Setores direta ou indiretamente relacionados aos diferentes programas e pacotes adotados pelo governo federal dentro da política anticrise sentiram mais rápido a recuperação e também têm planos mais expressivos para o segundo semestre. A produção de veículos automotores em maio foi 65% maior que a de dezembro do ano passado, enquanto o segmento de máquinas e aparelhos elétricos e eletrônicos (onde se inserem alguns itens da linha branca) teve recuperação de produção de 13% na comparação entre maio e março, último mês antes da adoção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido para alguns bens do setor.
A Moto Honda da Amazônia foi uma das empresas favorecidas pela isenção da Cofins (3%) sobre as vendas de motos. No segundo trimestre, a divisão da Honda registrou crescimento de 60% em produção e de 15% em vendas, na comparação com o primeiro trimestre, de acordo com o diretor comercial, Roberto Akiyama. "O segmento de motocicletas normalmente apresenta no segundo semestre um desempenho melhor do que no primeiro. E a prorrogação do benefício fiscal reforçou a expectativa de que o segundo semestre possa ser melhor que o primeiro", afirma Akiyama.
Ainda assim, a empresa fechou o semestre com queda de 30% na produção em relação ao mesmo intervalo do ano passado. Em vendas, a queda foi menor, de 20%. Para o segundo semestre, a empresa projeta aumento de 20% em produção e vendas, em comparação com os seis primeiros meses do ano. No ano, a previsão é de queda de 5% em vendas e de 15% em produção. "A diferença deve-se ao processo de regularização dos estoques", observa o diretor comercial.
No polo de Manaus, que concentra indústrias de duas rodas e de eletroeletrônicos, houve recuperação na produção e nas vendas ao mercado interno, segundo o assessor econômico da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Gilmar Freitas. "A produção de eletroeletrônicos, celulares e motocicletas tiveram recuperação, mas insuficiente para repetir o desempenho de 2008", diz. Ele espera para o segundo semestre melhora mais robusta, podendo a indústria local encerrar o ano com crescimento zero.
A LG encerrou o semestre com expansão significativa das vendas de TV, segmento que não recebeu incentivos tributários diretos. "O segmento não sofreu com a crise. A suspeita é de que os consumidores preferiram poupar investindo em mais lazer dentro de casa", avalia a gerente de televisores da LG, Fernanda Summa. A proximidade da Copa de 2010 também estimulou a compra de aparelhos, diz. Citando dados da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), ela observa que, de janeiro a maio, houve crescimento de 63% nas vendas de aparelhos LCD, 34% no caso de TVs de plasma e de 35% no caso dos aparelhos com tecnologia "slim". Juntos, os três itens respondem por 85% do mercado de televisores no Brasil. Fernanda não informa o volume de vendas da LG, mas garante que a empresa cresceu acima da média do mercado. Para o segundo semestre, ela prevê expansão mais significativa das vendas, graças à aproximação da Copa.
Outro setor com recuperação mais recente é o de mobiliário, com produção ainda 12% inferior a de setembro, mas já 4,5% maior que a de dezembro. "Não quero mais lembrar do primeiro semestre", diz Antonio Carlos de Oliveira, diretor comercial da Santos Andirá, fabricante de móveis de Andirá, Norte do Paraná. A empresa deve fechar os primeiros seis meses do ano com queda de 18% nas vendas, na comparação com igual período de 2008. O principal culpado foi o mercado externo, que responde por cerca de 10% das receitas: os embarques caíram 50%. No Brasil, a queda foi de 15% de janeiro a junho. Olhando pra frente, a empresa montou o planejamento estratégico para a segunda metade de 2009 e, para ela, prevê aumento de 5% nas vendas em relação a julho a dezembro do ano passado. Antes da revisão para baixo, era esperado crescimento de 15% no período.
Oliveira explica que, mesmo que alcance a nova meta, a Santos Andirá deve fechar o ano com redução de cerca de 10% no volume de vendas. A mesma perspectiva vale para o conjunto da indústria. No acumulado de 12 meses até maio, a produção industrial caiu 5,1% e a expectativa de consultorias como Rosenberg & Associados e LCA Consultores é de uma retração entre 6% e 6,5%.
A Battistella Florestal, empresa que abastece indústrias dos segmentos moveleiro, papeleiro e da construção civil, conseguiu no semestre manter o volume e a receita de igual período de 2008. O presidente do grupo Battistella, Gérson Schmitt, explicou que o resultado foi puxado pela construção civil, que vive bom momento. Ele acredita que o moveleiro também deve reagir, porque vai pegar carona na construção. "Temos uma boa base de clientes e, se um não vai bem, o outro vai", disse. "A facilidade de migrar na cadeia nos dá vantagem", acrescenta.
Veículo: Valor Econômico