O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ontem que a redução nas taxas de juros locais nos últimos anos reflete o ciclo econômico e as mudanças no longo prazo obtidos pela economia brasileira. "O declínio nas taxas de juros que vivemos não é apenas cíclico, é estrutural", informou Meirelles ontem em uma conferência organizada pela Associação Nacional dos Bancos de Investimentos em São Paulo.
O banco central reduziu o índice referencial de taxa de empréstimos três vezes este ano para 10,25%, uma baixa recorde, na tentativa de revitalizar a maior economia da América Latina, afetada pela recessão global. Os legisladores irão reduzir as despesas com empréstimos para 9% até o final do ano, segundo uma pesquisa do banco central com cerca de 100 economistas, publicada toda segunda-feira.
A economia do País irá se contrair 0,5% este ano, segundo revelou a mesma pesquisa. O nível anual de crescimento desacelerou para 1,3% nos últimos três meses de 2008, frente a 6,8% no terceiro trimestre do ano passado .
Meirelles disse que o setor de fundo mútuo do País precisa fazer alguns ajustes para enfrentar as taxas de juros mais baixas.
Historicamente, acrescentou o presidente do Banco Central, a maioria dos participantes do mercado nas economias com mudanças permanentes nas taxas de juros incorporaram a mudança gradualmente.
Carlos Alberto Rebello Sobrinho, superintendente da Comissão de Valores Mobiliários com sede no Rio de Janeiro, disse em uma entrevista na semana passada que se a tendência das taxas de juros mais baixa persistir, haverá uma mudança no setor de gerenciamento de ativos.
Mais de dois terços do R$ 1,2 trilhão (aproximadamente US$ 592 bilhões ) em ativos de fundo mútuo são investidos em títulos do governo, informou Alberto Rebello. As taxas de juros em declínio farão com que os gerentes de fundos transfiram parte de suas holdings de dívida do Tesouro para ações e títulos corporativos, à medida que buscam retornos mais elevados, acrescentou .
Roberto Setubal, principal executivo do Itaú Unibanco Holding, maior banco brasileiro, disse em uma entrevista na semana passada, que as taxas de juros em queda ajudaram a aumentar a demanda por ações. "As pessoas investirão mais em ações à medida que as taxas de juros despencam", explicou Meirelles.
Veículo: Gazeta Mercantil