com o Brasil, principal sócio do Mercosul. Para uma queda de 35,3% das importações em geral no primeiro trimestre de 2009, as compras no Brasil retrocederam 45,4%, enquanto as da China caíram 25%.

 

"Sem dúvida há uma vantagem de preço importante", explica o economista Mauricio Claveri, responsável pelas análises de comércio exterior da Abeceb.com. "Os setores produtivos argentinos que usam insumos importados preferem trazer da China, porque é mais barato", afirma Claveri, lembrando que essa tendência é mais acentuada na fabricação de bens de consumo como calçados e têxteis, mas que também está aumentando em químicos, ferramentas, bens de informática e tecnologia (como notebooks, laptops, jogos e câmeras).

 
 
A partir de novembro, o governo argentino reformulou sua política de defesa comercial, renovando toda a lista de produtos sujeitos a supervisão nas aduanas, ampliando a relação de itens submetidos a licenciamento não automático (que atrasa a liberação das mercadorias), medidas antidumping (processos por concorrência desleal), compromissos de preços e acordos de restrição voluntária de exportações. O resultado é que, atualmente, estas barreiras alcançam 609 posições tarifárias, equivalentes a importações de US$ 6,632 bilhões, ou 11,6% do total importado.

 

A relação é mais desfavorável para a China, que teve 20,1% das exportações para a Argentina afetadas por aquelas barreiras, enquanto o Brasil teve 14,8%. Os produtos mais atingidos pelas novas restrições são calçados (96%), material de transporte (especialmente motos e bicicletas, 82%), brinquedos (48%), têxtil e confecções (42,3%). "No entanto, sobre esses mesmo setores se produz o desvio de comércio do Brasil em favor da China", destaca Claveri.

 

As restrições às importações levaram o país a um saldo positivo de US$ 2,3 bilhões na balança comercial em abril, um recorde histórico. No acumulado do primeiro quadrimestre, a Argentina registra superávit de US$ 5,855 bilhões, 43% maior que o registrado no mesmo período de 2008. Do lado das exportações, embora continuem caindo na comparação com o ano anterior, agora caem menos: em abril houve declínio de 13%, contra 16% em março e 25% em fevereiro.

 

A distorção que favorece a China em detrimento do Brasil vem de muito tempo, na verdade desde que a economia argentina retomou o crescimento no período pós-crise, de 2003 em diante. Mas ficou mais evidente a partir do fim do ano passado, e início deste, com a atividade econômica no país entrando em declínio por conta do recrudescimento da inflação e pela crise mundial. No período 2007-2008, enquanto as importações junto ao Brasil aumentaram 23%, as da China cresceram 38%, levando os asiáticos a galgarem espaços deixados pelo Brasil em diversos setores.

 

Há um rumor de que novas medidas de restrições estão a caminho. Em reunião com empresários, na semana passada, o secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, teria pedido que os importadores passassem a exportar para que tivessem liberados seus produtos parados nas aduanas. Claveri acha que uma medida como essa não teria amparo legal, porque fere não apenas regras internas, mas também acordos internacionais.

 

Veículo: Valor Econômico


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