Investimentos das estatais federais aumentaram R$ 5,8 bilhões até abril

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 Taxa total em relação ao PIB, porém, deve cair este ano porque as empresas privadas vão na contramão do governo

Lu Aiko Otta, BRASÍLIA

 


As empresas estatais federais pisaram fundo no acelerador dos investimentos este ano. De janeiro a abril, com crise e tudo, já desembolsaram R$ 19,143 bilhões, um aumento de R$ 5,8 bilhões sobre igual período de 2008. Esse desempenho faz parte da estratégia traçada pela área econômica do governo para evitar que o País encerre 2009 com uma queda no Produto Interno Bruto (PIB). Juntos, os investimentos das estatais e do Orçamento federal deverão responder por 70% do crescimento do PIB este ano. Pelas estimativas oficiais, a expansão do PIB será de 1%.

 

Apesar dos esforços do Estado brasileiro em reverter os efeitos da crise, já é dado como certo que, no fim do ano, a taxa de investimentos do total da economia vai apresentar queda, interrompendo trajetória de alta que chegou em 2008 ao recorde histórico de 19% do PIB.

 

A intenção do governo era atingir a marca dos 25% ainda na administração de Luiz Inácio Lula da Silva, mas esse será um objetivo difícil de cumprir.

 

A retração ocorrerá porque o setor privado vem fazendo o contrário do governo: com a crise, desacelerou seus projetos de expansão.

 

TRÊS TURNOS

 

As empresas privadas engavetaram os investimentos a despeito de o governo haver reforçado o principal financiador desses projetos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

 

No primeiro quadrimestre de 2009, o banco registrou queda de 0,7% em seus desembolsos. No caso específico da indústria, a redução foi de 11,8%, puxada pelos fabricantes de veículos e de produtos alimentícios.

 

Na semana passada, o presidente da instituição, Luciano Coutinho, reconheceu que o número de operações de crédito caiu neste início de ano, causando preocupação. Ele acrescentou que atualmente a procura por crédito vem aumentando, de forma que o banco chegará ao fim do ano com desembolsos de R$ 100 bilhões.

 

"Vamos conseguir puxar os investimentos privados de duas formas", disse ao Estado o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. "Uma é assegurando o crédito e a outra é aumentando a confiança do empresariado na economia brasileira."

 

Bernardo comentou que o conservadorismo não atingiu os setores empresariais como um todo. Citou como exemplo o caso do fabricante de computadores Positivo, que vem operando com três turnos. "No mercado de classes C, D e E, quem apostou em retração quebrou a cara." O ministro acredita que os investimentos privados retornarão ainda este ano, diante da aparente tendência de normalização dos mercados internacionais.

 

No curtíssimo prazo, porém, a perspectiva é de más notícias para o governo no fronte econômico. Na semana que vem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai divulgar o resultado do PIB do primeiro trimestre de 2009. O resultado deverá configurar recessão técnica. Essa ocorre quando o país registra dois trimestres consecutivos de queda do PIB - o que ocorreu no último trimestre de 2008 e nos primeiros três meses de 2009.

 

Para governo, desempenho de empresas ainda é fraco



Estatais são pressionadas pelo Planalto a trabalhar mais rápido, mas há gargalos financeiros e burocráticos

BRASÍLIA - Mesmo com a aceleração dos investimentos, as estatais poderiam alcançar um desempenho melhor, segundo avaliações do próprio governo. Empresas como Petrobrás e Valec, que têm obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) sob sua administração, são pressionadas pelo Planalto a trabalhar mais rápido.

 

"Pelo presidente Lula já teríamos terminado tudo", disse ao Estado o presidente da Valec, José Francisco Neves, mais conhecido como Juquinha. A estatal, mantida exclusivamente com verbas do Tesouro Nacional, é responsável pela construção da ferrovia Norte-Sul. Até julho de 2010, a estrada de ferro deverá chegar ao município goiano de Anápolis, superando a marca de 1.500 quilômetros construídos no governo Lula. O trecho já está em obras.

