Renata Veríssimo, BRASÍLIA
A indústria ampliou para 79,2% o nível de utilização da capacidade instalada em abril. Foi o terceiro crescimento mensal seguido desse indicador, que estava em 78,8% em março. O setor industrial, porém, ainda amargou em abril uma queda de 1,9% nas vendas, segundo os indicadores divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O nível de emprego no setor caiu 1,1% na comparação com março, o pior resultado dos últimos seis anos. Com isso, a massa salarial recuou 2,9%, sem descontar os efeitos sazonais.
Na avaliação da CNI, os dados de abril interromperam os sinais tênues de recuperação da atividade industrial verificados em fevereiro e março. Para o gerente executivo da Unidade de Política Econômica da entidade, Flávio Castelo Branco, a indústria passa por um período de transição, entre a queda abrupta no quarto trimestre de 2008 e o início da retomada da atividade. Por isso, nos próximos meses os indicadores devem continuar alternando resultados positivos e negativos.
Para o economista, a recuperação de fato ocorrerá no segundo semestre. "Ainda não está solidificado o cenário de recuperação", afirmou. Isso poderá ser percebido quando os indicadores se mostrarem predominantemente positivos em relação ao mês anterior.
Em relação a abril de 2008, as vendas reais, que medem o faturamento da indústria, caíram 10,7%. No acumulado do primeiro quadrimestre, a retração das vendas foi de 8,4% ante o mesmo período do ano passado.
Segundo a CNI, a queda no faturamento também é consequência da valorização de 4,7% do real, que reduz a receita das empresas exportadoras. Essa é a razão da discrepância entre os dados da CNI e do IBGE, que mede a produção física e aponta alta de 1% em abril.
As horas trabalhadas na indústria, indicador mais diretamente ligado à produção, mostraram estabilidade, com recuo de 0,1% na comparação com março. Em relação a março de 2008, houve queda de 10%. No acumulado de janeiro a abril, a retração é de 7,7% ante igual período de 2008.
Para Castelo Branco, o aumento do nível de utilização da capacidade produtiva é um sinal de que pode estar no fim o processo de redução dos estoques. "Aparentemente, esse ciclo está sendo encerrado. Isso é bom porque qualquer melhora futura na demanda será transferida para a produção", avaliou. Segundo a CNI, esse movimento na capacidade instalada reflete o avanço de 1,1% na produção industrial em abril, medido pelo IBGE.
Por setor, há um comportamento heterogêneo na variação da capacidade instalada. Alimentos e bebidas, couro e calçados, veículos automotores, têxtil, borracha e plástico, por exemplo, mostraram melhora em relação a março. Setores como madeira, papel e celulose, materiais elétricos e máquinas e equipamentos reduziram o uso do parque industrial.
Retomada industrial ainda é lenta
Dados de abril da Confederação Nacional da Indústria indicam quadro menos animador que os do IBGE
Fernando Dantas, RIO
A recuperação da produção industrial está ocorrendo em ritmo mais lento do que o antecipado, e pode reativar as pressões sobre o Banco Central (BC) para não reduzir o ritmo de corte da taxa básica, a Selic, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na próxima semana. Os dados industriais de abril, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostram que ainda é cedo para dizer que há retomada (ver página B1), e indicam um quadro ainda menos animador do que os da produção industrial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontam lenta melhora mês a mês.
"A indústria caiu de elevador e está voltando a subir de escada", disse Alexandre Pavan Póvoa, diretor executivo do Modal Asset Management. Ele nota que a queda da indústria no Brasil foi parecida com a ocorrida na China, com uma parada súbita e um forte movimento de desova de estoques no último trimestre de 2008. Mas o economista acrescenta que "a diferença é que a China de fato está tendo uma recuperação em V, com uma reestocagem muito forte no início do ano, ao passo que o Brasil teve uma desestocagem sem reestocagem num segundo momento".
O Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, num relatório divulgado na terça-feira, nota que os primeiros dados de maio não sugerem uma recuperação da indústria num ritmo suficiente para que o cenário básico do banco, de queda de 3,5% no ano da produção industrial, se concretize. Em outras palavras, o mergulho deve ser ainda maior (nos 12 meses até abril, já se acumula um recuo de 3,9%, segundo o relatório).
CONFIANÇA
O Bradesco também aponta a questão dos estoques como um dos entraves à recuperação da indústria. No caso dos bens de capital, que tiveram um crescimento de 2,6% em abril, na comparação dessazonalizada com março, os estoques permanecem elevados. Segundo o relatório, que cita pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), na categoria de bens de capitais, "há mais de três meses que é 0% o porcentual de empresas que consideram seus estoques insuficientes". Outra preocupação do banco é que "se sabe que muito do impulso da produção do setor automotivo nos últimos meses deve-se à redução do IPI".
Pelo lado positivo, que poderia dar base a uma recuperação efetiva no segundo semestre, Póvoa cita a confiança dos empresários, que mostrou alguma melhora, a continuidade do bom desempenho das vendas no varejo e o fato de que, em algum momento, as empresas devem ter que pensar em formar estoques de novo.
Veículo: O Estado de S. Paulo