O BNDES estuda maneiras de atuar integralmente como um Eximbank tradicional, somando ao financiamento de exportações as atividades de seguro de crédito, operações de garantias e financiamentos, em casos especiais, a importações, confirmou ontem o presidente do banco, Luciano Coutinho. A mudança, que concentraria no BNDES atividades de apoio a exportadores hoje distribuídas por outros órgãos de governo, como a Secretaria do Tesouro, não tem ainda data para ser concretizada, e dependerá de aprovação do Congresso para essa mudança de atribuições, por projeto de lei ou medida provisória, disse Coutinho.
"Foi uma iniciativa do Ministério da Indústria e Comércio, que nos solicitou formatar esse projeto de constituição completa de um Eximbank, uma agência de crédito à exportação, como todos os países têm", comentou Coutinho. "Quando combinado com outros instrumentos, o financiamento à exportação é mais poderoso", defendeu o presidente. O projeto pode resultar em uma subsidiária do BNDES, a depender da "modelagem" da proposta, informou Coutinho.
Em audiência da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o presidente do BNDES informou, ainda, que quer apoiar o financiamento de serviços de educação e saúde prestados por empresas privadas. O BNDES já entrou como cotista de um fundo dedicado a esse tipo de investimento e, se o mercado mostrar-se favorável à criação de novos fundos para esses dois setores, terá colaboração do banco.
A ideia de criação do Eximbank é mais uma das iniciativas do governo para facilitar a vida dos exportadores, que devem sofrer ainda por um bom tempo com a crise internacional e a redução dos mercados, disse Coutinho. No governo, não se cogita o fim das operações do Banco do Brasil no apoio a exportação, com adiantamentos de contrato de câmbio (ACC) e Antecipação de Cambiais Entregues (ACE), linhas de financiamento para produção e para compra de produtos de exportação. O BNDES também reduziu recentemente o custo de suas linhas de pré-embarque (produção para exportação) como maneira de compensar a crise para os exportadores, lembrou Coutinho.
O presidente do BNDES previu que o dinamismo do mercado interno e "decisões autônomas de investimento", poderão garantir um crescimento de "no mínimo" 4% para a economia brasileira em 2010, recuperando-se da queda em 2009, quando o crescimento ficará em 1% ou pouco abaixo disso. "Claro que (o país) pode crescer 6% ou 7%, precisa investir para isso", comentou. As atividades que dependem do setor externo sofrerão dificuldades por mais algum tempo, especialmente as que exigem pesados investimento em capital como siderurgia, indústria automobilística e produção de máquinas e equipamentos para a indústria, previu.
Coutinho repetiu para os senadores o diagnóstico positivo para a economia brasileira que vem defendendo nos últimos dias. O risco Brasil vem caindo consistentemente desde dezembro abaixo da média dos países emergentes, e ficou em 306 em abril, bem abaixo dos 471 da média de outros países com nível similar de desenvolvimento; as principais commodities exportadas pelo país, como soja e minério de ferro, tiveram suas cotações estabilizadas no mercado internacional, e a massa salarial, medida da capacidade de consumo dos assalariados, continuou crescendo, mesmo com a queda de emprego, compensada pelo aumento do salário mínimo e dos salários em alguns setores.
Após listar as medidas do governo e dos bancos oficiais para minimizar os efeitos da contração do crédito, Coutinho mostrou dados para sustentar a tese de que, além do consumo das famílias, que mantém o dinamismo do mercado interno, o país será beneficiado por um ciclo de investimentos de setores que não dependem da conjuntura, como o de petróleo e gás, o setor elétrico, o de telecomunicações e o de logística, todos beneficiados pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Veículo: Valor Econômico