Conjuntura: Nova pesquisa desenvolvida pela FGV dará a analistas medida mais confiável sobre atividade do setor
Os analistas econômicos exageraram nas projeções sobre a desaceleração da economia brasileira em 2009 devido à falta de uma medida confiável que mostrasse o que estava acontecendo com o setor de serviços. O Banco Central quer evitar que isso volte a ocorrer e, por isso, firmou convênio com a Fundação Getulio Vargas (FGV) para construir um indicador dos serviços, nos moldes do que é feito na sondagem industrial.
A expectativa é que até 2010 os trabalhos já estejam avançados, o que tornaria possivel a divulgação de um indicador, que, entre outros dados, traga informações sobre a produção, contratação de mão de obra, preços e condições de acesso a crédito nos serviços. Ao contrário da sondagem industrial, porém, a nova pesquisa só não mediria o uso da capacidade utilizada, que no caso dos serviços é mais difícil de mensurar. Nesse setor, o indicador universal de uso de capacidade instalada é a taxa de desemprego, já que a mão de obra é o principal insumo dos serviços.
No início do ano, os analistas do mercado financeiro estavam pessimistas sobre o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), em parte porque erraram nas estimativas sobre os serviços. Tradicionalmente, o mercado projeta os serviços com base no desempenho da indústria, com um ajuste pelo crescimento demográfico da população. Essa metodologia se baseia na leitura de que o setor de serviços é puxado pela indústria, considerado o motor da economia.
O BC tem chamado atenção, porém, que a economia passou por uma mudança estrutural nos últimos anos. Os serviços, hoje, respondem por cerca de 60% do PIB e, de forma geral, têm dinâmica autônoma da indústria. Há serviços que até funcionam como motor da economia, puxando a atividade industrial. É o caso, por exemplo, de telecomunicações, que demanda equipamentos de telefonia, ou atividades de informática, que demandam computadores.
Nessa crise, os serviços mostraram que têm dinâmica própria, com um avanço de 1,7% no primeiro trimestre, enquanto a indústria sofria retração de 9,3%. Depois que saíram os dados do PIB do primeiro trimestre, com a surpresa dos serviços, os analistas passaram a rever as projeções de crescimento da economia para o ano, contando com um desempenho um pouco menos desfavorável. O BC foi um dos únicos a acertar, pelo menos no que diz respeito aos serviços, graças à grande rede de economistas da instituição, que chega a quase 200, e à coleta de dados regionais.
O erro do mercado teve consequências práticas na economia. Surpresas sobre a trajetória de crescimento fazem o mercado rever para cima as suas projeções para a inflação, já que o PIB é um dos principais insumos nas estimativas sobre a evolução dos índices de preços. Com projeções de inflação mais altas, o BC tem menos espaço para cortar a taxa básica de juros.
O indicador da FGV será o que, no jargão dos economistas, se chama de indicador coincidente de alta frequência. Coincidente porque irá indicar a temperatura do que já aconteceu no setor de serviços (se previsse o que vai acontecer, seria um indicador antecedente). Alta frequência porque, ao contrario do PIB, que é divulgado trimestralmente e com defasagem de mais de dois meses, o indicador poderá ser divulgado algumas semanas depois de fechado cada mês.
Veículo: Valor Econômico