Apesar da alta das vendas em junho, CNI registra pior semestre desde 2003
O primeiro semestre de 2009 apresentou o pior resultado da indústria de transformação para o período, desde o início da série histórica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em 2003. Segundo o gerente executivo da unidade de pesquisa da entidade, Renato da Fonseca, "o tombo provocado pela crise foi muito forte". Os números de junho, no entanto, mostram um início de recuperação "incipiente e lenta". "Há alguns indicadores de retomada. Mas não dá para afirmar que há um crescimento sustentado."
O faturamento real na indústria aumentou 1,6% em junho em relação a maio, com os ajustes sazonais. Esse indicador cresceu em quatro dos seis primeiros meses deste ano, o que mostra um início de recuperação. Mas na comparação com junho de 2008 ainda há uma queda expressiva, de 5,8%, o oitavo recuo seguido na comparação com igual mês do ano anterior. No acumulado do primeiro semestre, a queda chegou a 7,7% ante o mesmo período de 2008.
O indicador de horas trabalhadas cresceu 0,2% em junho ante maio. Na comparação com junho de 2008 houve recuo de 9,5%, acumulando queda de 8,4% no primeiro semestre. "Alta de 0,2% é quase estabilidade. Só saberemos se a produção realmente está crescendo se essas altas, mesmo pequenas, se repetirem nos próximos meses", afirmou Marcelo de Ávila, economista da CNI.
Embora o faturamento e as horas trabalhadas tenham crescido, o emprego, a massa salarial e o nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) recuaram em relação ao mês de maio. A utilização do parque fabril interrompeu em junho um movimento de crescimento dos quatro meses anteriores. O Nuci foi de 79,3% em junho, com os ajustes sazonais, o que significa queda de 0,5 ponto porcentual em relação a maio. Em junho de 2008, o indicador era de 83,1%.
Ávila destacou que a média da utilização da capacidade instalada nos primeiros seis meses de 2009 foi de 78,9%, muito abaixo da média dos cinco últimos anos - todas acima de 80%. Além disso, a utilização do parque fabril em junho está 3,8 ponto porcentual abaixo de setembro de 2008 (83,1%), quando começou a fase mais grave da crise.
O emprego caiu 0,2% em junho ante maio, a oitava redução consecutiva. Segundo a CNI, esse é o período mais longo de queda no emprego industrial desde o início da série histórica. Ávila ponderou, no entanto, que há sinais de recuperação, já que a queda vem perdendo intensidade nos últimos dois meses.
"Tudo indica que o ajuste no mercado de trabalho está chegando ao fim", disse. Ele espera que o indicador de emprego apresente uma elevação nos últimos meses do ano. Em relação a junho de 2008, a queda foi de 4,5% e, nos primeiros seis meses do ano, o indicador recuou 2,8% sobre o mesmo período do ano passado.
A massa salarial teve queda de 2,9% em relação a junho de 2008 e de 1,7% no acumulado dos primeiros seis meses de 2009. Renato Fonseca lembrou que a renda das famílias não foi afetada de imediato com a crise, mas agora os indicadores mostram uma queda que pode afetar o consumo e atrapalhar o processo de recuperação econômica. Ele avaliou, no entanto, que a redução no rendimento está sendo compensada pela queda da inflação, o que pode garantir o poder de compra em um momento de retomada da demanda.
Fonseca disse que o resultado da indústria em 2009 certamente será pior do que o de 2008, apesar da expectativa de recuperação da produção industrial no segundo semestre. "A recuperação não deve ser tão forte a ponto de compensar os efeitos da crise", afirmou.
Dos 19 setores pesquisados pela CNI, apenas 6 apresentam no primeiro semestre aumento no faturamento em relação ao mesmo período do ano passado: alimentos e bebidas, vestuário, papel e celulose, edição e impressão, refino e álcool, minerais não metálicos e outros equipamentos de transportes. No indicador de horas trabalhadas, apenas dois setores tiveram no primeiro semestre resultado melhor que em 2008: móveis e refino e álcool.
Veículo: O Estado de S.Paulo