A produção industrial cresceu pelo sexto mês consecutivo e encerrou junho com incremento de 0,2% em relação a maio, feitos os ajustes sazonais. Com esse resultado, a indústria encerrou o segundo trimestre com expansão de 3,4% sobre os três primeiros meses do ano, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Das quatro categorias analisadas, três apresentaram crescimento em junho. A maior expansão ocorreu no grupo de bens de capital, de 2,1%, o que foi apontado por economistas como um sinal de recuperação do investimento. No trimestre, a categoria acumulou aumento de 5,5%.
Os grupos de bens intermediários e bens de consumo duráveis também apresentaram resultado acima da média no segundo trimestre, com variação positiva de 7,8% e 65,5%, respectivamente. Em junho, a produção de bens intermediários aumentou 0,7%, e a de bens de consumo duráveis, 0,4%. Dos 27 setores avaliados pelo IBGE, 13 apresentaram avanço. As maiores taxas foram verificadas na indústria extrativa (5,3%), em veículos automotores (2,6%), outros produtos químicos (2,9%) e na metalurgia básica (2%).
"Existe uma tendência de recuperação lenta, mas sustentável, com melhora também em bens de capital, que é o último setor a reagir no pós-crise", observou o economista do Santander, Cristiano Souza. Ele observou que a expansão do emprego formal ocorreu com salários menores, o que contribuiu para a desaceleração na renda e na demanda. E considerou ainda que as medidas fiscais para estimular as vendas de automóveis, materiais de construção e linha branca tiveram seu peso diluído com a prorrogação dos prazos.
Souza citou ainda o Índice Gerentes de Compras (PMI) do banco, que apontou estabilidade em julho ante o mês anterior. O índice ficou em 48 pontos em julho, contra 48,1 pontos em junho. O indicador de produção ficou em 49,8 pontos, ante 50,2 pontos em junho. O resultado foi associado a uma desaceleração lenta na demanda interna e a uma melhora mínima nos pedidos de exportação. Para o ano, o Santander projeta queda de 7% na produção industrial brasileira, com expansão mais significativa a partir de agosto.
O estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, projeta expansão de 3% a 3,5% na produção industrial do terceiro trimestre, em comparação com o segundo. "Diferente do que ocorre nos países da Ásia, não tempos poupança interna, então fica mais difícil aquecer a economia. A recuperação tende a ser mais lenta que nos países asiáticos, determinada pela fraqueza da demanda externa e por uma demanda interna que vai continuar perdendo força", afirmou Lintz, que projeta recuperação da indústria nos próximos meses, mas insuficiente para reverter uma queda no ano de 9,5%.
Surpreendeu negativamente os economistas o desempenho da categoria bens de consumo semiduráveis e não duráveis. O grupo foi o único a apresentar queda em junho, de 2,6% em relação a maio. As principais pressões negativas vieram de alimentos (5,4%), da indústria farmacêutica (4,9%) e de outros equipamentos de transportes (4,4%). Com tal desempenho, a produção no segundo trimestre cresceu abaixo da média, ficando em 3,3%. Para a analista da Tendências Consultoria Integrada, Ariadne Vitoriano, a queda foi resultado do enfraquecimento da massa salarial e também um ajuste do consumo em função da expansão dos bens duráveis, que em junho cresceram 0,4%. "Enquanto não há uma expansão mais forte da demanda interna, o crescimento da indústria continuará limitado", afirmou a analista. A Tendências prevê para o ano queda de 8,7% na produção industrial.
Para a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara, o resultado de junho foi dentro das expectativas, com ajuste na produção de não duráveis. "O setor vinha crescendo muito e houve um redirecionamento do consumo para duráveis, sobretudo veículos", afirmou. Ela projeta para o segundo semestre recuperação lenta e, para o ano, queda de 6% a 6,5% na produção total. De janeiro a junho, a produção caiu 13,4% em relação a 2008, a maior da série do IBGE iniciada em 1975. (CB)
Veículo - Valor Econômico