Governo garante 62% da alta da renda este ano, diz economista

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Reajustes do funcionalismo público, do salário mínimo e do Bolsa-Família movimentam R$ 26,5 bi

 

Jacqueline Farid, RIO

 

Os aumentos do funcionalismo público, do salário mínimo e dos benefícios do programa Bolsa-Família deverão garantir 62% (R$ 26,5 bilhões) do acréscimo de R$ 42,9 bilhões no total da massa real de rendimentos no Brasil este ano, em relação ao ano passado. Esse reforço vai evitar um desempenho pior do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, segundo estudo do economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale.

 

A situação é bem diversa da verificada no ano passado. Segundo o levantamento da MB, do aumento de R$ 83,5 bilhões na massa real de renda em 2008 ante 2007, somente 17% foram consequência de decisões tomadas pelo governo.

 

Este ano, dos R$ 26,5 bilhões de aumento da massa real de renda a serem garantidos por decisões do governo, R$ 500 milhões virão do Bolsa-Família, R$ 8,6 bilhões do aumento do salário mínimo e R$ 17,47 bilhões do reajuste do funcionalismo.


Segundo Vale, o aumento de renda impulsionado pelo governo garantirá a expansão de pelo menos 1,2% no consumo das famílias em 2009. Esse item representa 60% do PIB pela demanda, que inclui a Formação Bruta de Capital Fixo e o consumo do governo.

 

Vale é um dos economistas que preveem variação perto de zero para o PIB este ano. Segundo o último relatório Focus, o PIB em 2009 terá queda de 0,73%. A estimativa do governo é de aumento de 1%.

 

Os efeitos do consumo das famílias no desempenho da economia este ano serão mais acentuados no segundo semestre, já que "o grosso do aumento" do funcionalismo está programado para junho e o Bolsa-Família vai incorporar 500 mil famílias em agosto e mais 500 mil em outubro. Além disso, o valor do benefício também aumentará.

 

"Por isso, a MB tem a expectativa de estagnação do PIB e não de quedas muito fortes, pois os estímulos de renda devem dar suporte razoável ao consumo das famílias", disse Vale. Ele explicou que a estimativa de aumento de 1,2% no consumo familiar é "um piso", já que foi projetada levando-se em consideração apenas os aumentos do salário mínimo do funcionalismo e do Bolsa-Família.

 

Ainda de acordo com Vale, o segundo semestre mostrará o início do processo de recuperação da economia, que ocorrerá pelo aumento da demanda doméstica. "A política monetária expansionista já deverá começar a surtir efeitos no começo do semestre que vem e, de outro lado, por pior que seja a qualidade da política fiscal, ela tem potencial de mitigar em parte a queda da demanda, basicamente via aumento das transferências de renda", afirmou.

 

CLASSE MÉDIA

 

Para o economista, no curto prazo está claro o efeito positivo dos acréscimos de renda determinados pelo governo. Mas ele alerta que as consequências podem ser nefastas no médio e longo prazos, já que geram aumento de gastos. "O governo optou pelo caminho mais fácil para estimular o consumo, mas não significa que seja o melhor", disse. Segundo ele, o melhor caminho seria elevar os investimentos.

 

Segundo o estudo, os ganhos das classes média e média alta vão cair mais de dez vezes em 2009. "A classe média havia sido o fator crucial de aumento de renda em 2008, mas este ano o aumento de consumo dependerá essencialmente do salário mínimo, do funcionalismo e do Bolsa-Família", disse Vale.

 

O estudo da MB estima que o crescimento da massa real de renda será de R$ 10,6 bilhões para a faixa entre dois e três salários mínimos e de R$ 1,4 bilhão para a faixa acima de 20 salários mínimos. Em 2008, a faixa de dois a três mínimos teve acréscimo de R$ 7,2 bilhões e a de mais de 20 salários, de R$ 19,4 bilhões.

 

"As classes média e média alta, que foram as estrelas do crescimento da massa de renda nos últimos dois anos, passam a crescer menos em 2009." Segundo Vale, a mudança decorre, basicamente, da crise, já que a população nessa faixa de renda sofreu mais com o aumento do desemprego em 2009.

 

FRASE

 

Sérgio Vale
Economista-chefe da MB Associados

 

"Por isso, a MB tem a expectativa de estagnação do PIB e não de quedas muito fortes, pois os estímulos de renda devem dar suporte razoável ao consumo das famílias."

 

Veículo: O Estado de S. Paulo


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