José Guerra
SÃO PAULO - A opção por agir sem grande agressividade e com uma atuação mais restrita dentro do Sistema Financeiro Nacional pode levar aos bancos estrangeiros com atuação no País a perderem espaço para as instituições privadas nacionais. Nesse cenário, o espanhol Santander e o inglês HSBC seriam exceções, graças à atuação forte no varejo, com pessoa física e jurídica.
Para o diretor da InterCapital Finanças, Fábio de Carvalho Pinto, a baixa oferta de produto das instituições estrangeiras deve começar a refletir em perda de fatias de mercado. "Grande parte dessas instituições têm um foco maior em negócios com empresas de seus países de origem, onde já mantêm relações com as matrizes." Ou eles se tornam mais agressivos, ou vão começar a perder lugar no ranking das instituições no País. "Os bancos legitimamente nacionais estão se consolidando e alcançando posição de destaque também entre as instituições internacionais", acredita.
Para o analista, o estopim da queda dos bancos de fora do Brasil pode ter sido o pedido do Banco Central de que as instituições estrangeiras fechem seus escritórios de representação no País. "Isso mudou o quadro. Há um fortalecimento do mercado bancário nacional consolidado, em detrimento daqueles que não tinham uma atuação agressiva."
Por outro lado, entre os estrangeiros, as instituições com uma atuação mais forte no varejo, com produtos para indivíduos e médias e grandes empresas, como o HSBC e o Santander, devem sair fortalecidos. "O que os diferencia é que possuem uma atuação forte no varejo, com uma gama de serviços variados tanto para pessoa física como jurídica". Enquanto essas instituições ofereceram todos os serviços acessíveis a indivíduos e empresas, continua Carvalho Pinto, outros bancos comerciais, como o Citibank, trabalham com um público mais restrito, com maior identificação com a instituição e maior poder aquisitivo, e vai ficando distante dos líderes no mercado nacional.
"Itaú, Bradesco e Santander possuem uma grande rede de agências, têm capilaridade, e por isso eles têm um custo mais apropriado, ao contrário do Citi." Além disso, o Santander informa que mantém os planos de investimento no País, com a intenção de crescer e chegar a uma fatia de mercado de até 15% em 2010, ante os 11% ao fim de 2008. Os investimentos chegariam a R$ 2,5 bilhões, sendo a maior parte em tecnologia da informação.
Investimento
De acordo com o analista, os bancos de investimento internacionais também devem perder espaço. "É nítido o fortalecimento de instituições como Itaú BBA, Bradesco BBI e BB Investimentos [que tem o Banco do Brasil como controlador]. Eles devem ocupar o espaço dos bancos de investimentos estrangeiros, que tiveram problemas com a matriz." Na opinião dele, essas instituições deverão começar um processo de reconstrução de suas operações no Brasil.
Carvalho Pinto cita o exemplo do das recentes negociações das unidades no País do UBS Pactual - para o BTG Investments, do empresário André Esteves - e das operações do Dresdner Bank para a MTTG Holding, do banqueiro Luiz Cezar Fernandes.
"Isso mostra que os bancos de investimento perderam espaço para players brasileiros", aponta o analista da InterCapital.
"Os bancos brasileiros sairão mais fortalecidos da crise, uma vez que reagiram com mais força e consistência." Fábio de Carvalho Pinto ainda acredita que os bancos brasileiros e as instituições financeiras nacionais, de modo geral, como bancos de investimentos, deverão se tornar líderes de emissões primárias e secundárias. "Os bancos estrangeiros perderam espaço, não são mais os maiores responsáveis por atrair investidores internacionais ao mercado interno, seja para o mercado de ações, seja para mercado de emissão de dívida [renda fixa]", termina.
A opção por agir sem grande agressividade e com uma atuação mais restrita dentro do País pode levar os bancos estrangeiros com atuação no País a perder espaço.
Veículo: DCI