Pela primeira vez na história, o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) encerrou o primeiro semestre com deflação, de 1,04%. O indicador começou a ser apurado em 1944. Depois de dois meses positiva, a taxa voltou a ficar negativa em junho, em 0,32%, no piso das expectativas de instituições financeiras ouvidas pelo serviço AE-Projeções, da Agência Estado. Em 12 meses, o IGP-DI acumulou 0,76%.
Os produtos industriais no atacado puxaram a queda, com deflação de 0,97% em junho e 4,39% no primeiro semestre. Foi a única deflação do setor para períodos de janeiro a junho na série histórica, iniciada para esse grupo específico em 1969. Em 12 meses, a queda acumulada é de 0,43%.
"Para períodos de 12 meses, os produtos industriais no atacado só tiveram deflação em janeiro a dezembro de 1998, de 0,2%", disse o coordenador de análises econômicas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros.
Ele entende que a queda dos preços indústrias em junho é um efeito defasado da crise. "É a adequação de preços, como o diesel e o minério de ferro, a uma situação trazida pela crise meses antes."
Quadros avalia que, em junho, a queda de 12,91% nos preços do minério de ferro e de 5,82% do óleo diesel, associadas à valorização do real, explicaram a volta do IGP-DI às taxas negativas. No dois meses anteriores, o IGP-DI subiu 0,04% em abril e 0,18% em maio.
O índice de junho não significa que a expectativa de retomada da atividade econômica não esteja fazendo efeito nos preços, mas sim que o câmbio, o minério e o óleo diesel pesaram mais. Juntos, minério de ferro e óleo diesel contribuíram com -0,40 ponto porcentual para o principal componente do IGP-DI, o Índice de Preços por Atacado (IPA).
Com isso, o IPA, aprofundou a deflação de 0,10% em maio para 0,64% em junho, acumulando -2,90 em 2009 até junho. Os produtos agrícolas, porém, tiveram alta de 0,34% em junho e 1,56% no semestre.
Os outros dois componentes do IGP-DI mostraram taxas positivas, mas desaceleraram. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) passou de 0,39% em maio para 0,12% em junho. O núcleo do IPC recuou de 0,37% para 0,23%.
"A redução do núcleo foi grande e indica que a desaceleração no varejo foi generalizada", disse Quadros. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) de 1,39% em maio, passou a 0,70% em junho.
Quadros prevê deflação no IGP-DI também este mês. Há "boas chances" de acontecer o mesmo com o índice acumulado em 12 meses até julho, já que até junho o resultado ficou em 0,76%, incluindo alta de 1,12% de julho de 2008, que sairá da conta na próxima divulgação.
O economista acredita que o índice continuará em queda em julho pelos mesmos motivos do mês passado, menos pelo câmbio e com influência maior do minério de ferro. "São esperadas reduções de 35% a 45% nos preços do minério de ferro em dólar, e consideramos os preços em reais", afirmou Quadros.
NÚMEROS
0,97% foi a deflação dos produtos industriais no atacado em junho
4,39% foi a deflação dos produtos industriais no primeiro semestre
0,43% é a queda acumulada para o setor nos últimos 12 meses
0,76% é a inflação medida pelo IGP-DI nos últimos 12 meses
Veículo: O Estado de S.Paulo