Sergio Leo, de Brasília
O faturamento em queda, o desemprego recorde, a redução das horas trabalhadas e a diminuição do poder de compra dos assalariados da indústria, em abril deste ano, levam os economistas da Confederação Nacional da Indústria (CNI) a defender que a valorização do real em relação ao dólar já ajuda a interromper o débil processo de recuperação das empresas industriais, iniciado há dois meses. Segundo o relatório Indicadores Industriais, da CNI, divulgado ontem, só um dado positivo foi registrado em abril: a maior ocupação da capacidade nas fábricas, confirmando o aumento na produção.
A massa salarial, produto do comportamento dos empregos e dos salários, decresceu, na indústria pelo segundo mês seguido, e foi, em abril, 2,7% menor que no mesmo mês do ano anterior. Esse indicador revela a perda de poder aquisitivo dos empregados da indústria, que têm papel importante na sustentação do consumo de mercadorias de maior valor. A recuperação das vendas do varejo vem se sustentando principalmente pelos aumentos nas transferências de renda dos programas governamentais e no aumento do salário mínimo para outras categorias de trabalhadores.
"O mercado de trabalho não vai se recuperar tão cedo, deve ficar, neste ano, em níveis abaixo dos de 2008", previu o economista-chefe da CNI, Flávio Castelo Branco. A redução na massa salarial se deve à queda forte no emprego industrial, apesar da retomada na produção. O indicador dessazonalizado, que exclui efeitos típicos do mês, mostrou uma redução no emprego industrial de 1,1% em relação ao mês anterior, a maior taxa negativa em seis anos, que leva o volume de empregos ao mesmo patamar de setembro de 2008.
Esses índices foram acompanhados da estabilização das horas trabalhadas na produção e da queda no faturamento, que só não caiu em quatro setores, dos 19 da indústria de transformação. Escaparam da tendência geral os setores de minerais não metálicos, alimentos e bebidas, edição e impressão e o de "outros equipamentos de transporte" (aviões, equipamentos ferroviários, veículos especiais). A queda foi mais pronunciada em produtos de madeira (35%), máquinas e equipamentos (34%) e artigos de borracha e plástico (20%).
Em março, só havia caído o faturamento em seis setores; e, para toda a indústria, a variação do faturamento ficou pior em abril que em março. Na média, a queda foi de 10,7% na comparação entre abril de 2009 e abril de 2008. "Houve recuperação neste ano, mas ainda há um pouco de volatilidade", comentou o economista da CNI Marcelo de Ávila. "Há sinais de recuperação, mas não são dominantes", confirma Castelo Branco. Ele defende que só a recuperação internacional e, especialmente, a decisão de reduzir significativamente as taxas de juros poderão sustentar a continuidade da retomada do crescimento na indústria. "Cortar os juros em 0,75% não seria má ideia", comentou.
O único sinal positivo dos indicadores industriais foi a redução da ociosidade da indústria, com um aumento de 0,5 ponto percentual na utilização da capacidade instalada, de março para abril. A indústria passou a trabalhar, em média, com 78,7% da capacidade - no indicador dessazonalizado, esse percentual é de 79,2%. A ocupação da capacidade na indústria ficou, nos primeiros cinco meses do ano, 4,7% abaixo do patamar alcançado no mesmo período do ano passado.
A pequena queda na ocupação da capacidade da indústria de máquinas e equipamentos mostra que há espaço para recuperação dos investimentos sem risco de se esbarrar em pressões superiores à oferta, segundo avaliou o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.
Para Castelo Branco, ainda é impossível verificar uma tendência para a produção industrial, devido à heterogeneidade na situação da capacidade ociosa, que caiu em 17 setores industriais, se comparado o mês passado com abril de 2008, mas teve queda menor do que a verificada em março, comparado a março do ano passado. "Por esses fatores dizemos que estamos em transição, para uma possível recuperação só no segundo semestre", prevê o economista.
Produção em abril tem queda em sete regiões
Do Rio
A produção industrial cresceu no mês de abril em sete das 14 regiões incluídas na Pesquisa Industrial Regional Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados divulgados ontem (dia 4) mostram que a maior expansão ocorreu no Espírito Santo, onde a produção cresceu 7,1% em relação a março, com ajuste sazonal. Em seguida, estão Goiás e Rio Grande do Sul (ambos com expansão de 2,3%) e Ceará (1,7%). Nesses locais, os índices superaram a média nacional, que no período teve incremento de 1,1%.
O levantamento do IBGE indica ainda expansão nas produções de São Paulo (1%), Minas Gerais (0,6%) e Santa Catarina (0,5%). Por outro lado, houve queda na produção industrial de março para abril na Bahia (11%), no Nordeste (5,1%), Amazonas (5%), Pará (3,6%), em Pernambuco (3,5%), no Rio de Janeiro (0,5%) e no Paraná (0,1%). Em relação a abril de 2008, os 14 locais pesquisados registraram recuo, sendo que as quedas mais acentuadas ocorreram no Espírito Santo (26,7%), em Minas Gerais (21,6%), no Amazonas (21,1%) e na Bahia (20,4%). Com recuo abaixo da média nacional (14,8%) destacaram-se Paraná (2,8%), Ceará (2,9%), Rio de Janeiro (3,9%) e Goiás (4,2%). O IBGE informou em seu levantamento que a queda deveu-se à base elevada de comparação e também ao fato de abril de 2009 ter tido um dia útil a menos que o mesmo mês do ano passado.
Relatório divulgado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) associou os resultados menos favoráveis de alguns Estados à queda de produção nos setores de bens de capital, bens de consumo duráveis e de setores voltados para a exportação de commodities industriais, como minérios de ferro e produtos siderúrgicos. Tomando a evolução da variação na média móvel trimestral, a produção da indústria geral teve queda de 13,7% no trimestre até abril. No Espírito Santo e em Minas Gerais, as quedas no mesmo intervalo foram de 29,4% e 21,5%.
No quadrimestre, a indústria registrou queda de 14,7%. A retração mais intensa também ocorreu no Espírito Santo (30,3%) e em Minas Gerais (23,5%), além de Amazonas (19,8%), Rio Grande do Sul (16,4%), São Paulo (15,4%) e Santa Catarina (15,0%).(Agências noticiosas)
Veículo: Valor Econômico