Meta de inflação de 2011 é questão aberta

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Ministro da Fazenda diz que não há nenhuma posição definida contra fixar um teto inferior a 4,5%
 
 
 
Ao contrário do que ocorreu em 2007, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não tem nenhuma posição fechada contra fixar uma meta de inflação menor do que 4,5% em 2011. "Não há posição fechada, até porque ainda não fizemos nenhuma reunião para tratar do assunto", afirmou Mantega, que participou ontem, em São Paulo, de seminário sobre bancos públicos promovido pelo Valor.

 

Na próxima semana, o Conselho Monetário Nacional (CMN) vai definir a meta de inflação para o ano de 2011, além de decidir se ratifica ou não o objetivo para a política monetária fixado para 2010, estabelecido em 4,5%. Além de Mantega, o CMN é composto pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

 

Mantega argumenta que, hoje, o quadro econômico é bem diferente do que prevalecia em 2007. Por isso, a decisão não é imediata e vai demandar discussão e deliberação dentro do CMN. "O que a gente quer evitar é aquele clima de divisão antecipada entre os membros do CMN", afirma o ministro.

 

Em 2007, diz Mantega, a economia estava num processo de expansão, em virtude dos estímulos monetários produzidos pelo Banco Central em um dos mais longos ciclos de afrouxamento monetário da história recente do país. Além disso, verificou-se mais tarde, a alta internacional de preços de commodities acabou por se constituir em uma pressão adicional para a inflação.

 

Na avaliação do ministro, hoje o quadro é diferente. "A inflação vai ser baixa neste ano", afirmou. A projeção mediana do mercado é um IPCA de 4,3% em 2010, segundo a pesquisa semanal do Banco Central com cerca de cem analistas econômicos.

 

O Banco Central já começa a calibrar a política monetária com vistas a 2010. O mercado financeiro, sobretudo na curva futura de juros, precifica a alta dos juros já no ano que vem. Mantega considera essa leitura inconsistente com o nível atual e projetado de ocupação dos fatores de produção.

 

O consenso do mercado é uma expansão de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010, enquanto analistas mais otimistas projetam percentuais da ordem de 4%. Mantega diz que, com crescimento dessa magnitude, é improvável que haja pressões inflacionárias decorrentes de desbalanços entre oferta e demanda.

 

Para 2011, a projeção dos analistas é uma expansão de 4%, mas Mantega acha provável que a economia atinja um crescimento de 5%. Mesmo com essa taxa mais alta, afirma, não haveria pressões inflacionárias. "Bem antes disso o investimento na economia terá se recuperado, ampliando a capacidade produtiva", diz o ministro.

 

Em 2007, houve uma clara divisão no governo sobre a meta de inflação de 2009. A Fazenda como um todo era contra uma meta menor, enquanto o Banco Central defendia algo abaixo de 4,5%. Hoje, não há sinais de racha tão marcado: entre os técnicos da Fazenda, há quem defenda a redução do objetivo da política monetária.

 

No Banco Central, há entre os técnicos a leitura de que se a meta de inflação fosse menor em 2009, o trabalho da política monetária teria sido um pouco maior. "Obviamente, se tivéssemos uma meta menor em 2009, teríamos passado um calor um pouco maior no ano passado, quando subimos os juros", afirma essa fonte. "Mas poderíamos, agora, faturar facilmente a queda na inflação provocada pelo alto nível de ociosidade da economia", completa.

 

Entre os técnicos do Ministério da Fazenda existe a leitura de que, em 2007, havia uma incerteza maior sobre como a economia iria reagir diante de um eventual período de estresse. A crise aconteceu, de fato, a partir de setembro de 2008, e o regime de metas de inflação sobreviveu relativamente bem a esse teste, que incluiu uma forte depreciação da moeda.

 

Uma das vantagens de reduzir a meta é, segundo a visão de uma fonte da área econômica, abrir espaço para o país trabalhar com taxas nominais de juros mais baixas, agora que a Selic já se encontra em um dígito e testa patamares mais baixos. Segundo esse cálculo, seria difícil ter permanentemente juros básicos mais baixos se, em tese, as metas atuais permitem que a inflação oscile entre um mínimo de 2,5% e um máximo de 6,5%, com um ponto central em 4,5%.

 

As possibilidades teóricas a serem avaliadas na próxima reunião do CMN são várias. Uma delas é deixar a meta no nível que está, em 4,5%, pelo sétimo ano seguido. A outra opção seria baixar a meta. Poderia ser um movimento menor, para 4,25%, indicando que o país busca um patamar mais baixo de inflação no longo prazo, ou um ajuste um pouco menos gradual, para 4%. Há, em tese, também a possibilidade de reduzir o intervalo de tolerância do regime de metas, hoje de dois pontos percentuais para cima e para baixo.
 


Veículo: Valor Econômico


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