Conjuntura: Com uma desaceleração generalizada de preços, índice registra menor inflação desde agosto de 2006
A desaceleração dos preços medidos em agosto pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi generalizada, com destaque para o leite pasteurizado e as tarifas de energia elétrica. Entre os nove grupos pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas três registraram preços em alta entre julho e agosto, enquanto quatro grupos apresentaram deflação. No mês passado, o IPCA ficou em 0,15%, menor taxa desde agosto de 2006 (0,05%).
A coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, destacou que os alimentos continuam sendo a âncora da inflação, compensando aumentos de preços em outros grupos. Em agosto, o destaque foi o leite pasteurizado, que recuou 6,61%, ante uma alta de 4,02% no mês anterior. As carnes recuaram 0,81%.
"A estimativa para este ano é de uma safra 8% menor que a do ano passado, que foi recorde. Ainda assim, a colheita esperada é muito grande e, como há limitação à exportação devido à crise, vários produtos exportáveis, como as carnes, estão com preços em queda", explicou Eulina.
A técnica do IBGE destacou ainda o grupo habitação, que passou de avanço de 1,11% em julho para crescimento de 0,47% em agosto. A principal causa para a desaceleração foi o fim do impacto do reajuste de energia elétrica em São Paulo, que pressionou o grupo para cima em julho. Entre os impactos de alta em agosto, destaque para o grupo educação, que passou de 0,11% em julho para 0,83% em agosto, fruto da nova coleta feita no setor depois da primeira medição, no início do ano letivo.
No acumulado do ano, a taxa de 2,97% do IPCA também foi influenciada pelos alimentos, que apresentam variações mais comportadas desde o início da crise internacional. Entre janeiro e agosto, o grupo alimentação e bebidas subiu 2,56%, puxando para baixo o IPCA. Entre os 22 principais impactos de alta nos oito primeiros meses do ano, apenas seis têm ligação com a alimentação. O maior impacto veio dos cursos formais, com alta de 5,94% entre janeiro e agosto e contribuição de 0,29 ponto percentual para o IPCA do ano.
A taxa acumulada pelo IPCA em 12 meses, de 4,36%, representou o menor patamar para esta comparação desde os 4,19% registrados em novembro de 2007. Foi ainda a primeira vez que o acumulado do índice em 12 meses ficou abaixo do centro da meta de inflação, de 4,50%, desde os 4,46% observados em dezembro de 2007.
Segundo Eulina, a partir do mês que vem as taxas que serão substituídas no acumulado em 12 meses já serão taxas influenciadas pelos efeitos da crise internacional. Na época, a restrição dos mercados externos contribuiu para uma redução dos índices de inflação, trajetória que continuou no primeiro semestre deste ano. Na prática, o acumulado em 12 meses até agora era influenciado pela troca de índices mais altos - ainda sob o efeito do aquecimento mundial pré-crise - por taxas mais baixas.
"As taxas que serão abandonadas agora serão taxas menores, já influenciadas pela crise", explica Eulina. "Estamos entrando na entressafra, temos problemas de clima. Há ainda muitas variáveis", avalia.
Veículo: Valor Econômico