No dia em que a cotação do dólar caiu abaixo de R$ 2,00, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, deixou bem claro que o governo está disposto a manter o regime de fortalecimento das reservas internacionais. Ou seja, o BC continuará comprando dólares, evitando maior valorização da moeda nacional. Meirelles participou ontem de audiência pública da Comissão Mista de Orçamento, no Congresso Nacional. Ele descartou a hipótese de que seja aplicada alguma medida de controle do câmbio. Defendeu que se for necessário, o governo tomará medida específica que poderia ser o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre fluxo de capital estrangeiro. "Seria um instrumento que poderíamos usar, mas não digo que vamos usar", afirmou o presidente do BC.
Dados oficiais do BC indicam que nos primeiros 15 dias úteis de maio já foram realizadas intervenções de compra no mercado à vista de US$ 2,4 bilhões, o que reverte uma tendência de constantes movimentos de venda de dólares por parte da autoridade monetária entre outubro do ano passado e fevereiro deste ano, com vendas que somaram US$ 14,5 bilhões para evitar maior desvalorização do real. Agora o cenário mudou, admitiu o presidente do BC, embora ressaltando sempre que o País vive sob regime de câmbio flutuante. Em abril, o Brasil enfrentou uma valorização do real de 5,9%. O movimento prosseguiu em maio, com valorização de mais 4% até o dia 22.
"Temos margem para recuperar reservas", afirmou Meirelles no Congresso. Questionado se o volume de reservas internacionais seria adequado às necessidades do País, o presidente do BC admitiu que, no passado, houve projeções que indicavam um excesso de acúmulo de recursos internacionais. "A crise mostrou que esses modelos estavam errados", disse. Meirelles destacou que foram as reservas internacionais que permitiram ao governo oferecer crédito para as exportações no momento crítico da crise internacional, no qual fontes internacionais restringiram o acesso a novos empréstimos. Ressaltou que o BC já destinou US$ 24 bilhões para o comércio exterior. "E não há restrição de oferta."
O presidente do BC argumentou que a recente depreciação do dólar é um fenômeno mundial. Citou que desde oito de maio o real subiu 2,4% e o euro 2,7% em relação ao dólar.
O presidente do BC admitiu que há um aumento no fluxo de chegada de recursos estrangeiros, mas alertou que não é nada excessivo e que esse dinheiro está irrigando a bolsa de valores, o financiamento a empresas e projetos produtivos, por meio de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED). Até 26 de maio, o Brasil já havia recebido US$ 2,5 bilhões em IED no mês, devendo atingir US$ 2,6 bilhões ao final do período.
Sobre a hipótese de um mecanismo de controle das cotações, o câmbio fixo, Meirelles foi determinante ao rejeitar essa possibilidade. "Não existe sucesso na história recente com metas de câmbio", disse, lembrando que em 1999, quando o Brasil ainda mantinha limites mínimos e máximo para o dólar foi preciso elevar a Selic para 45% para conter efeitos das turbulências econômicas internacionais daquela época.
Meirelles destacou também que o Brasil liberou R$ 99,8 bilhões dos compulsórios bancários para irrigar o mercado de crédito como medida de combate aos efeitos da crise e que o juro real de 5,2% que vigora atualmente "é o menor da história".
Veículo: Gazeta Mercantil