PIB cresce 1,9% mas pacotes ameaçam futuro da economia

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O Brasil deve começar a pagar, no pós-crise, a conta das medidas que tomou na atuação contra os efeitos da turbulência financeira mundial. Redução de impostos, corte nos juros e a injeção de recursos para estimular a economia terão custos para o País, prevêem analistas. "Em economia, uma regra básica é que não existe almoço grátis", afirma o economista da Tendências Consultoria, Felipe Salto. "A estratégia fiscal escolhida pelo governo vai cobrar o seu preço", acrescenta.

 

Na prática, o custo de juro baixo, por exemplo, pode ser o Banco Central precisar elevar a Selic mais à frente. Do ponto de vista fiscal, a política escolhida ampliou os gastos rígidos e como consequência o Brasil deverá conviver por mais um bom tempo com carga tributária elevada. "Todo o dilema gerado pela política anticíclica do governo poderia ser resolvido na seara fiscal", afirma Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores. Segundo ele, porém, não há certeza de que o aperto fiscal a ser feito em 2010 será suficiente.

 

Apesar dos obstáculos impostos pelas ações tomadas, analistas concordam que as ações anticíclicas ajudaram a recuperação mais rápida do País. Na semana passada, isso ficou confirmado na divulgação do resultado Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, que avançou 1,9% em relação ao primeiro, tirou o Brasil da recessão e fez com que a economia brasileira retornasse ao patamar observado no primeiro trimestre de 2008, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

"O resultado do PIB do segundo trimestre de 2009 mostra que saímos do fundo do poço e revela que essa saída foi rápida", frisa Borges. "Mas ainda temos um caminho a trilhar. A recuperação dos setores da economia foi heterogênea, precisamos ver a franca recuperação em todos os setores. Além disso, o consumo familiar puxou o resultado, porque pesa 60% sobre o PIB", explica Borges.

 

O economista da LCA diz ser preciso observar o comportamento dos investimentos. "Eles pararam de cair - o movimento de queda aconteceu do último trimestre de 2008 ao primeiro de 2009 -, mas é preciso que haja uma reação para sustentar o crescimento ao longo de 2010 e 2011", destaca. Segundo estimativa da LCA, o País deixou de crescer, a economia brasileira deverá fechar este ano até R$ 138 bilhões menor do que era previsto pelo mercado antes da crise. "É preciso monitorar o terceiro trimestre. A puxada do PIB veio pelo consumo, porque a ociosidade é grande, já que os investimentos demoram a reagir", afirma.

 

Amanhã completa um ano a falência do banco Lehman Brothers e a queda generalizada nas principais Bolsas de Valores do mundo, conhecidos como o marco do início da crise global. Diante das dificuldades criadas globalmente, "o Brasil não sentiu todo o maremoto, mas também não foi uma marola, e conseguimos sair pelo menos mais rápido do que outros países", diz o professor de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) Fábio Gallo.

 

"Estamos bem defendidos", avalia o Keyler Carvalho Rocha, professor de Finanças da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP). "O Brasil contou com o fator sorte. Foi pego em situação confortável, porém é preciso lembrar que não apenas nossa economia melhorou, as economias do mundo pioraram", destaca Rocha. O professor da FEA chama a atenção para o déficit fiscal gerado com a redução de tributos e entrada de recursos do governo na economia. "Mas, em razão das eleições, 2010 será um ano ruim para se observar a redução de gastos", diz.

 

Mesmo tendo de lidar com as consequências do pós-crise, a aposta ainda é que o Brasil se sairá bem. "O cenário aponta para juro estável e recuperação da atividade industrial e do consumo. Essas premissas indicam a volta do crescimento, e a expectativa é de que 2010 seja um ano próspero", afirma Nicholas Barbarisi, executivo da Hera Investment. "O principal desafio que se impõe para o Brasil será o de acompanhar a economia mundial, que deve dar sustentação ao nosso crescimento", diz. Além disso, Barbarisi prevê que a velha agenda das reformas, entre as quais a tributária, volte a ser acionada.

 

A maior crise econômica em mais de 70 anos completa um ano hoje, com boas notícias para o Brasil. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou sexta-feira variação positiva do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre. Em relação aos três primeiros meses do ano, a economia brasileira avançou 1,9%. Na comparação com o segundo trimestre de 2008, houve uma retração de 1,2%.

 

Mas ainda há ameaças à economia brasileira. No cenário global persistem incertezas, principalmente em relação aos Estados Unidos e a suas "armadilhas", que podem trazer a turbulência de volta ao planeta, Brasil incluído.

 

As medidas tomadas pelo governo brasileiro durante a crise, como a redução de impostos para automóveis e linha branca, impulsionaram o consumo interno, principal fator de crescimento do PIB. Mas analistas acreditam que o País ainda vai pagar o preço pelas medidas tomadas, principalmente durante o próximo governo.

 

Outro ponto que merece atenção é o baixo nível de investimentos, que caiu 17% em relação ao segundo trimestre do ano passado, atingindo a menor taxa da série histórica do IBGE começada em 1996.

 

Segundo Braúlio Borges, economista-chefe da consultoria LCA, a economia deve fechar este ano R$ 138 bilhões menor que a previsão.

 

No front externo, o temor é de que os déficits gêmeos (fiscal e comercial) dos EUA tragam de volta a inflação.

 

Veículo: DCI


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