 

Ainda este ano, será lançado o edital para a construção de um novo trecho, que ligará Anápolis a Estrela d?Oeste (SP). Outro edital esperado para o segundo semestre é o da construção de parte de um ramal ligando a Norte-Sul ao Atlântico. A linha irá de Figueirópolis (TO) até Ilhéus (BA), mas o trecho a ser licitado em 2009 é menor: vai até Barreiras (BA). "O Juquinha correu com tudo", afirmou o próprio.

 

No caso das ferrovias, o governo decidiu tocar as obras por conta própria, dado o pouco interesse do setor privado em função da crise. "De um jeito ou de outro, as ferrovias vão sair", diz Neves. A Valec investiu R$ 1,73 bilhão no ano passado e espera desembolsar R$ 3,25 bilhões este ano.

 

ELETROBRÁS

 

Há empresas que se queixam de entraves administrativos de melhoria de desempenho. A Eletrobrás, por exemplo, já desembolsou R$ 1,170 bilhão nos quatro primeiros meses do ano, 47,7% a mais do que no ano passado. No entanto, terá dificuldades de cumprir as metas do Programa Luz para Todos, segundo informou o diretor financeiro da empresa, Astrogildo Quental. Serão necessários investimentos de R$ 3,5 bilhões a R$ 4 bilhões, que sairão de fundos específicos do setor, formados com recursos arrecadados nas contas de luz. No entanto, a estatal precisa "economizar" R$ 500 milhões dos recursos dos fundos em 2009 para cumprir sua cota de contribuição ao resultado do setor públicos. Os dois objetivos não são conciliáveis, avalia o diretor.

 

O superávit primário é a economia de recursos feita pelos governos e suas estatais para pagar juros da dívida. A Eletrobrás pleiteia ser liberada da obrigação de fazer superávit primário, assim como ocorre com a Petrobrás. Mas essa é uma questão controversa dentro do governo.

 

O Ministério da Fazenda é contra, enquanto os ministérios de Minas e Energia, Casa Civil e Planejamento, são a favor. Foi criado um grupo de trabalho para analisar o problema.

 

Outra estatal que enfrenta entraves é a Infraero. No ano passado, boa parte dos investimentos sob sua responsabilidade ficou parada por causa de questionamentos levantados pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

 

Os auditores encontraram preços superfaturados. A empresa informou que já rescindiu o contrato das obras no aeroporto de Vitória (ES) e está em vias de cancelar também aqueles referentes a Goiânia (GO) e Guarulhos (SP). No caso do aeroporto paulista, estão previstas obras de ampliação e reforma de pistas e pátios de aeronaves. As obras serão licitadas novamente, e só deverão ser realizadas em 2010.

 

CAPITALIZADAS

 

O diretor do Departamento de Coordenação e Controle das Empresas Estatais (Dest), Murilo Barella, ressalta que as estatais realizaram 78,6% de seus investimentos com recursos próprios. "Elas estão capitalizadas", diz. O movimento pode ter sofrido influência também da crise, que tornou as linhas de crédito mais caras.

 

Ele afirma que o ritmo acelerado das estatais tem o efeito de amenizar os estragos provocados pela crise, mas esta já era uma decisão do governo. Desde agosto de 2008, representantes do governo federal nos conselhos de administração das estatais são orientados a cobrar agilidade. A pressa, porém, vem desde o lançamento do PAC, em janeiro de 2007.

 

A Petrobrás, que segundo dados do Departamento de Coordenação e Controle das Empresas Estatais (Dest) já desembolsou R$ 17,357 bilhões, ou 90,6% de tudo o que foi gasto pelas estatais federais no primeiro quadrimestre, nega que tenha acelerado seu programa em função da crise. "O aumento dos investimentos faz parte da estratégia da empresa de se tornar uma das cinco maiores empresas de energia do mundo até 2020", informou a companhia por meio de sua assessoria. No primeiro trimestre, a área de exploração e produção absorveu 50% dos investimentos.

Veículo: O Estado de S. Paulo


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