Guilherme Manechini, de São Paulo
Enquanto a produção nacional de equipamentos voltados à construção civil e infraestrutura amarga um recuo de quase 70%, causado pela queda das exportações, o mercado interno deste tipo de máquina está entre os três menos afetados pela crise no mundo inteiro, atrás somente da China e da Índia. Com volume de vendas 23% menor até abril, quando comparado ao mesmo período de 2008, o consumo interno de equipamentos rodoviários, como são classificados, aumenta mês a mês. E entre os principais motivos estão as eleições presidenciais e de governadores em 2010 e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Para o ano, ainda que distante dos resultados apurados em 2008, quando o consumo interno de máquinas rodoviárias - incluídos as importadas - chegou a 17,5 mil unidades, a previsão dos fabricantes é de que o volume de vendas na comparação mês a mês continue em crescimento. As estimativas apontam para um resultado entre 10 mil e 12 mil unidades, um volume semelhante ao verificado em 2007.
O segmento é formado por tratores de esteira, retroescavadeiras, pás carregadeiras de rodas, escavadeiras hidráulicas, caminhões fora de estrada, motoniveladoras, rolos compactadores e skid steers (trator utilizado para pavimentação).
Conforme os dados de abril da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o consumo nacional desses equipamentos cresceu 4% no mês, passando de 1001 unidades em março para 1041 em abril. Na comparação com fevereiro e janeiro, as vendas internas cresceram, respectivamente, 16,6% e 35,7% no período. Em relação ao mesmo mês de 2008, no entanto, a queda é de 29%. Os dados incluem vendas de equipamentos importados, que de janeiro a abril subiram 7,8% sobre o mesmo intervalo do ano passado.
Tal desempenho tem feito os grandes fabricantes mundiais focarem o mercado nacional. A americana Terex estima que a América Latina, onde o Brasil disputa com o México a liderança das vendas da empresa, seja uma das regiões com maior potencial de crescimento nos próximos anos. Com faturamento de US$ 9,9 bilhões em 2008, a companhia projeta que os emergentes, incluindo a América Latina, elevarão em 4 ou 5 anos a participação nos resultados de 23% para 40%. De acordo com André Freire, presidente do grupo na América Latina, o Brasil é o quarto no ranking dos emergentes da empresa. Antes aparecem China, Emirados Árabes e África do Sul.
Na Volvo Construction Equipment a estratégia tem sido o aumento de produtos oferecidos, contando inclusive com máquinas importadas de unidades no exterior. Yoshio Kawakami, presidente da Volvo CE para a América Latina, disse ontem, na M&T Expo, em São Paulo, que seu volume de vendas internas cresceu 13% no primeiro quadrimestre.
Segundo o executivo, pelo levantamento da Volvo, o Brasil ficou atrás somente da China e Índia entre os mercados menos afetados pela crise mundial. No primeiro trimestre, a queda do mercado brasileiro ficou entre 30% e 35%, enquanto na Índia chegou a 22% e na China a apenas 5%. "O recuo no Brasil pode parecer brusco, mas na comparação com a Europa (78%) e Estados Unidos (50%) a situação se mostra bem mais favorável", declarou Kawakami.
Para ele, além do retorno gradual do crédito aos segmentos que compram equipamentos, a proximidade das eleições tem impactado de maneira positiva as vendas de máquinas. "Historicamente, em intervalos de quatro anos, os anos que antecedem as eleições representam maiores vendas no Brasil", disse o presidente da Volvo para América Latina.
Na mesma linha, Sidney Matos, gerente geral da JCB no país, afirma que os anúncios de obras do PAC e do poder público de maneira geral têm feito com que os locadores de equipamentos fechem pedidos. Entre as obras em que a JCB forneceu equipamentos recentemente, Matos destaca a transposição do rio São Francisco e licitação para renovação da frota de Santa Catarina.
O mesmo entusiasmo dos executivos, entretanto, não se repete quando o assunto é exportação, já que muitas empresas, como Caterpillar e Volvo, abastecem outros países com a produção brasileira. Em alguns casos, a participação das exportações na receita chega a 60%.
"Até estamos conseguindo vender no Mercosul, por exemplo, mas os estoques dos distribuidores ainda estão altos", disse Matos, ao informar que as vendas da JCB do Brasil para o exterior recuaram cerca de 50% no acumulado do ano.
Os dados da Abimaq ilustram bem a situação. A queda das exportações de janeiro a abril deste ano contra o primeiro quadrimestre de 2008 foi de 77,4%, enquanto a produção caiu 68%. "Na produção o cenário é muito mais grave, por isso os ajustes feitos na maior parte dos fabricantes que utilizam o país como base de exportação", concordou Kawakami. A Volvo, porém, já registra uma certa estabilidade nos mercados desenvolvidos. A questão agora é saber quando o crescimento a nível mundial será retomado.
Veículo: Valor Econômico