Os setores tradicionalmente deficitários estão garantindo um maior superávit para a balança comercial brasileira em meio à crise global. A queda abrupta nas importações de químicos, eletrônicos, petróleo e outros insumos mais do que compensaram as exportações mais fracas.
De acordo com dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), o déficit desses setores encolheu US$ 3,1 bilhões no primeiro trimestre de 2009 em relação a igual período do ano anterior. O resultado mais do que compensou a redução de US$ 2,3 bilhões no saldo dos setores superavitários.
Graças a isso, o superávit da balança comercial registrou um pequeno aumento de US$ 251 milhões no primeiro trimestre, depois de descontada a variação negativa de US$ 545,7 milhões de setores não incluídos no estudo. No acumulado de janeiro a maio, o superávit chega a US$ 9,34 bilhões, quase US$ 800 milhões a mais que igual período de 2008.
Segundo Fernando Ribeiro, economista da Funcex, o saldo comercial melhorou porque a velocidade de queda das importações brasileiras surpreendeu. As compras externas do país foram muito afetadas pela redução brusca da produção industrial, pela substituição de insumos importados por nacionais e também pela queda das exportações.
Ao reduzir as exportações, as empresas também importam significativamente menos, principalmente aquelas que possuem um alto nível de conteúdo importado em seus produtos, como por exemplo os fabricantes de celulares. "O impacto da exportação sobre a produção industrial nesta crise foi maior do que se imaginava", disse Ribeiro.
Entre as maiores contribuições para o saldo da balança neste primeiro trimestre estão a redução dos déficits de extração de petróleo (US$ 1,2 bilhão a menos), material eletrônico e de comunicações (US$ 980 milhões) e produtos químicos (US$ 835 milhões). Apenas em máquinas e equipamentos, o rombo aumentou em US$ 733,5 bilhões, porque a exportação caiu muito e não foi acompanhada no mesmo ritmo pela importação.
Nos setores superavitários também ocorreram reduções importantes em suas contas externas tradicionalmente positivas. Em veículos, por exemplo, o superávit encolheu US$ 983 milhões. Também houve quedas significativas nos saldos dos setores de metalurgia básica (US$ 922,5 milhões), outros equipamentos de transporte (US$ 747 milhões), produtos alimentícios e bebidas (US$ 605 milhões).
De acordo com Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), o setor reduziu muito seus estoques por conta da crise, o que provocou uma queda significativa das importações de componentes. Os dados da Abinee apontam uma queda de 29% no déficit do setor eletroeletrônico de janeiro a abril deste ano. Barbato estima que 2009 deve terminar com um déficit 15% menor que 2008.
Ele explicou que o mercado interno deu sinais de reação em maio, após um abril bastante fraco. Se as vendas internas se recuperarem, diz o executivo, a tendência é que as importações também recuperem um pouco do antigo vigor, já que esse setor é obrigado a comprar no exterior uma série de componentes, que não são produzidos no país.
No setor químico, o nível mensal de importações foi diretamente atingido pela crise, saindo de US$ 3 bilhões em setembro de 2008 para US$ 1,65 bilhão em abril, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). De acordo com Nelson Pereira dos Reis, diretor-executivo da entidade, as importações foram prejudicadas pela queda da produção industrial e pela falta de crédito.
Ele explicou que as empresas brasileiras estão comprando mais insumos químicos nacionais, por conta de preços mais atrativos e da dificuldade de prever a demanda futura. Ao comprar internamente, as companhias fazem menos estoque. O executivo também estima que as importações devem se recuperar um pouco até o fim do ano, mas mesmo assim aposta em queda do déficit em 2009.
Veículo: Valor Econômico