Incentivos do governo, como a redução do IPI para setores-chave, tiveram papel fundamental nessa recuperação, reaquecendo o mercado interno, levando a indústria a faturar 18% mais em março
Apesar da crise econômica mundial, a indústria brasileira tem o que comemorar hoje, data em que é celebrado o seu dia. Dados recentes da produção industrial, da utilização da capacidade instalada e do faturamento das empresas indicam que o pior já passou e que o segmento assiste agora a um início de recuperação da atividade. Um exemplo foi o faturamento industrial que registrou alta 18,7% em março, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). "Foi interrompida a queda livre pela qual a indústria passou entre o fim de 2008 e o começo de 2009, sob pressão da crise global. Há sinais tênues de que a atividade possa estar evoluindo de forma positiva neste segundo trimestre", afirmou o presidente da CNI, Armando Monteiro.
Apesar da postergação de alguns investimentos previstos para 2009 - tendência que vem sendo verificada ao se analisar a queda de faturamento do setor de máquinas e equipamentos, que é considerado um termômetro dos aportes industriais -, grandes companhias garantem que manterão seus investimentos, principalmente por acreditarem no futuro da indústria e do mercado brasileiro.
Entre elas está a petroquímica Braskem, que chegou a suspender projetos por causa da forte retração de demanda por resinas termoplásticas verificada nos primeiros meses do ano, mas acredita que o investimento planejado para 2009, de R$ 900 milhões, se dará até o final do ano. "Agora estamos com foco em investimento com retorno rápido, como o do plástico verde, mas acho possível manter o investimento previsto", afirmou o presidente da companhia, Bernardo Gradin. Segundo o executivo, aproximadamente dois terços do montante deverão ser investidos no segundo trimestre, "momento em que grande parte do setor industrial aguarda melhoras significativas no mercado".
Concorrente do setor, a Quattor também aposta em um segundo trimestre bastante positivo. "Estou otimista com a retomada consistente em março e abril e também neste início de maio. Os números demonstraram retomada da demanda que é compatível com a demanda final. Agora, as empresas estão sem estoques e nessa hora aparece a necessidade de formar estoques novamente. Essa recuperação poderia ser vista apenas como uma nova formação de estoques, mas, quando observamos cadeias importantes para nossos produtos, vemos que não é apenas isso. Percebemos que o consumo se mantém em um bom nível e que pode ser que haja um movimento de retomada para atender a essa demanda", afirmou o presidente da Quattor, Vitor Mallman.
Mesmo no setor de mineração e siderurgia, cadeia fortemente afetada com a queda da demanda, a sinalização é positiva para os próximos meses. O presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, afirmou que as vendas da empresa devem ser 50% maiores no segundo trimestre, na comparação com o primeiro.
Até o presidente da mineradora Vale, Roger Agnelli - que anunciou corte nos investimentos da companhia para este ano -, afirmou que a empresa deverá chegar a um nível considerado mais "normal" até o final de 2009. "O início de 2008 é que não era sustentável", afirmou Agnelli.
No setor de papel e celulose o clima de otimismo também se apresenta. "Acredito em uma recuperação ao longo deste ano. Esse papel [de tipo office] geralmente cresce de 1 a 1,5 vez o PIB. Se o Brasil tiver um PIB próximo a 0, meu palpite é que teremos crescimento de 1 a 1,5%. Se [o PIB] for 1, podemos superar 2% se comparado com a recessão nos outros países. Isso é extremamente positivo", afirmou o diretor comercial da International Paper, Nilson Cardoso.
BNDES vê retomada
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, disse na semana passada que "o processo de ajustes de estoques [no Brasil] está terminando" e que "a economia brasileira vai surpreender os analistas do FMI este ano", com desempenho melhor que o esperado. Coutinho admitiu que "provavelmente teremos queda do PIB no primeiro trimestre, com recessão técnica, mas, pelo lado da demanda, o desempenho será muito melhor do que pelo lado da oferta, porque conseguimos sustentar o nível de renda", afirmou. "Poucas economias conseguiram fazer um ajuste de estoques tão rápido quanto a brasileira", disse ele. Para o presidente do BNDES, nos próximos trimestres haverá recuperação da produção e do uso da capacidade instalada da indústria, o que levará ao retorno dos investimentos.
Coutinho também afirmou que a recuperação do crédito para as pequenas empresas será fundamental para dar continuidade à recuperação. "Talvez seja o último passo importante da política anticíclica do governo", alertou.
Coutinho notou que a crise não afetou os investimentos em infraestrutura e no setor de petróleo e gás. Segundo os levantamentos do BNDES, o ciclo de investimentos quadrienais em petróleo e gás vai saltar, quando se comparam os períodos de 2007 a 2010 e de 2009 a 2012, de, respectivamente, R$ 183,6 bilhões para R$ 269,7 bilhões.
No total da indústria, empurrada pela infraestrutura e pelo setor de petróleo e gás, os investimentos entre aqueles dois quadriênios devem saltar de R$ 380,2 bilhões para R$ 450,1 bilhões.
Dados econômicos
De acordo com a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde o mês dejaneiro a atividade industrial vem registrando números positivos, com alta de 2,1% naquele mês e mantendo a tendência de alta em fevereiro (+1,9%) e março (0,7%).
Isso indica apenas o início da retomada já que a queda de 12,7% ocorrida em dezembro ainda não foi recuperada.
Esse início da retomada é também confirmado pela CNI em sua pesquisa sobre a utilização da capacidade produtiva, que em janeiro registrou média de 76,3%, mantendo-se estável em fevereiro com 76,5% e subindo para 78,4% em março.
Mas o grande destaque fica para o faturamento da indústria da transformação que se recuperou totalmente da queda de 13% registrada em janeiro ao alcançar resultado positivo de2,4% em fevereiro e pular para 18,7% de alta em março.
Emprego industrial
A indústria - que, no conceito do IBGE para apuração do emprego, inclui os segmentos extrativo e de distribuição de energia, gás e água - praticamente parou de demitir em abril, reduzindo seu efetivo em apenas 0,19%. Mesmo que tal desempenho possa ser considerado negativo, esse percentual não deixa de ser menos desfavorável face às quedas muito mais acentuadas em meses anteriores (-3,2% e -1,5% em fevereiro e março). Na comparação com abril de 2008, a indústria reduziu pessoal em 3%.
Veículo: DCI