Samantha Maia, de São Paulo
A indústria brasileira tem conseguido recuperar ganhos de produtividade este ano baseada na retomada gradual da produção com um número menor de empregados ou de horas trabalhadas. Abril foi o quarto mês consecutivo de recuperação da produção - 1,1% sobre março na série com ajuste sazonal -, enquanto o número de horas pagas caiu 0,4% na mesma comparação, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado garantiu um ganho de 1,5% da produtividade do setor.
A recuperação da produtividade nos dados mensais vem desde janeiro, mas não aparece na comparação com 2008. Em relação ao ano passado, a combinação de produção e horas pagas ainda é muito ruim. No primeiro quadrimestre ela encolheu 9,9%.
A evolução negativa do emprego em abril contrariou as expectativas dos economistas, que apostavam na retomada das contratações em abril. Analistas ouvidos pelo Valor dizem que os níveis de produção precisam se fortalecer mais para incentivar a recontratação.
"Os números da produção ainda não mostram recuperação, e sim um ajuste, onde as empresas ficam de olho na demanda imediata e recompõem seus estoques, ainda sem sinais de fortalecimento da demanda futura", diz Rogério César Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Com esse cenário, Souza diz que a expectativa é de que o emprego apenas se estabilize no segundo semestre. "O quadro do emprego é ruim, mas o ritmo de queda tem caído mês a mês, o que mostra um ajuste menos intenso", diz.
Até um mês atrás, Fábio Romão, economista da LCA Consultores, projetava um saldo no ano de 3,3 mil postos de trabalho na indústria. A não confirmação da recuperação do mercado de trabalho em abril mudou fortemente sua expectativa, e a projeção para o ano passou a ser de um fechamento de 51 mil postos. "O ajuste da mão de obra foi muito intenso na indústria e, de acordo com uma projeção de queda de 3,3% da produção no ano, a minha avaliação é de que a recuperação do emprego virá com um número bem fraco na margem", diz Romão.
A evolução negativa do nível de emprego industrial, que apresentou queda de 0,7% em abril sobre março, também impactou as projeções de Ariadne Vitoriano, analista de atividade da Tendências Consultoria. Os dados do IBGE sinalizam que ainda pode haver uma queda do emprego em maio, segundo a economista. "Era esperado um ritmo mais forte de melhora da produção. Como ele não veio, o fim do ajuste na mão de obra tem sido postergado", diz ela.
Os economistas afirmam que a trajetória de queda do emprego deve se esgotar a partir do segundo semestre. Atrelada a essa análise está a projeção de que a indústria conseguirá produzir mais, considerando uma resposta da economia externa aos incentivos do governo americano e uma efetivação de investimentos internos puxados principalmente pelo setor público, como a construção de casas incentivadas pelo programa federal Minha Casa, Minha Vida.
Enquanto isso, destaca André Macedo, analista do IBGE, a queda profunda da produção em dezembro com uma redução menos forte do emprego tem permitido à indústria assumir um patamar levemente mais elevado de produção sem precisar contratar. "Os resultados positivos da produção não estão se refletindo no mercado de trabalho porque as empresas ainda tinham capacidade para assumir esse crescimento da demanda", diz. O fato das horas pagas continuarem caindo é um sinal ruim, já que antes de contratarem, as companhias utilizam horas extras de seus funcionários.
Em relação a abril de 2008, a redução do pessoal ocupado foi de 5,6%, segundo o IBGE, maior queda desde o início da série histórica da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), em 2001. No ano, o emprego industrial acumula queda de 4,4% na comparação com igual período de 2008. Nos 12 meses fechados em abril, a retração acumula 0,4%.
A pesquisa mostra também que de março para abril a folha de pagamento dos trabalhadores da indústria recuou 0,2% e, no confronto com abril do ano passado, a retração foi de 1,8%. No acumulado de 12 meses, porém, ela teve alta de 3,7%, resultado que pode ter sido influenciado pela inflação menor do período, segundo Romão, da LCA.
Em termos setoriais, as demissões superaram as contratações em 11 dos 18 ramos investigados na comparação entre os meses de abril dos dois anos, principalmente máquinas e equipamentos (-10,0%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (-10,0%), metalurgia básica (-9,4%) e borracha e plástico (-9,3%). (Com agências noticiosas)
Veículo: Valor Econômico